Os EUA pós-guerra sob o olhar de Robert Frank
Por Thays Reis
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A mostra do fotógrafo Robert Frank apresenta uma visão pessoal dos EUA. Foto: Divulgação |
Uma visão autoral dos EUA após a Segunda Guerra. Esse foi o resultado do trabalho de Robert Frank, um fotógrafo suíço que viajou durante nove meses de carro pelos arredores dos EUA, após ganhar uma bolsa da instituição John Simon Guggenheim Memorial Foundation para fazer "o estudo de uma civilização". Robert ultrapassou esse limite e criou um clássico da fotografia do século XX.
Os americanos, publicada em 1958, virou referência para várias gerações de criadores e tornou Robert Frank um nome de peso da fotografia e do cinema contemporâneo. A exposição, que trata sobre exclusão social, racismo, pobreza e ostentação, relação entre homem e mulher, aborda também a vida boêmia, as estradas e a cidade, mostrando o melhor e o pior da vida nos EUA de forma crítica e observadora.
Exposta no Instituto Moreira Salles (IMS), a exposição Os americanos + Os livros e os filmes traz pela primeira vez ao Brasil uma retrospectiva ampla do trabalho de Robert Frank. A união entre as 83 fotografias que compõe a série Os americanos com o projeto Os livros e os filmes, produzido em parceria com o editor alemão Gerhard Steidi, formam a incrível exposição.
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Uma das folhas de contato de Robert Frank presente na amostra |
Mais do que fotorreportagem ou um projeto documental comum, Robert Frank traz a sua visão e observação pessoal para contar uma história da vida americana sem o uso da palavra, privilegiando a vivacidade e as experiências pulsantes na escolha das fotos, processo que pode ser observada nas folhas de contato do fotógrafo, também presentes na exposição, que mostram as fotos escolhidas marcadas em colorido.
Imperdível, a mostra é gratuita e está aberta para visitação até 30 de dezembro, de terça a domingo, das 10h às 20h; quinta, das 10h às 22h; e aos feriados (exceto segunda), das 10h às 20h.
SOBRE ROBERT FRANK
Filho de judeus, Robert Frank nasceu em Zurique, Suíça, em
1924. Seu pai, que havia se tornado sem pátria durante a Primeira Guerra Mundial,
lutou para que Robert e seu irmão Mandred adquirissem nacionalidade suíça.
Durante a Segunda Guerra e a ameaça nazista, Robert se sentia muito ameaçado,
apesar de estar em segurança, e seu interesse pela fotografia nasceu da vontade
de expressar essa angústia, além de mudar do ramo de negócios da família. Foi
ensinado por alguns fotógrafos e designers até publicar seu primeiro livro de imagens
feito à mão, chamado 40 fotos, de 1946.
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Retrato de Robert Frank Foto: Koos Breukel, 1996 |
Em 1947 migrou para os EUA e começou a trabalhar na Harper’s
Bazaar Life, uma revista de moda e beleza, que logo deixou para visitar os
continentes europeu e sul-americano. Voltou aos EUA em 1950 e logo participou
da exposição 51 American Photographers no MoMA (Museu de Arte Moderna de Nova
Iorque), além de se casar com Mary Lockspeiser, com quem teve dois filhos, Andrea
e Pablo.
Robert possuía uma visão otimista dos EUA, até ser obrigado
a se adequar ao ritmo rápido da cidade, onde observou também a supervalorização
de posses e do dinheiro. Tornou-se frustrado também com a interferência dos
editores no seu trabalho e começou a ver o país como um lugar triste e
solitário. Se mudou então com a família para Paris por um breve período e em
1953 começou a trabalhar como jornalista freelancer parar revistas como Vogue,
Fortune e McCall.
Em 1955 Robert recebeu a bolsa para viajar os EUA e realizou essa incrível obra que se tornou um marco para a fotografia. Com a publicação, Robert
se tornou um dos principais artistas a registrar a geração – ou movimento –
beat, composto por jovens norte-americanos, majoritariamente escritores e
artistas, que eram nômades ou fundavam comunidades e inspiraram o futuro
movimento hippie, ambos compondo a contracultura.
Na época de lançamento da obra, Robert deixou a fotografia
de lado para se dedicar a produções audiovisuais, como o curta Pull My Daisy
(1959), escrito e narrado por Kerouac e o documentário Cocksucker Blues sobre
a turnê mundial dos Rolling Stones de 1972.
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