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Trump enterra sonhos de filhos de imigrantes

Por Roberta Domingues

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Foto: Bryan R. Smith/Getty Images

Em 5 de setembro, Jeff Sessions, procurador-geral dos Estados Unidos, anunciou o fim do programa DACA, que oferece ajuda a imigrantes ilegais que atingem certos padrões. O governo Trump justifica a ação dizendo que esses imigrantes “roubam empregos”, “aumentam os níveis de criminalidade” e fazem com que os americanos nativos sejam prejudicados por esse “sistema injusto”.


Após o pronunciamento de Sessions, centenas se reuniram em frente à Casa Branca para protestar contra o fim do programa. Depois de ataques e confusões, Trump disse que até poderia “repensar” sobre o assunto.

O que é a DACA?

DACA é a sigla para Deferred Action for Childhood Arrivals (Ação Diferida para Chegadas Infantis), e é, nas palavras da Universidade da Califórnia, “uma alternativa mais suave do que a deportação. O propósito da DACA é proteger jovens imigrantes que vieram aos Estados Unidos quando eram crianças. A DACA dá a esses jovens imigrantes sem documentação proteção contra a deportação e um visto de trabalho. O programa tem prazo de dois anos e pode ser renovado”.

Para se candidatar ao programa, o jovem deve possuir vários pré-requisitos, como “ter menos de 31 anos em 15 de junho de 2012”, “ter chegado aos EUA antes dos 16 anos”, “estar na escola ou se formando no Ensino Médio” e “não ter ficha na polícia”. Atualmente são mais de 800.000 beneficiados.

O DACA foi estabelecido durante a presidência de Barack Obama, em 2012. Está inserido no Ato DREAM (Ato para o Desenvolvimento, Assistência, e Educação de Menores Estrangeiros), uma proposta legislativa que surgiu em 2001 e foi várias vezes rejeitada pelo congresso americano, até a administração Obama decretar o DACA e se recusar a deportar os imigrantes que preenchiam os critérios do Ato DREAM. Por esse motivo, os beneficiários do programa são chamados de Dreamers (sonhadores, em inglês).

É importante ressaltar que a DACA não oferece cidadania americana, mas permite que imigrantes vivam, trabalhem e estudem no país sob as condições impostas. Mesmo pagando impostos, os beneficiários não têm acesso a planos de saúde privados e empréstimos, além de outros benefícios. A DACA pode ser renovada indefinidamente, contanto que as condições sejam atendidas.

"O que nos faz Americanos não é uma questão de como nos parecemos, de onde nossos nomes vêm, ou do jeito que rezamos. O que nos faz Americanos é a nossa fidelidade em um conjunto de ideais -- que todos nós somos criados iguais; que todos nós merecemos a chance de fazer o que quisermos das nossas vidas"
Barack Obama, em nota oficial

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Foto: Joe Penny/Reuters

Trump sempre deixou bem clara sua política quanto aos imigrantes, chegando muitas vezes a ser racista ou xenófobo em seus discursos durante sua candidatura à presidência, mencionando até a construção de um muro na fronteira entre México e Estados Unidos. Por isso não é surpresa que um programa como a DACA seja o próximo alvo de sua administração. 


Criado por Obama, o programa vai contra a campanha anti-imigração de Trump, que prometeu “deportar até 3 milhões de imigrantes ilegais”. Entre outros discursos de ódio, o presidente disse que as pessoas que vêm do México são “bandidos” e “estupradores”, mas que “talvez alguns sejam boas pessoas”.

Donald Trump parece ter se esquecido da história dos Estados Unidos, mas não tem problema. Vamos relembrar rapidamente o surgimento do país.

Puritanos, católicos, aristocratas e realistas buscaram refúgio e liberdade de opinião em terras americanas durante as revoluções Puritana (1640) e Gloriosa (1689) ocorridas na Inglaterra e domínios. O livro A Escrita da História, de Flávio de Campos e Regina Claro, descreve o período de tensão religiosa: “A disputa por fiéis levou, ao longo do século XVI, os cristãos de diferentes correntes a se envolverem em diversas guerras (...) Foi o período das chamadas guerras de religião, que incendiaram a Europa (...) e provocaram perseguições políticas e movimentos migratórios de fuga”. Muitos desses perseguidos acabaram por se acomodar no pedaço de terra que hoje forma os Estados Unidos, buscando melhores condições de vida e liberdade política/religiosa/de opinião. A Inglaterra, enquanto metrópole da colônia, também incentivou a imigração para ocupar as vastas terras e impedir invasões e perda de território.

A história dos Estados Unidos começa unica e exclusivamente por causa da imigração, forçada ou incentivada. Um país que nasceu de outros povos deveria ser o exemplo de sociedade aberta e receptiva; infelizmente parece justamente o contrário. Os conservadores repudiam estrangeiros, em especial latino-americanos (os mexicanos com maior ênfase) e árabes (especialmente muçulmanos e/ou de pele escura). Por outro lado, não há tanta xenofobia em relação aos europeus.


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Foto: Spencer Platt/Getty images


Também é válido relembrar o massacre indígena acontecido no país durante a famosa “expedição para o Oeste”. Os Estados Unidos se recusarem a aceitar imigrantes e refugiados não passa de uma contradição; esses mesmos imigrantes que chegaram no século XVI massacraram a população nativa e agora se recusam a abrir as fronteiras.

Esse preconceito só faz com que o país tenha a perder. Inúmeros estudos mostram que imigrantes não cometem mais crimes do que nativos, e bairros que contam com mais imigrantes têm menores taxas de violência. Economistas dizem que a imigração também contribui para a economia e a captação de impostos. No caso da DACA, pesquisas indicam que até 75.000 beneficiados saíram do desemprego, e eles são obrigados pelos termos do programa a pagarem todos os impostos que cidadãos legalizados pagam.

O encerramento da DACA implica em uma série de consequências. A maior parte dos beneficiados é criança ou jovem, e chegou aos Estados Unidos com os pais ou familiares. Os EUA são a única casa que conhecem, e muitos sequer falam outra língua além do inglês. Com a regulamentação dada pelo governo, eles conseguiram empregos melhores e uma vida estável. Tudo isso agora pode vir a ruir. Aqueles que vêm de países em situação de guerra ou miséria simplesmente não têm como voltar.

                                                                      (em inglês)

Punir crianças pelos erros que os pais delas cometeram não é justo. Esses jovens são tão americanos quanto os nascidos lá, e juram lealdade à bandeira como todos os outros cidadãos. O que os diferencia do resto são papéis.

As vidas desses jovens agora estão nas mãos do congresso americano. Outro motivo para ter medo; imigrantes ilegais não podem votar, então as pessoas que estão lá essencialmente não os representam. O congresso tem maioria Republicana desde a posse de Trump, e essas pessoas têm a mesma mentalidade do presidente.

Obama lançou uma nota sobre o fim da DACA: “Colocar essas pessoas [Dreamers] contra a parede é errado — porque eles não fizeram nada de errado. É auto destrutivo, porque eles querem abrir novos negócios, trabalhar em nossos laboratórios, servir no nosso exército, e contribuir para o país que amamos. E isso é cruel. E se a professora de ciências dos nossos filhos, ou mesmo nossa vizinha for uma Dreamer? Para onde deveríamos mandá-la? Para um país do qual ela não se lembra ou sequer conhece, com uma língua que ela talvez nem fale?”

       Para ler a nota completa, clique aqui (texto em inglês).

       Fontes: x x x x x x x x

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