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O papel dos zoológicos no século XXI

31 de outubro de 2017

Por Marina Monari

Still do vídeo postado pelo verador Reginaldo Tripoli (PV)


Brasil


No começo de outubro desse ano, a Câmara Municipal de São Paulo recebeu um debate sobre o futuro dos zoológicos, que acabou com a maioria dos ali presentes defendendo que as estruturações desses lugares não são as esperadas para a  prática de conservação de espécies. Das principais críticas, a ressignificação dos zoológicos, bem como o repúdio à utilização de animais como forma de puro entretenimento e suas qualidades de vida foram as mais discutidas.


Foto: Reprodução/Google


Um dos participantes do debate foi o coordenador de operações de fiscalização do Ibama, Roberto Cabral Borges, que declarou:  “Nós já temos tecnologia para mudar isso. Para mostrar os animais de uma forma diferente e a gente quer caminhar para esse lado”, disse. “Você pode ter o entretenimento sem manter os animais em cativeiro. E os animais que necessitarem estar cativos, que estejam por um motivo mais nobre que é a conservação”.

O vereador Reginaldo Tripoli (PV) baseou sua fala nas condições em que os animais vivem, as quais é possível observar que nenhum deles exibe comportamentos reais correspondentes aos de suas espécies, ursos e leões não vivem apenas dormindo e comendo em seus habitats naturais; para ele a ideia não é acabar com essas instituições, mas sim reformula-las de forma que se proíbam as visitas, ou seja, o contato com o humano. E ainda postou em seu perfil no Facebook um vídeo sobre a história dos zoológicos.

Outra presença importante foi a do secretário do Verde e Meio Ambiente, Fernando Von Zuben, que concorda com as proposições de reformulação do vereador e ainda diz que é preciso criar uma legislação que impeça a abertura de novos zoológicos no Brasil: “Os que conseguem se manter e tratar os animais de uma forma mais digna devem continuar, obviamente. Entretanto, os que não têm condições de funcionar teriam de ser transformados em santuários", disse.

Sugerindo uma outra visão sobre o assunto, o presidente da Fundação Zoológico de São Paulo, Paulo Magalhães Bressan, trouxe para o debate a triste realidade de que as bilheterias dos zoológicos são o que custeiam as pesquisas feitas para a preservação de espécies e geram condições financeiras para suas conservações.  “É uma proposta que demanda solução. E isso também é o que faz diferença nessa discussão. Se a gente tiver essas soluções, eu acredito que a outra questão é como você vai convencer a sociedade que um zoológico como o de São Paulo, com 60 anos de vida e mais de 80 milhões de visitantes [precisa fechar]. É preciso saber o que ela [a sociedade] acha disso”, e ainda chamou a responsabilidade para a sociedade.

Breve histórico


Somente no século XVIII os zoológicos foram considerados lugares de preservação de espécies, antes disso, as coleções de animais eram apenas para exibição de poder de reis e diplomatas. Já no século seguinte, foram criados zoológicos humanos, onde se expunham, na Europa, pessoas do continente Africano. O século XIX foi marcado pela criação do primeiro zoológico no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, mais precisamente em 1888. Mas apenas em 1983 foi criada uma legislação para a regulamentação desses lugares, a lei 7.173:
"Art 1° - Considera-se jardim zoológico qualquer coleção de animais silvestres mantidos vivos em cativeiro ou semiliberdade e expostos à visitação pública."
109 zoológicos depois, a lei ainda é a mesma.

Algumas problemáticas no Brasil


Os problemas começam na origem dos animais que vão para os zoológicos, muitas vezes são capturados ilegalmente e são vítimas de tráfico ilegal, que corresponde hoje ao terceiro mais lucrativo no Brasil, perdendo apenas para o de drogas e o de armas. Ele consiste na retirada de bichos de seu habitat natural para serem comercializados, mas 90% deles não sobrevive até o destino final, uma vez que sofrem tremendo estresse ao serem retirados de seu ambiente, além de serem transportados extremamente dopados e em condições atrozes, como dentro de tubos de PVC ou meias de nylon.

Outro problema mais recente são os "Selfie safáris", que consistem em pessoas que pagam para segurar animais simplesmente para terem uma foto bonita. Os casos mais escandalosos são de cidades na Amazônia e no município de Puerto Alegría, no Peru. Nesses lugares, foram flagrados, pela Organização Mundial de Proteção Animal, os maus tratos de animais silvestres como araras (cutucadas pelos "tratadores" para que os turistas ouvissem seus gritos), crocodilos (que eram mantidos em refrigerados quebrados e com pulseiras de silicone ao redor da mandíbula) e botos (provavelmente, mantidos sem comida para que quando os turistas chegassem para alimentá-los, se amontoassem para as fotos).

Foto: Leo Albuquerque/ICMBio. Turista observa boto vermelho em Anavilhanas, no Amazonas


Foto: Reprodução/NetGeo. 



Hoje em dia, esse tipo de turismo na Amazônia representa 1% do PIB. 

Alguns casos no mundo


Em zoológico na Coreia do Norte, a principal frase que se vê nesse tipo de ambiente "não alimente os animais" está sendo ignorada categoricamente, lá os visitantes podem alimentar todos os animais com qualquer tipo de comida que quiserem, inclusive as que ainda estão embaladas em plástico. Em vídeo flagrante feito pelo Correio Brasiliense, o repórter grava um visitante dando algum tipo de pururuca para ursos, que se amontoam e ficam de pé perto do mezanino onde o homem se encontra, parecendo implorar por mais comida, o que pode significar que uma alimentação por parte do zoológico está sendo-lhes negligenciada. Como se já não fosse o suficiente, é possível sentar em algumas espécies de animais, como em jabutis. 

Foto: Renato Alves/CB/D.A Press


Depois de 150 anos, o zoológico de Buenos Aires foi fechado pela prefeitura. Segundo o prefeito, Horácio Rodríguez Larreta, é um lugar em que há 140 anos os animais vivem em péssimas condições. Um dos exemplos desses maus tratos, foram os ursos polares, que morreram devido ao verão rigoroso da Argentina. Dos 1500 animais ali presentes, 1450 serão levados a santuários (lugares sem fins lucrativos, que tem como premissa a reabilitação e reinserção dos animais em ambiente selvagem), os 50 restantes estão em tais condições que não sobreviveriam o transporte, como a Orangotango Sandra.

Foto: Natacha Pisarenko / AP


Outro caso, foi um crocodilo morto no zoológico de Túnis, capital da Túnisia, por visitantes que atiraram pedras em sua cabeça, lhe causando um aneurisma e morte imediata. Segundo nota da instituição, há guardas no local responsáveis pela segurança dos cativeiros, no entanto não o suficiente para que possam vigiar todos 100% do tempo, o que causa esse tipo de atrocidade e mais algumas como deixar lixo no chão (que pode ser carregado pelo vento para algum cativeiro) e outros casos de lançamentos de pedras em leões e hipopótamos.

Os zoológicos como reflexo da sociedade


Poder! Desde as primeiras coleções de animais, o comportamento dos reis e generais ao enclausurarem os bichos ou darem-nos de presente era pura e simplesmente para a exibição de poder que tinham; afinal, quem vai se meter com um monarca que possui rinocerontes em armaduras? Após isso, com os zoológicos humanos, a intenção era mostrar a superioridade branca em detrimento dos escravos africanos negros ou nativos índios. 

Por que, atualmente mas nem tanto assim, as pessoas treinam animais para desenhar, fumar ou resolver problemas de matemática? Não dá para afirmar que fazem isso simplesmente para saber qual a capacidade motora e neurológica das espécies, afinal eles são treinados para parecerem cada vez mais com humanos, mas com humanos enjaulados. 

Jaula, outro problema. Nunca se ouve essa palavra quando caracterizam os ambientes em que os animais são mantidos, não são mostradas as grades, nas visitas ao backstage dos zoológicos não são permitidas câmeras fotográficas ou de filmagem. Mas há relatos de quem já visitou, relatos de que macacos não recebem comida nas 8h, oito horas!, que ficam em exibição, para que voltem com facilidade ao verem alimento em suas jaulas e fiquem enjaulados por 16h, dezesseis horas!

Muitas das pesquisas são financiadas pelos bichinhos fofinhos ou exóticos, como os tigres, que enchem todos os dias os zoológicos gerando lucro nas bilheterias. Convenhamos, quem iria querer ver um zoológico cheio de sapos ou grilos? Espécies que também sofrem com o perigo de extinção. Não está na hora de lutar por todos eles?

Como então resolver um problema que sempre refletiu a sociedade e sua extrema necessidade por poder em cima daqueles que não tem como se defender das armas de fogo ou tranquilizantes?

Não consigo dizer que os santuários são a salvação, ou até mesmo que todos os zoológicos são vilões, nós nunca saberemos o que realmente acontece por trás das grades. Mas nós podemos educar e conscientizar, para que o futuro seja menos de poderio sobre os animais e mais de ajuda aos bichos que são indefesos a toda tecnologia humana. Nós podemos ser críticos e demandar respostas para todas essas questões, uma vez que muitos dos zoológicos hoje em dia são de iniciativas governamentais. E acima de tudo, refletir qual o papel do zoológico no século XXI, não é mais possível que pessoas lucrem em cima de animais enjaulados.

Então, qual o nosso papel no século XXI?



Fontes: Câmara Municipal de São PauloZoológico de Buenos Aires - O GloboSelfie Safáris - Catraca LivreZoológico da Coreia do Norte - Diário de Pernambuco






Ubatuba cuida do Meio Ambiente

27 de outubro de 2017



Voluntários do 1º Encontro Super Ecológico recolhem lixo de praias na cidade de Ubatuba, no Litoral paulista

Pelo colaborador Gabriel Paes 


Tenda da APPRU (Amigos na Preservação, Proteção e Respeito a Ubatuba) na praia da Barra Seca. Foto por Gabriel Paes


“Tudo o que eu descarto, penso: para onde vai isso?”

 Muitas vezes, a resposta para a pergunta da pedagoga  —  e também artesã —  Vanessa Nunes (chamada de Parapoti pelos indígenas da aldeia do Prumirim) é o Meio Ambiente. Voluntária no 1º Encontro Super Ecológico, em Ubatuba-SP, ela é também fundadora do projeto Flor do Oceano, batizado com seu apelido em português, e trabalha fazendo arte reciclável com crianças: “Deposito todas as minhas fichas nelas”.
“Sou chamada de sucateira, de lixuda… mas a minha religião é o meio ambiente, nele eu dou a vida e é por isso quero conscientizar as pessoas de que o lixo delas pode ir para a natureza. Elas também devem se perguntar se o lixo vai para o local correto. É nossa obrigação, de mais ninguém.”   (Vanessa Nunes)
Foto por Gabriel Paes
Segundo Vanessa, o “lixo só é lixo” quando misturado. Mas mesmo quando não é descartado em local correto, é possível reciclar e obter, por exemplo, camisetas, além de novas latas e garrafas. Em média, o brasileiro consome o equivalente a 1,5kg e meio de lixo por dia, o que representa 300.000 toneladas no total da população. A reutilização de quaisquer materiais, portanto, é fundamental para evitar o acúmulo de dejetos no Meio Ambiente.
“Gostaria de ver várias pessoas trabalhando pelo Meio Ambiente, principalmente os líderes do nosso país. Ao invés de roubar, deveriam investir em catadores e coletores que abrem sua empresa de reciclagem. São os nosso faxineiros, estão ali para limpar o nosso lixo. Porquê não investir nessas pessoas?”



"Já encontramos até geladeira na costeira! O que isso estava fazendo lá?”, questiona Dona Gilda, presidenta da Coco e Cia (Associação de Reciclagem de Coco Verde e Catadores de Materiais Recicláveis de Ubatuba) e membro do MNCR (Movimento Nacional dos Catadores de materiais Recicláveis). É um trabalho duro, segundo ela, que ainda faz um alerta: “Após 2020, todo o lixo recolhido em Ubatuba ficará na cidade, pois não existirão mais aterros sanitários. A gente precisa cuidar agora”. A maior dificuldade, no entanto, não é recolher o lixo, mas sim ensinar a população como se faz a coleta seletiva e quais são os materiais próprios para reciclagem.
Everaldo trabalha há mais de 20 anos com reciclagem. Ele aponta que os principais problemas do bioma local são relacionados ao lixo urbano, trazido pelo ser humano. Organizador do encontro, ele diz que não há ajuda do poder público: “É tudo feito com voluntários”. Existe um desejo em comum entre os organizadores do projeto e Everaldo logo se pronuncia: “A meta para o futuro é arranjar o tratamento de óleo despejado no oceano. Além do descarte hoje estar sendo feito de maneira incorreta (muitas vezes no mar), a cidade tem potencial para organizar isso”.
Dona Gilda, Jose e Simone, da Coco e Cia. Foto por Gabriel Paes

APPRU
A Amigos na Preservação, Proteção e Respeito a Ubatuba é a ONG responsável pelo primeiro de mutirão de limpeza no Rio Grande, responsável pelo abastecimento da cidade. Preocupados com a preservação do bioma local, uniram forças para apresentar o Super Encontro. A ideia do projeto é passar por todas as praias da cidade (são 92 na costeira e treze espalhadas por cinco ilhas).
A Cetesb (Companhia Ambiental) é quem determina a cor da bandeira alçada em cada uma das praias do Estado e, recentemente, classificou o Rio Acaraú (parte do Rio Itaguá) como o pior de todo o Litoral Norte Paulista, fato que desencadeou a primeira campanha da APPRU:
“Quando nós começamos a campanha do Itaguá Azul, a missão era investigar o que mais poluía Ubatuba. O nosso objetivo, então, é despoluir o rio e obter a Blue Flag. As praias do mundo que têm essa bandeira são referências em preservação.” contou Neto, membro da ONG.
Apesar das metas ambiciosas, os voluntários no projeto afirmam que é possível despoluir as praias em pouco tempo: tudo é uma questão da quantidade de pessoas mobilizadas. Se cada um fizesse a sua parte, com certeza a situação ambiental não estaria tão crítica, no país e no planeta.

“O movimento cresce desenfreado em Ubatuba, mas junto com ele vem uma geração que parece ser mais consciente”
O dia foi repleto de atividades: o biólogo Santiago acompanhou os voluntários da limpeza ao Manguezal da Barra Seca e Jairo Lumertz apresentou seu modelo de prancha Stand Up Paddle (SUP) feito com garrafas plásticas. Ao pôr-do-sol, Michele Manzeti cantou com Juliano Santana e encerrou o Encontro. 
Foto por Gabriel Paes

Jairo (de amarelo) é idealizador da SUP reciclável. 
Foto por Gabriel Paes


As metas ainda estão longe de serem alcançadas, mas o trabalho caminha  — há anos  —  para isso.

Nem tudo que reluz é ouro

25 de outubro de 2017


 Por Enzo Kfouri


Para quem achava que o esquema de doping na Rússia era algo isolado e sem precedentes na história do esporte internacional, uma nova denúncia de fraude mostra que essa é uma prática muito mais comum do que se imagina. Em entrevista à rede de TV alemã ARD nesta terça-feira (24/10), a ex-médica da equipe olímpica chinesa, Xue Yinxian, agora asilada no país europeu com sua filha, expôs ao mundo um grande esquema de fraude do esporte de seu país de origem nas décadas de 80 e 90.

Yinxian, que fugiu da nação mais populosa do mundo há dois anos, afirmou que todas as medalhas conquistadas nesse período foram alcançadas através do uso de substâncias ilícitas e que mais de 10.000 atletas estariam envolvidos. A médica também falou que foi afastada da equipe de ginástica após se recusar a fornecer uma substância proibida para um ginasta durante Seul 1988 e chegou a ser monitorada por oficiais do governo, recebendo visitas deles e vendo viaturas sendo estacionadas do lado de fora de sua casa.



Yelena Isinbayeva, ex-saltadora com vara russa, impedida de disputar as olimpíadas de 2016 por causa do banimento do atletismo russo dos jogos. Fonte: Michael Steele/ Getty Images



A primeira aparição dos Chineses em Jogos Olímpicos foi em 1952, em Helsinque, Finlândia, quando enviou apenas um atleta e não faturou medalhas. A partir daí só voltou a participar do evento em 1984, nos jogos de Los Angeles, por causa do boicote da nação por competir sob o nome de “China” e não “República Popular da China”. Assim, 32 anos depois, o país encerraria sua segunda participação na competição com 15 ouros e o 4º lugar no quadro de medalhas.

Doa a quem doer, essa não é a primeira denúncia contra o esporte chinês, uma vez que, em 2012, Chen Zanghao, chefe médico da delegação em Los Angeles (1984), Seul (1988) e Londres (2012), alegou ao “The Sydney Morning Herald” que “cerca de 50” atletas chineses haviam tomado várias drogas proibidas durante seu mandato, algo quase que insignificante perto do depoimento de Yinxian.

Após o escândalo, a WADA (Agencia Mundial Antidoping), a mesma que revelou o esquema russo que culminou no banimento do atletismo russo no Rio de Janeiro, decidiu abrir uma investigação para apurar essas informações, o que abre um debate extenso sobre que rumo o esporte está tomando no mundo. Por que tantos casos de doping acobertados pelos governos? Por que não conseguimos detectar essas fraudes? Por que isso ocorre?

A médica Xue Yinxian, que nesta semana revelou em entrevista a rede alemã ARD o esquema de doping da China nas décadas de 80 e 90. Fonte: (Reprodução/ARD)


Uma possível teoria a respeito desse problema é a proporção que o esporte tomou, compondo o que sociólogos chamam de indústria cultural. Hoje temos eventos com custos bilionários que atraem grandes empresas e patrocinadores pela quantidade de gente que mobilizam. Muitas vezes essas companhias não ligam para as atividades esportivas e usam a audiência para atingirem resultados e para vender cada vez mais e mais produtos. Se aqui você acha que estou delirando, e ainda quer dar espaço a ingenuidade, pergunte-se qual o sentido de redes de fast-food patrocinarem as olimpíadas, por exemplo.

Por outro lado existe outro ponto: Será que o ser humano chegou ao seu ápice? Será que recordes somente serão quebrados ou novas marcas alcançadas com o uso de doping? Será que é biologicamente impossível abaixar o tempo em provas de ciclismo ou natação? Saltar mais alto com a vara ou mais longe no salto triplo?

O mundo se impressionou na Rio 2016 com a precisão de Simone Biles na ginástica artística e com a velocidade nas águas de Katie Ledecky (chegando a ficar quase meia piscina na frente das outras competidoras), mas e se descobríssemos que não passam de atletas dopadas?  Essa seria uma grande perda ao esporte mundial e por isso é melhor acreditarmos no talento e no preparo físico de cada competidor e pensar que é sim possível.


Final da prova dos 800m de natação feminina nas últimas olimpíadas em que Ledecky fica quase meia piscina na frente e bate o recorde olímpico. Fonte: Brooke Buchanan/ Sports Illustrated

É preferível pensar que essa onda de denúncias de caso de doping seja passageira, para que continuemos a nos maravilhar com as atuações de grandes atletas mundo afora. É melhor acreditar que os trapaceiros vão pagar pelo preço de seus delitos e que as modalidades estão se tornando mais limpas a cada dia, mas não podemos excluir a possibilidade de tudo não se tratar de uma mera ilusão, afinal, como já diz aquele velho ditado: nem tudo que reluz é ouro...

Tatuagens que salvam vidas

22 de outubro de 2017

Por Lara Sylvia


Tatuagem médica para auxiliar no cuidado com pessoas diabéticas. Foto por: Diabetes Daily Grinds

Apesar de já terem sido criminalizadas há algum tempo e de gerarem certo preconceito até hoje, as tatuagens são uma tendência mundial. Ainda que sejam comumente usadas para fins estéticos, atualmente as tattoos também passaram a ter uma relação direta com a saúde. Tornaram-se muito comuns as tatuagens que ajudam a recuperar significativamente a autoestima de inúmeras pessoas. Muitas delas tem a finalidade de cobrir cicatrizes indesejáveis, como as resultadas de cirurgias, acidentes e automutilação por distúrbios psicológicos, ou as de técnicas 3D que visam a reconstituição dos mamilos e aréolas em mulheres que precisaram fazer mastectomia devido ao câncer de mama.

Além da importância para o amor próprio, recentemente foi descoberta mais uma surpreendente função para esse tipo de arte na pele. As chamadas tatuagens médicas identificam problemas de saúde que podem ser um risco para a vida da pessoa caso ela precise de atendimento médico em uma emergência e esteja sozinha, inconsciente ou sem uma carteirinha ou etiqueta de identificação no RG indicando as causas de suas reações alérgicas.

Tatuagem médica que evita o uso de penicilina nesse paciente. Foto por: Reprodução

Muitos portadores de doenças crônicas como diabetes, que não podem receber soro glicosado, e alergias, como por exemplo, ao látex das luvas hospitalares, glúten, remédios tal como dipirona, penicilina, ibuprofeno, paracetamol, nimesulida e ácido acetilsalicílico registram sua condição no corpo para que caso passem mal, tenham uma crise de hipoglicemia, desmaiem ou sofram um acidente não sejam prejudicados durante a prestação de socorro e o atendimento médico.

Alerta de alergia a medicamentos. Foto por: Lauanne Araujo

Em entrevista ao Catraca Livre, Caio Gonçalves, que sofre com a doença por excesso de glicose no sangue, explica: "O diabético, no dia a dia, ele é uma pessoa comum. Você não consegue olhar para uma pessoa e dizer  que ela é diabética, por exemplo, principalmente no tipo 1. Mas no trato dessa pessoa, ela tem algumas especificidades. Tem medicamento que não se pode usar, então, em alguma emergência, é importante que quem vai ajudar identifique se aquela pessoa tem diabetes ou não." Veja o vídeo de Caio fazendo sua tatuagem funcional aqui.

Tattoo contendo o círculo azul que representa a diabetes. Foto por: Belle Maia Fotografia

Também existem indivíduos que optam por tatuar alguma enfermidade que comprometa a sua memória, como Alzheimer, junto a algum telefone emergencial ou para contato, com o intuito de que possam ser rapidamente identificados e encontrados pela família na hipótese de se perderem, não conseguirem lembrar quem são ou como voltar para casa. Em outros casos, como os de surdez, a pessoa tatua algo que simbolize a deficiência auditiva próximo à orelha para que os outros tenham conhecimento de sua dificuldade.

Tatuagem de Elisa indicando surdez. Foto por: @raingoose

As "tatuagens do bem" geralmente são feitas em alguma parte visível do braço, pois geralmente as substâncias são injetadas nessa parte do corpo em casos de urgência. Elas podem conter algum desenho escolhido pelo próprio tatuado, a letra estilizada ou algum símbolo ou sigla médicos que possam ser facilmente entendidos por profissionais da saúde. Algumas pessoas preferem estampar o alerta em sua pele em diversas línguas, pois assim podem ser socorridas corretamente em qualquer país que estiverem. Essas tattoos têm sido uma forma de precaução muito eficaz e requisitada, visto que concilia algo que interessa muita gente atualmente com algo que pode salvar diversas vidas.

Fontes: Catraca Livre, Tattoaria, G1

A polêmica dos porcos geneticamente modificados

20 de outubro de 2017

Por Marina Monari


Foto: Reprodução do Facebook

Antes de tudo, caro leitor, gostaria de deixar claro que essa publicação não tem quaisquer intenções de fazê-lo parar de comer carne, se quisesse ou conseguisse já o teria feito. Meu objetivo aqui é denunciar a nossa insistente escolha pela ignorância daquilo que levamos para o nosso corpo, tanto no consumo de animais quanto no das plantas, já passou da hora de sabermos o que comemos e lutarmos por uma alimentação justa para todos os seres vivos!

Dito isso, essa matéria começa com a revolta de ativistas e internautas do mundo todo após fotos postadas no Facebook de uma fazenda de criação de porcos no Camboja mostrando a situação desses animais. Além de evidenciar as circunstâncias deploráveis do ambiente em que os suínos vivem, a aparência dos bichos é aterrorizante, seus músculos são muito maiores que o normal - os tornando deformados -, o que lhes dificulta terrivelmente a locomoção. De acordo com a ONG PETA (People for the Ethical Treatment of Animals), o que acontece é uma série de mudanças no código genético dos porcos para que desenvolvam os músculos do jeito desejado pelos produtores.

"Porcos mutantes criados para ficarem enormes só para serem assassinados e depois comidos? Não, não estamos falando da sinopse do filme Okja, da Netflix, e sim do horror real que parece estar ocorrendo em uma fazenda de Camboja, onde porcos geneticamente alterados estão sendo criados para desenvolver massa de músculo", declarou a ONG.

Esse tipo de mutação genética já foi realizada antes em um estudo da Universidade Nacional de Seul, na Coréia do Sul, que foi publicado no jornal Journal of Animal Breeding and Genetics. A experiência consiste em um procedimento que fez exatamente com que suínos desenvolvessem mais músculos, os resultados revelaram que essa mudança nos músculos dos animais faria com que os produtores tivessem mais lucro, uma vez que cada indivíduo teria mais carne. Em entrevista para a revista Nature, o cientista líder do estudo, Jin-Soo Kim, afirmou que as mutações poderiam até ser feitas com o próprio processo de criação, uma seleção não-natural, mas demoraria décadas.

Em vídeo publicado no perfil da fazenda Duroc, que tem mais de 25 milhões de visualizações, os criadores parecem se orgulhar de seu experimento, que consiste na transgenia de um único gene, o que significa que os produtores pegaram certo gene de uma espécie e colocaram em outra para que as mudanças nos músculos fossem possíveis. A diferença desse processo para o de seleção não-natural é que esse é muito mais rápido, o que significaria mais lucro em menos tempo. E com isso, os produtores esperam ser os primeiros a produzirem animais geneticamente modificados que possam ser vendidos para consumo, até hoje nenhuma espécie mutagênica foi regularizada por receio de que as carnes possam prejudicar a saúde e causar danos ambientais.

Dos 32 porcos que foram utilizados do estudo, 13 deles sobreviveram por 8 meses, sendo que apenas um foi considerado saudável. Após estes resultados, os cientistas optaram por vender o esperma desses porcos para cruzarem com óvulos de fêmeas não modificadas para minimizar os problemas que o crescimento excessivo dos músculos causa.

Sendo assim, a discussão aqui vai muito além de comer carne ou não, é preciso discutir em quais condições aquilo que comemos sobrevive, quais são os meios para que cresça mais, se o lucro do produtor está sendo o foco único e se vale a pena modificar tanto um ser vivo para que ele possa produzir mais em menos tempo. Tudo aquilo que ingerimos, em principal as proteínas, viram parte do nosso código genético, elas são transformadas no nosso DNA, queremos mesmo continuar transformando nossos corpos dessa forma?

Fontes:  Revista Galileuperfil da fazendao estudo.

A união faz a força

18 de outubro de 2017


Por Enzo Kfouri


Cruzeiro 3 x 1 Corinthians. Olhando assim pode até parecer apenas mais uma rodada do brasileirão. Entretanto, o jogo disputado nesse sábado (14/10) não foi com os pés. A partida valeu pela primeira rodada da temporada 2017/18 da Superliga Masculina, o campeonato brasileiro de vôlei, e marcou o retorno de uma tendência no esporte: o investimento de grandes clubes de futebol no segundo esporte mais popular do país.

A aproximação entre os gramados e as quadras não é nenhuma novidade. Desde as décadas de 70 e 80 clubes de futebol, a exemplo de Flamengo, Fluminense e Botafogo, estudam a criação de times de vôlei, expandindo sua área de atuação para além dos estádios.

Time do Corinthians, novidade de 2017, em jogo pelo Campeonato Paulista. Fonte: Djalma Vassão/Gazeta Press

Após a união com o Sada, um extinto time de vôlei, em 2006, o Cruzeiro se tornou uma das maiores potências do voleibol masculino e se consolidou de vez no esporte. Contudo nem sempre isso ocorre, não sendo raro o desligamento por parte dos clubes de futebol da equipe de vôlei. Muitas vezes os projetos duram apenas alguns anos por conta da falta de retorno financeiro. Flamengo (1970-2001), Altético Mineiro (1980-1983) e Palmeiras (1990-2000) são alguns dos exemplos.

Nota-se, porém, nos últimos anos, a vinda de novos clubes ao vôlei e o retorno de outros, como é o caso do Fluminense, que voltou em 2015, após mais de 20 anos fora dos ginásios. A novidade da vez é o Corinthians, que conquistou esse ano, em seu primeiro de existência, o vice-campeonato paulista, com um elenco que conta com o líbero bicampeão olímpico Serginho e os opostos Sidão e Riad, também da seleção brasileira. Além do timão, somam-se a esse conjunto de equipes Fluminense, Botafogo e o vitorioso Cruzeiro.

Essa ”invasão”, como muitos apelidam, revela-se muito interessante, uma vez que sua participação no esporte tem muito a acrescentar às competições. A vinda de equipes que tem tradição nos gramados repercute em um aumento grande da visualização e da disseminação da modalidade. Muitas vezes as equipes com veia futebolística trazem mais torcedores que o habitual, sendo que estes nem sempre são atraídos pelo jogo em si, mas pela identificação com seu time.

Time completo do Cruzeiro após conquista da Supercopa de 2016. Fonte: Divulgação/Cruzeiro

O levantador da seleção Bruno Rezende filho do ex-técnico da seleção brasileira Bernardinho, em entrevista a ESPN relata a importância desse fenômeno para o vôlei. O jogador revelado pelo Fluminense, e que hoje compete pelo Modena (Itália), diz que esses times ajudam a popularizar o esporte: “São clubes de massa, vão dar uma visibilidade ainda maior (à Superliga). E é isso que a gente espera. Seria muito bacana (se tivéssemos mais times de futebol) porque isso faria com que o voleibol crescesse".

Todavia, é bastante curioso que vemos um dos maiores problemas do futebol se transformar em algo muito positivo no vôlei: a torcida organizada. Se por um lado temos os "torcedores" como principal vetor dos horrores que a violência gerada pelo fanatismo proporciona, por outro temos o público como uma grande arma para alavancar o esporte nacional.

Assim, com mais times disputando, o campeonato se torna mais conhecido, bem como a própria modalidade. Quem sabe no futuro, com mais equipes futebolísticas como o Cruzeiro entre os grandes, o vôlei se torne mais respeitado e admirado. Talvez tenhamos descoberto uma estratégia para estimular o esporte no país e acabar, ou ao menos diminuir consideravelmente, com a concentração da torcida no futebol. Mas se de fato vai funcionar, só o futuro nos dirá...

Moradores de rua e a gestão Dória

Por Marjorie Wartanian

Foto por Marjorie Wartanian
Os moradores de rua sempre foram ignorados pela sociedade e pelo Estado. Eles estão espalhados por São Paulo, sobrevivendo com doações e “bicos” pelas ruas da cidade. Até a eleição do atual prefeito de São Paulo, João Dória Junior, as notícias sobre os essas pessoas não eram muitas. No entanto, após o início da nova gestão, os meios de comunicação não pararam de divulgar notícias sobre as agressões que as pessoas nessas condições estão sofrendo.

João Dória fez aproximadamente 80 promessas de campanha nas eleições para o cargo de Prefeito, entre elas está uma que vale a pena destacar: “Assegurar acolhimento para, no mínimo, 90% da população em situação de rua”. Com essa promessa, o gestor tem o dever de acolher um grande número de pessoas e tirá-las da situação precária da vida na rua, mas como ele está fazendo isso? A prefeitura “usa” a polícia para fazer o trabalho sujo  e ela faz perfeitamente bem. A polícia utiliza a violência e a força para tornar a rua um ambiente hostil para os moradores. Mas não é qualquer rua em qualquer bairro da cidade de São Paulo. Os moradores de rua do centro e das áreas nobres estão sendo perseguidos, pois eles incomodam a burguesia  aquela que bateu panelas e, consequentemente, palmas para o golpe dado em 2016  e atrapalham os planos que o gestor tem para o centro: “Valorização do Centro da cidade de São Paulo, com a implantação de projetos de requalificação urbana”.

O não cumprimento da lei

Foto por Marjorie Wartanian - Poesia feita por moradora de rua em um livro qualquer que ela achou para escrever 

De acordo com o DECRETO Nº 57.581, DE 20 DE JANEIRO DE 2017 — que introduz alterações no DECRETO Nº 57.069 DE 17 DE JUNHO DE 2016   as operações de zeladoria urbana deverão seguir princípios como “diálogo como forma de solução de conflitos” e “ preservação de direitos e bens de todas as pessoas, em especial aquelas que se encontram em situação de rua, garantindo-lhes o direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Além disso, esse mesmo Decreto, assinado por João Dória, deixa claro que é expressamente “vedada a subtração, inutilização, destruição ou a apreensão dos pertences da população em situação de rua, em especial:
I – de bens pessoais, tais como documentos de qualquer natureza, cartões bancários, sacolas, medicamentos e receitas médicas, livros, malas, mochilas, roupas, sapatos, cadeiras de rodas e muletas; II – de instrumentos de trabalho, tais como carroças, material de reciclagem, ferramentas e instrumentos musicais.”

Os policiais e a guarda civil metropolitana não cumprem a lei  quem nunca ouviu uma notícia dizendo que moradores de rua perderam seus pertences?  e eles são acobertados pelo Estado ao fazerem isso. Ao conversar com um morador de rua tem-se a clareza do que o Estado está fazendo com pessoas nessa situação, elas têm seus pertences pessoais confiscados, documentos, objetos de higiene pessoal e mochilas com objetos íntimos são levados diariamente pela polícia e pela Guarda Civil Metropolitana (GCM).

Relato em primeira mão

Nas calçadas do Túnel José Roberto Fanganiello Melhem  embaixo da Praça do Ciclista, na Av. Paulista — vivem algumas pessoas e elas relataram um pouco de sua trajetória de vida e como a polícia lhes trata — identificarei as pessoas por apelidos para não correr risco de colocá-las em maior situação de perseguição. Existem pessoas morando no local há anos e, segundo elas, a perseguição por parte da polícia nunca foi tão grande quanto na Gestão Dória. Há mais ou menos 2 meses uma igreja de Itapecerica da Serra doou 6 barracas de camping para os moradores do túnel. Tubarão — um gaúcho com muita história para contar e um senso de humor enorme  relata que ele mesmo distribuiu as barracas e que depois de algumas semanas o “rapa” (termo usado para ações policiais) levou todas, mesmo as que foram desmontadas e, nessa situação, não demonstravam moradia. Nesse mesmo dia os moradores perderam cobertores, documentos, e até o saco de ração da linda Duquesa  a cachorrinha de Max, um jovem carismático de 55 anos e com muito amor para dar. Em uma das ações do "rapa", Tubarão teve fotos de sua família confiscadas propositalmente. De acordo com Wan, outro morador, a polícia chega agindo com  força, sem respeitar o espaço das pessoas ali presentes. Os moradores relataram que os policiais disseram para eles irem para outro lado da cidade de São Paulo, um lugar que “não seja mira dos empresários” e ameaçou-os avisando que enquanto alguém morasse, ali eles voltariam.

E eles sempre voltam. No feriado do dia 12 de outubro, quinta-feira, dia das crianças  enquanto muitas pessoas viajavam  o "rapa" fez intervenções no início da manhã, cerca de 9 horas, e retirou todos os pertences dos moradores, que saíram pela redondezas da Avenida Paulista procurando madeiras e objetos do lixo para fazer novos barracos. Na sexta-feira, dia 13, esse acontecimento se repetiu, mas dessa vez uma hora mais cedo. No sábado, novamente. E domingo, quando achavam que estavam livres da polícia  que já havia “tocado o terror” durante 3 dias seguidos  ela apareceu novamente e acordou alguns moradores, como Rafa  uma garota jovem, que faz poesias e ama futebol , surpreendendo-os.

O local onde essas pessoas moram lhes trás aparatos suficientes para alimentarem seus vícios  lembre-se: vícios são doenças e são curados com assistência médica, eles não têm muita relação com “falta de vontade de parar”  e terem a mínima estrutura possível para sobreviver. Não é dever deles mudar de região, é dever do Estado lhes dar condições básicas de vida, começando pela segurança, que é tirada quando a polícia chega. Polícia essa que age fora dos termos da lei e que deu uma última dica para os moradores: as pessoas que frequentam o Instituto Moreira Salles (situado na Avenida Paulista), veem os moradores no túnel e denunciam, pois, para elas, a cidade fica feia. Para essas pessoas preconceituosas, Max deixou um recado simpático: “Mandaram recolher todas as barracas com a operação Rapa, dizem ser para a cidade limpa, cidade linda e cidade limpa, cidade sem morador de rua, isso nunca vai existir”.

Foto por Marjorie Wartanian - Morador de rua vagando pela Avenida Paulista

Não são lixos humanos


Os moradores de rua estão mostrando que existem e que são “gente como a gente”, ignorá-los não é a solução e tratá-los com violência é menos ainda. Eles têm família, história, sentimento e muito a ensinar, não são lixos humanos. Existem cerca de 16 mil pessoas morando na rua, em albergues ou abrigos, essa população cresce 4,1% mais do que a população da cidade de São Paulo, segundo uma pesquisa da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE). Essa situação só tende a piorar com a crise vivida no país e é dever do Estado revertê-la. No entanto, tirar pessoas das ruas com violência não resolve o problema, apenas o mascara. 


CRÔNICA: Liberta esse sorriso!

17 de outubro de 2017

Por Thays Reis

Arte: Felipe Guga - @ofelipeguga (Divulgação)

Quantas vezes você já viu alguém realmente sorrindo andando na rua ou no transporte público? Nesse ano, que já se encontra quase no fim, eu vi no máximo umas duas ou três. E elas me marcaram exatamente por ser algo incomum.

Um dia, quase chegando na faculdade vi uma garota de cabelo curtinho e um fone gigante, daqueles que não se percebe nada do que ocorre fora deles. E era assim que ela agia, como se ninguém mais estivesse no recinto enquanto ela cantava sua música olhando pro chão. Vez em quando ela também estralava o dedo, batia o pezinho, ela só não saiu dançando por falta de espaço, claro. Com certeza aquela era a música preferida dela, ela estava tão empolgada! O dia dela tinha começado tão incrível que até eu me animei.

Teve um pessoal que ficou meio incomodado, que olhou meio torto e revirou o olho porque queriam ler um post qualquer no Facebook. Mas sinceramente... ela não tava nem aí. Provavelmente ela nem percebeu que a felicidade dela poderia estar incomodando alguém. E que bom que não.

Outro dia também teve esse moço que, tarde da noite, voltava sozinho com várias sacolas de mercado e passando pela estação chácara Klabin, tinha o olhar lá longe e o sorriso bem presente. Não era só um sorriso, era uma risada. Aquela que escapa e não dá pra conter, sabe? Eu não sei no que ele estava pensando, mas pra mim, aquilo era amor. Ele podia estar voltando do trabalho e pensando em alguma palhaçada que a filhinha pequena fez. Ou quem sabe estava planejando um jantar romântico pra conquistar sua nova paixão (sacolas de mercado a gente já pensa na comida, né?). Será eternamente uma dúvida, mas aquela foi a demonstração de felicidade mais pura, sincera e ingênua que eu já vi.

Sorrir sozinho parece coisa de louco pra sociedade. Com certeza você já lembrou de uma história muito engraçada no meio da rua que te fez ter vontade de morrer de rir, mas você segurou. Eu  já segurei. No máximo a gente deixa escapar aquela risadinha, coloca a mão na boca e finge que não ta emitindo som nenhum. Mas quer saber, quem disse que é proibido ser, literalmente, feliz sozinho? Libera o sorriso, é a coisa mais linda de se ver e você, com certeza, pode melhorar o dia de alguém – pelo menos o meu dia melhora.

A quarta Menina Superpoderosa e a representatividade

14 de outubro de 2017


Por Lara Sylvia

Blisstina, a primeira Menina Superpoderosa negra. Fonte: Divulgação

Lançada em 1998 pelo canal Cartoon Network, nos Estados Unidos, a série de desenho animado "As Meninas Superpoderosas", feita por Craig McCrackenfez parte da infância de muita gente, inclusive no Brasil. A famosa animação conta a história de três garotas criadas no laboratório do professor Utônio, que, ao fazer um experimento a fim de criar a "garotinha perfeita", derruba acidentalmente o "elemento X" em sua criação, o que causa os superpoderes das meninas. O desenho, segundo Nick Jennings, um dos produtores executivos, sempre esteve à frente de seu tempo. E, realmente, em muitos aspectos, isso é verdade: um dos vilões, Him, é um demônio que usa roupas "femininas" e as próprias protagonistas são mulheres pequenas que parecem ser extremamente frágeis, mas que conseguem dar uma surra em praticamente todos os homens da série.

Em setembro deste ano, foi confirmado pelo CN que haveria uma nova e quarta integrante no tradicional trio composto por Lindinha, Florzinha e Docinho. Desde então, as imagens divulgadas de Blisstina/Bliss, ou como será chamada na adaptação para o português, Estrela, geraram muita especulação acerca do fato dela ser a primeira personagem importante negra do desenho. As críticas sobre o corpo dela ter um formato diferente das demais heroínas, supostamente mais sexualizado, pois tem um quadril maior, foram rebatidas quando o especial foi lançado: o corpo mais maduro é explicado pelo fato dela ser a irmã mais velha. O cabelo liso da personagem também foi questionado, pois esperava-se um cabelo mais crespo, porém, ao que tudo indica, isso poderia ser considerado um sinal de diversidade étnica.

Bliss foi gerada da mesma forma que as outras meninas superpoderosas, através de um acidente do professor envolvendo outro elemento químico, alguns anos antes da criação das meninas superpoderosas. Como não conseguia controlar seus poderes, qualquer emoção que ela tinha, seja boa ou ruim, poderia causar estouros. Após uma de suas explosões, ela some misteriosamente e reaparece em Townsville muito tempo depois, já adolescente, para juntar-se ao seu pai e às suas irmãs mais novas recém descobertas, que ajudarão a menina a provar que já sabe usar suas habilidades.

Bliss, a irmã mais velha das Meninas Superpoderosas. Fonte: Divulgação

A instabilidade emocional da personagem decepcionou muitos fãs e foi interpretada como uma forma de perpetuar a imagem estereotipada de loucura e agressividade que infelizmente vem acompanhando as mulheres negras há muito tempo. É um argumento muito válido, entretanto, outras análises também podem ser feitas. Em um certo momento do desenho, Lindinha explica às irmãs que a dificuldade de Bliss em controlar as emoções é devido apenas ao fato dela estar na fase da adolescência. Além disso, há cenas onde a garota fica paralisada ao passar por situações de tensão e depois "explode", algo que, adicionado às diversas conversas entre as heroínas onde a palavra "ansiedade" é citada, possivelmente seria um indício de que a questão dos transtornos psicológicos seria abordada pela série, o que é um ponto realmente positivo.

Bliss tem uma personalidade "explosiva". Fonte: Divulgação

Desde 2016, quando houve um remake, as questões de gênero e de empoderamento feminino têm sido cada vez mais incorporadas no desenho. A senhorita Belo, a assistente do Prefeito, que era uma personagem incômoda por ser explicitamente objetificada, já que podia-se ver apenas seu corpo curvilíneo e sexualizado, mas seu rosto nunca era mostrado, foi cortada da série. Além disso, há um teaser dos novos episódios, intitulado "Não me chame de princesa", que mostra Docinho batendo em um barbudo que a chama de princesa e a manda brincar de boneca. Quando a heroína o atira para longe de suas vistas, ele diz "você joga como uma garota" e some.

Senhorita Belo, conhecida por nunca mostrar o rosto. Fonte: Divulgação

Blisstina é uma garota forte e incrível que pode ser extremamente importante para as meninas negras que assistem aos desenhos infantis, onde realmente não há muita representatividade, e a inclusão da questão do empoderamento feminino incentiva as pequenas a serem tudo que elas quiserem ser. O especial que apresentará a personagem, chamado "As Meninas Superpoderosas: O Poder das Quatro", está dividido em cinco capítulos e será lançado dia 19 de outubro, às 19h30, no Cartoon Network Brasil. Esperamos que ela fique permanentemente na série, mas não há nada confirmado ainda.
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