O filme que nem parece que é brasileiro
O cinema nacional nunca foi muito prestigiado pelos próprios brasileiros. Claro que isso não quer dizer que nossas produções cinematográficas não sejam de qualidade, muito pelo contrário, existem obras primas nacionais, e que são conhecidas internacionalmente e premiadas. Podemos citar, os clássicos como O Auto da Compadecida, Cidade de Deus e Tropa de Elite. Contudo, sempre que uma grande produção brasileira ganha destaque, ouvimos uma frase que especialmente me incomoda muito: "Nossa que filme bom, nem parece que é brasileiro".
Nem parece que é brasileiro.
Recentemente, um dos filmes que teve a enorme honra de receber esse tipo de comentário foi "Bingo: O Rei das Manhãs". Dirigido por Daniel Rezende e tendo como protagonista Vladimir Brichta, o longa-metragem foi muito bem recebido. A história se passa nos anos 80 e é uma cinebiografia de Arlindo Barreto, que interpretava o palhaço Bozo nas manhãs do SBT. O nome do palhaço e do ator precisaram ser mudados por uma questão de direitos autorais, Arlindo virou então Augusto Mendes e Bozo se transformou no Bingo.
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Vladimir Brichta caracterizado como Bingo. Fonte: Imagem do vídeo divulgado pela Warner Bros. |
Por uma questão de confidencialidade presente no contrato de Augusto, a identidade real do palhaço não podia ser revelada. O que causa diversos transtornos na vida do ator, tanto pessoais quanto profissionais, e a enorme carga de trabalho com a consequente fama transforma o antigo protagonista de pornochanchadas em um viciado em drogas, desde o álcool até a cocaína.
Parece um pouco dramático não é mesmo? E é, só que de uma maneira muito diferenciada. Somos mergulhados no universo bizarro de Bingo, e muitas vezes confundimos o palhaço com Augusto Mendes, tanto que podem ser observadas a incorporação de características do palhaço ao ator. Podemos observar um personagem cheio de camadas, que estão sempre dialogando. Muitas vezes somos forçados a pensar um pouco mais para entender o filme, a divagação mental do protagonista é incorporada ao filme, o que trás momentos de tensão e riso.
O diálogo entre o drama e o cômico é feita de uma maneira bem equilibrada, deixando a identificação do espectador com a obra mais fácil. Além disso, a fotografia e a trilha sonora foram desenvolvidas de uma maneira maravilhosa, e dialogam entre si. A caracterização do figurino e o cenário para os anos 1980 foi feita de uma maneira minuciosa, e o cuidado foi tomado até mesmo nas imagens aéreas da cidade de São Paulo.
Uma obra inovadora, e que mostra que o cinema nacional vem ganhando força. Triste é ouvir comparações com filmes americanos, ou ouvir que o filme nem parece que é brasileiro. Se não fosse brasileiro, não seria tão maravilhoso.
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