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Ascensão da extrema-direita: a Alemanha para os alemães

Por Carolina Avólio    

"Escolher o AfD é tão 1933!" (Foto: I. Wagner)
       Não é difícil imaginar a razão pela qual desde 1945 a Alemanha não via a presença da extrema-direita no âmbito parlamentar. No entanto, esse panorama mudou. No último domingo (24), o Alternativa para a Alemanha (AfD), partido nacionalista de direita, conquistou 13,2%¹ dos votos, representados por 87 parlamentares – o terceiro maior partido das eleições de 2017. 
       Criado em 2013 em protesto contra a União Europeia e seu plano para salvar a Grécia e valorizar o euro, o AfD foi radicalizando sua proposta para atingir mais eleitores e assim chegar ao Parlamento. A ascensão do partido nacionalista alemão se difere de outros países europeus cujos governos penderam novamente para a direita, porque, ao contrário daqueles, a Alemanha se encontra em estabilidade econômica. De acordo com cientistas políticos, metade dos eleitores do AfD simpatizam com a extrema-direita e a outra parte votou em protesto. 
       A política adotada por Angela Merkel, chanceler alemã, abriu espaço para o partido extremista. O abandono do uso de energia nuclear e a suspensão do serviço militar obrigatório, por exemplo, deixaram os mais conservadores com o sentimento de estarem “órfãos”. 


Política anti-imigração e anti-islamismo 


       A grande força impulsionadora do partido é a sua forte política anti-imigração “à la Donald Trump”. Mais de 1 milhão² de refugiados atravessaram a fronteira alemã em busca de uma nova vida, o que causou a retomada da xenofobia: a identidade nacional foi usada como forma de discriminação e os refugiados rapidamente começaram a ser associados à criminalidade. “Vamos recuperar o nosso país e o nosso povo”, disse Alexander Gauland, um dos líderes do partido. Ele defende o fechamento completo das fronteiras, indo contra o acordo de livre circulação da UE. 
       Os membros do AfD acreditam que o islã é incompatível com o ocidente e, portanto, a presença de imigrantes provenientes de países islâmicos é considerada como um risco à cultura alemã. O manifesto do partido tem uma seção inteiramente dedicada à política anti-islamismo e propõe a proibição do financiamento estrangeiro de mesquitas, da burka e do azan, como é conhecido o chamado muçulmano para as orações diárias. Eles também sugerem submeter todos os imãs (líderes religiosos muçulmanos) a um procedimento de verificação pelo Estado. 

Campanha do AfD: "pare a islamização". (Foto: Getty Images)




Mudanças climáticas 

       O partido, novamente na trilha de Donald Trump, acredita que as declarações sobre as mudanças climáticas não possuem estudos precisos o suficiente para serem levados a sério. Portanto, prometeram resistir às políticas internacionais que protegem o meio ambiente. 

A questão judaica 

       O Holocausto deixou marcas permanentes na sociedade alemã. A comunidade judia de todo mundo observou com perplexidade a extrema-direita reascender num país outrora tido como muito seguro para judeus. Coincidência ou não, dados recentes mostram que crimes antissemitas aumentaram 4% nos primeiros oito meses de 2017, em relação ao mesmo período do ano anterior. 
       “É abominável que o partido AfD, um movimento reacionário vergonhoso que repete o pior do passado da Alemanha e deveria ser proibido, agora tenha a habilidade de promover sua plataforma vil no parlamento alemão”, afirmou Ronald Lauder, presidente do Congresso Judaico Mundial. As comunidades judaicas se preocupam com o alto índice de intolerância espalhado pelo partido durante a campanha eleitoral e ressaltam a importância de haver um isolamento político do AfD, o que já foi comentado por Angela Merkel. 
       Fica claro, mais uma vez, que a extrema-direita se alimenta do medo e do ódio. No caso da Alemanha, os refugiados são o alvo principal e a fonte de tanto poder populista. 



¹ Fonte: G1.

² Fonte: El País.

      

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