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Da vida real à novela: Transexualidade e disforia de gênero


Por Lara Sylvia

Carol Duarte como Ivana antes e durante a transição. Foto: Estevam Avellar/TV Globo
       A transexualidade é um tema que vem ganhando visibilidade nas discussões ao redor do mundo, na mídia, no cinema, na literatura e agora na teledramaturgia. Apesar disso, até alguns anos atrás, a disforia de gênero ainda era denominada "transtorno de identidade de gênero" e considerada como uma doença. Pesquisas científicas e a luta pelo processo de inclusão dessa condição na sociedade, entretanto, tiveram bons resultados e culminaram na iniciativa de países como a França, em 2010, e os EUA, em 2012, de não a considerar mais como um transtorno mental, além da decisão da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2013, de aboli-la da lista de transtornos mentais em sua Classificação Estatística Internacional de Doenças.
       Essa condição consiste na rejeição do indivíduo pela sua identidade sexual biológica e em sua identificação psicológica com o gênero oposto, ou seja, quem ele acredita ser é diferente de quem ele fisicamente é. Por isso, algumas pessoas apresentam disforia sexual e desejo intenso de deixar transparecer o seu interior, vestindo-se com roupas tidas como exclusivamente de outro gênero ("masculinas" ou "femininas"); se submetendo à cirurgia de mudança de sexo ou lutando na justiça para conseguir a alteração do seu nome de registro e o uso de nome social.
       Os transexuais, em sua grande maioria, sofrem preconceito na escola, no trabalho, na instituição religiosa que frequentam, nas ruas e dos próprios familiares. Muitos abandonam o colégio, a faculdade ou a casa por estarem sendo frequentemente agredidos ou por terem sido expulsos. Encontram muita dificuldade na hora de conseguirem emprego e muitos acabam marginalizados, envolvidos com prostituição, drogas e vivendo completamente vulneráveis nas ruas.
       A falta de conhecimento sobre a diversidade sexual e de gênero é extremamente perigosa, principalmente no Brasil, que, segundo pesquisas feitas pela ONG Grupo Gay da Bahia (GGB), a mais antiga associação de defesa dos homossexuais e transexuais do Brasil, é o país onde mais transexuais são assassinados no mundo inteiro. Foram 127 mortes (três a cada três dias) apenas no ano de 2016. Além disso, a expectativa de vida de um transgênero é reduzida de 75 anos, média nacional, a 35 anos de idade.
       De acordo novamente com o Grupo Gay da Bahia, dos 347 homicídios de pessoas LGBT, em 2016, 42% era de transexuais. Com tantos casos de violência e discriminação no país, a mídia vem tentando retratar o tema da identidade de gênero de forma mais realista e didática. O exemplo mais atual dessa tentativa é o da primeira personagem trans da teledramaturgia brasileira, a Ivana da novela das nove, "A Força do Querer", escrita pela famosa autora Gloria Perez, da Rede globo. 
       Ivana, interpretada pela atriz Carol Duarte, é uma jovem criada por uma família rica e tradicional para ser um modelo de luxo e feminilidade, no entanto, ao longo de sua vida, começa a não reconhecer mais o que vê no espelho. Ela chega a se agredir por não aceitar viver dentro de seu corpo, com o qual ela não se identifica. A moça descobre ser um homem transgênero ao ter contato com outros personagens na mesma condição, e passa a usar as roupas do irmão, injetar hormônios masculinos, adotar um novo corte de cabelo e futuramente na trama ela mudará seu nome para Ivan. Ao se assumir para a família, que não compreende sua angústia, sofre preconceito e humilhação, além das cenas de ameaça e violência nas ruas que ainda estão previstas.


Ivana não se reconhece no espelho. Foto por: TV Globo
       A autora Gloria Perez já apresenta um histórico de preocupação com questões sociais em suas novelas e já abordou temas como tráfico de pessoas, desaparecimento de crianças e imigração. Seu objetivo ao introduzir uma personagem trans em sua obra é ampliar a divulgação de informações e a discussão desse tema. Em entrevista à Folha de S.Paulo ela afirma que "a novela pode suscitar um debate nacional" e que ela teve cuidado em construir uma empatia do público com a personagem para não haver rejeição logo de cara. Personagens como a Ivana/o Ivan sendo retratados em rede nacional podem aumentar significativamente as chances de alcançar a tão grande e almejada conscientização da sociedade brasileira e fazer com que pessoas da vida real se identifiquem e se sintam representadas.

7 comentários

  1. Tema delicado e importante!! Muito oportuno o artigo!!

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  2. Muito bom!!!! Importantíssimo falar deste tema.

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    1. Obrigada, Martha! Muitas vezes o preconceito se dá por medo ou ignorância do desconhecido! Por isso é tão importante falar sobre esse assunto, principalmente porque afeta a vida de milhares de pessoas.

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  3. Ótima matéria! Sem dúvida um assunto que merece toda a nossa atenção e carinho.

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