Teto de vidro: a luta das mulheres ainda não acabou
Por Marjorie Wartanian
A ascensão do feminismo transformou a vida de muitas mulheres, dando a elas novas perspectivas e sonhos. O horizonte feminino aumentou e já podemos ouvir a famosa frase “Terra à vista” de dentro do nosso barco – que um dia pareceu estar afundando. O empoderamento realmente está – aos poucos - ganhando dimensões maiores. Contudo as mulheres ainda sofrem com empecilhos que lhes tiram do topo ou que lhes dão a sensação de incapacidade mesmo em cargos altos.
As mulheres sempre foram prestigiadas por serem sombras do marido, quem nunca ouviu a frase “por trás de um grande homem tem sempre uma grande mulher”!? Durante muito tempo divisão de tarefas sempre foi a mesma: o homem trabalha fora de casa e a mulher cuida do lar, ou seja, ele trabalha e é remunerado e ela trabalha gratuitamente. Assim, as mulheres foram ensinadas a estarem sempre atrás e cuidando de seus maridos; todos aprenderam a viver desse modo. Até que elas começaram a viver infelizes – principalmente as que investiram em seus estudos – por serem vistas sempre como sombras do “chefe da casa”, instituído pelo patriarcalismo.
A frustração feminina teve seu ápice nas décadas de 80 e 90, quando as mulheres perceberam que mesmo dentro do mercado do trabalho continuavam como sombras dos homens – agora, não só como do marido, mas também dos homens do meio corporativo. Elas dificilmente chegavam aos mesmos postos que eles e quando chegavam não se sentiam devidamente capazes e valorizadas. Era como se uma barreira invisível lhes parasse. Ela realmente parava – e ainda para –, essa barreira era o chamado Teto de vidro.
O teto de vidro
O teto de vidro é um conceito usado desde a década de 80 e tem esse nome por ser uma barreira sutil – de tão sutil se torna transparente – que dificulta a ascensão de mulheres aos cargos mais altos. Essa nomenclatura foi criada pela pesquisadora Ann Morrison - autora do livro “Quebrar o teto de vidro” - e foi usada pela primeira vez no Wall Street Journal, em 1986.
Apesar da existência do discurso de que as mulheres ganharam mais espaço no mercado de trabalho, quando isso é analisado dentro das empresas percebe-se que a mudança é mínima. Elas ganharam importância em diversas áreas diferentes mas ainda continuam como sombra dos homens - pois eles estão lá, acima do teto, e elas só enxergam seus pés. Para confirmar isso, o pesquisador Danilo Coelho afirma, em um capítulo de uma pesquisa chamado Ascensão profissional de homens e mulheres nas grandes empresas brasileiras, que “No universo dos trabalhadores com carteira assinada, 39% são do sexo feminino e situam-se em nível educacional médio mais elevado do que a contraparte masculina. Entretanto, nas grandes empresas privadas da indústria de transformação brasileira, onde os salários estão bem acima da média, as mulheres representam apenas 23% do total de empregados”. - dados referentes a 2004. Com números concretos podemos perceber que as mulheres trabalham, mas não chegam lá. O teto de vidro está diariamente parando alguma mulher muito capaz de ocupar um cargo alto. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2009 as mulheres ocupavam apenas 30% dos cargos empresariais altos no Brasil e 5% deles na América Latina.
Essas pesquisas demonstram e ajudam a sociedade e entender que as mulheres são menos escolhidas pelos empregadores. Nessa âmbito, fenômeno do teto de vidro explica que os empregadores supõe que as mulheres são menos capacitadas que os homens. Assim, elas são sempre subestimadas no mercado e tem que sempre ter um diferencial a mais que os homens, as mulheres precisam “se provar” muito mais que os homens. Tal necessidade é histórica, as mulheres sempre sofreram com o machismo e esse é só mais um reflexo dele na sociedade. O problema é histórico e social e, como todos os outros, leva algum tempo para começar a mudar.
Há ainda o fato de que as mulheres têm uma dupla jornada de trabalho. Elas precisam de dedicar não só ao trabalho fora de casa, mas também ao doméstico. Assim, tem menos tempo e menos prestígio. Os homens têm apenas o trabalho fora de casa, não precisam se preocupar com os cuidados da casa e dos filhos - que normalmente estão sendo cuidados por uma mulher - enquanto trabalham. Elas trabalham fora e dentro de casa e, nos dois locais, são inferiorizadas.
Não se desespere
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Foto por Marjorie Wartanian |
Um fator que “engrossa” o teto de vidro é a desmotivação. Nós, mulheres, somos diariamente desmotivadas a irmos atrás de nossas grandes pretensões, uma vez que somos educadas a ser sombras masculinas, querem que sejamos sombra de nossos irmãos - e ensinam-lhes a mandar em nós -, pais, maridos - que saem para trabalhar e acham que devemos ficar em casa cuidando do lar em que os dois moram - e companheiros de trabalho. A desmotivação causa a sensação de incapacidade, as mulheres precisam fazer sempre mais para terem os mesmos resultados. Então, o que menos precisamos como mulheres é pensar que somos incapazes, já nos dizem muito isso.
Logo, não se desespere, todas as grandes mudanças sociais levaram muitos anos para serem mudadas. Até o início do século passado as mulheres não podiam votar ou ser votadas… até o início do ano passado a Presidente do Brasil era uma mulher. Em um século as mulheres conquistaram alguns direitos - como o de usar calças!!! - e aos poucos terão mais direitos. Já estamos gritando “Terra à vista”, os movimentos feministas estão crescendo, estamos, pouco a pouco, mais próximas da igualdade. As mudanças demoram, mas acontecem.
Baita texto, Marjorie você manda muito!!!
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