O silêncio dos inocentes, versão brasileira: Hospital Colônia
Holocausto brasileiro. Assim ficou conhecida a barbárie que aconteceu em Barbacena (MG), quando 60 mil pacientes psiquiátricos foram vítimas da crueldade do Estado e de dezenas de profissionais da saúde que compactuaram com o tratamento desumano oferecido no Hospital Colônia, durante o século XX.
As vítimas foram violentadas, torturadas, mortas. Elas passavam frio e fome. Não obstante, seus cadáveres foram vendidos para faculdades de medicina e suas ossadas, comercializadas. Os absurdos atingiam homens, mulheres e crianças, considerados “desajustados” por suas famílias. Toda semana o “trem de doido” chegava trazendo homossexuais, epilépticos, prostitutas, meninas grávidas de seus patrões, alcoólatras, crianças com deficiência... Um verdadeiro depósito para todos os tipos de “loucura” que contrariavam os padrões normativos da época. Dentre todos os internados, apenas 30% possuíam, de fato, um diagnóstico de transtorno psiquiátrico.
A história saiu do esquecimento e se perpetuou na literatura brasileira pelas mãos de Daniela Arbex, jornalista e autora do livro "Holocausto Brasileiro" (Geração Editorial, 2013). O livro-reportagem expõe todos os horrores ocorridos no maior hospício brasileiro até seu fechamento na década de 80. Devido ao tremendo sucesso da obra literária, o documentário homônimo foi lançado em 2016 pela HBO, com roteiro e direção da autora. Quando questionada sobre para quem o filme foi feito, Arbex refletiu sobre a atualidade do tema: “Para todos nós, porque ele fala da loucura, mas fala também do preconceito, fala de uma sociedade que permitiu que isso acontecesse porque tem uma cultura higienista, porque compactua com uma ideia de limpeza social, de colocar o que incomoda para debaixo do tapete. O filme é muito atual e fala para a gente acordar, porque a indiferença também gera barbárie. Até hoje temos situações de degradação humana, é só ver como estão as prisões, é só ver como a juventude brasileira é dizimada e não incomoda, porque é a juventude negra e pobre.”
Nada escapa de sua mira: pacientes que eram forçados a comer ratos para não morrer de fome e beber água do esgoto, grávidas que tinham seus bebês vendidos, tratamentos com eletrochoques etc. O grande diferencial, porém, é que a autora procurou retratar todos os lados da história – sobreviventes, filhos de internos, médicos, enfermeiras, freiras que prestavam assistência, ex-diretores do Hospital, moradores locais.
O filme contém cenas fortes que são capazes de deixar o telespectador sem palavras. O maior destaque, no entanto, é a forma emocionante como os sobreviventes conectam o seu passado com o presente, sentindo que pela primeira vez eles têm voz ativa e no destino podem mandar. Parafraseando Chico Buarque, dessa vez a roda-viva não carregará o destino para lá...
Confira as próximas apresentações do documentário no canal Maxprime clicando aqui.
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