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A posse de armas e a violência norte-americana: há ligação?

Por Amanda Leite

Ataque em Las Vegas deixou mais de 500 feridos. Fonte: Revista Veja

No dia 2 de outubro, durante um show de música country realizado nas proximidades do hotel Mandalay Bay, em Las Vegas (EUA), Stephe Paddok, de 64 anos, matou 59 pessoas e feriu outras 527 a tiros. A policia capturou o suspeito, o assassinou e acredita que não exista mais agressores envolvidos. O chefe da polícia de Nevada, Joseph Lombardo, declarou considerar Paddok "um lobo solitário" - embora organizações e ativistas afirmem que o atirador é um terrorista.

Este evento, que tomou conta dos telejornais e dos veículos online, é considerado o maior ataque a arma de fogo nos Estados Unidos. Situações assim, entretanto, não são incomuns: os EUA já acumulam mais de 90 ataques do tipo em sua história. Enquanto os defensores de restrições mais rígidas se apoiaram no massacre de Las Vegas para exigir mudanças, o presidente Donald Trump disse acreditar que esse debate "não deve ser tratado agora". O país lidera o ranking de mortes ligadas a arma de fogo (em comparação com todos os homicídios) e tem o maior número de cidadãos armados do mundo.



COMO FUNCIONA A POLÍTICA DE ARMAMENTO NORTE-AMERICANA?



Como manda a Constituição, cada estado americano é livre para criar suas próprias leis, o que se aplica diretamente à política de compra e posse de armas de fogo. Mas, de maneira geral, um cidadão norte-americano pode adquirir de pistolas a fuzis de assalto em qualquer canto do país, contanto que não tenha um histórico de crimes. As alternativas são variadas: você pode adquirir uma arma em lojas físicas, páginas na internet ou em "gun shows" - feiras bastante populares onde se vendem esses artigos livremente.


No país, comprar uma arma é relativamente acessível: uma pistola pode custas apenas U$200 (aproximadamente R$630), enquanto que um fuzil de assalto tem um valor médio de U$1,5 mil (R$4,7mil, preço de muitos artigos eletrônicos no Brasil). Paddok, acusado de realizar o ataque em Las Vegas, tinha 23 armas só no quarto do hotel onde foi morto - em sua casa, havia mais 19. De acordo com a BBC, cerca de 40% dos cidadãos norte-americanos possuem uma arma ou vivem em uma casa onde há uma.

O presidente Donald Trump discursa na Associação Nacional  do Rifle. Fonte: Folha de S.Paulo

QUEM É A FAVOR DO ARMAMENTO? 


Embora o ex-presidente Barack Obama tenha tentado implantar leis de controle de armas, o projeto foi fortemente negado pelo Partido Republicano, o mesmo de Trump. A Associação Nacional do Rifle (NRA, em inglês) lidera inúmeras campanhas contra qualquer forma de controle de armas nos Estados Unidos, argumentando que a posse destas torna o país mais seguro - mesmo com os gráficos dizendo o contrário. A NRA é um dos grupos norte-americanos mais poderosos, com um orçamento capaz de influenciar membros do Congresso.


De acordo com o Instituto de Pesquisa Pew, em geral, um a cada cinco donos de armas nos EUA são membros da NRA. O grupo gasta, em termos de lobby, oficialmente cerca de U$3 milhões (R$9,4 milhões) por ano.


QUAL O MOTIVO DAS MORTES POR ARMA DE FOGO?


O número de vítimas de ataques como o de Las Vegas representa apenas uma fração do total de mortos por armas de fogo. Em 2015, houve quase duas vezes mais suicídios do que assassinatos - proporção que vem aumentando a cada ano. O suicídio por arma de fogo responde por quase metade de todos os casos nos Estados Unidos, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês). De acordo com o American Journal of Public Health, há uma correlação entre os níveis de posse de arma em um Estado e as taxas de suicídio de homens e mulheres.


Imagens e dados cedidos pela BBC.


QUAIS FORAM OS MAIORES ATAQUES? 


Antes do ataque ocorrido em Las Vegas, o massacre que liderava a lista era o de 12 de junho de 2016, quando, na boate Pulse, em Orlando, um atirador abriu fogo e matou 49 pessoas. Depois de manter reféns dentro da casa noturna, foi morto em uma troca de tiros. Em seguida, na lista, vem o ataque ocorrido em 2007, em Virgínia. Um estudante matou 32 pessoas e em seguida se suicidou no campus da Universidade de Virginia Tech. Todos os três maiores ataques ocorrem em um período de dez anos.


Embora existam grupos e organização que lutem pelo controle de armas e uma maioria significativa seja contra a posse destas, não há nenhum sinal de uma possível mudança vinda do governo. Por enquanto, as listas de ataques e de vítimas aumentam - assim como o tão valorizado mercado. A Casa Branca afirma que "debaterá as leis de armas com o passar do tempo".

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