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A polêmica do MAM


Por Lara Sylvia

Performancer Wagner Miranda Schwartz em sua apresentação. Foto por: MAM/Divulgação

Ocorrido em 26 de setembro, o trabalho envolvendo nudez artística realizado na abertura da 35º Mostra Panorama da Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM), gerou um caos coletivo e dividiu opiniões. A performance, chamada "La Bête", consistia na coreografia do premiado artista carioca Wagner Miranda Schwartz, que encontrava-se despido e permitia a interação do público, inspirada na série de esculturas "Bichos", de Lygia Clark, que podem ser movimentadas pelos visitantes.

A polêmica foi gerada por filmagens que mostram uma criança acompanhada de sua mãe, a também coreógrafa Elisabete Finger, ajoelhada tocando os pés do artista nu deitado no chão da sala. O museu e o próprio Schwartz foram alvo de ódio nas redes sociais, acusados inclusive de cometer pedofilia ao admitir que a menina tivesse contato com um adulto desnudo.

Still do vídeo em que a menina toca os pés do performancer nu. Foto por: Reprodução
Através da Internet, alguns políticos conservadores, e não-críticos de arte, se manifestaram contra a performance. O deputado Jair Messias Bolsonaro chamou os envolvidos de "canalhas", já o pastor Marco Feliciano de "infelizes destruidores da família" e o senador Magno Malta se referiu ao artista como "um imbecil". Esses se tornaram figuras conhecidas por seus insistentes discursos  racistas e homofóbicos.

Incentivadas pela organização de direita,  Movimento Brasil Livre (MBL), que está fazendo forte campanha contra a apresentação e, inclusive, declarou em sua página que a criança se sentiu constrangida, algumas pessoas protestaram na frente do MAM, dia 30 de setembro, com cartazes sobre erotização infantil e bandeiras do Brasil. Segundo um comunicado do museu, a manifestação terminou em violência: "No sábado, o museu foi palco de novo protesto patrocinado pelo mesmo grupo de indivíduos, que desta vez, além das agressões verbais, cometeram atos de violência física contra visitantes e colaboradores. Em resposta às agressões, o museu registrou dois boletins de ocorrência, nos quais constam também as denúncias de ameaças de danos ao patrimônio e à integridade física sofridas pelo museu, por meio de telefonemas anônimos e mensagens em plataformas de mídias sociais."

Protesto que culminou em agressão na frente do MAM. Foto por: Werther Santana/Estadão Conteúdo

O MAM divulgou uma nota oficial de esclarecimento no
Facebook, onde afirmava que o tema da apresentação estava sinalizado, de acordo com os procedimentos adotados pela instituição. Além disso, era ressaltado que o vídeo não contextualizava a obra, que não possuía nenhum teor sexual, e as más interpretações das imagens se davam pela falta de informação sobre o assunto e a deturpação do contexto.

Em entrevista à Carta Capital,  a especialista em educação sexual e presidente do Instituto Cores, Caroline Arcari, alertou sobre a importância do debate entre pais e filhos, para que não haja nenhuma "confusão quanto ao entendimento sobre consentimento, a diferenciação entre toques de afeto e toques abusivos e os limites quanto à privacidade e segurança em relação ao próprio corpo". 

Quando questionada sobre as medidas protetivas do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) contra cenas que possam causar constrangimento ou perturbação, ela explicou que crianças que são criadas em um contexto de rigidez ou conservadorismo familiar podem se constranger, mas crianças que crescem em um ambiente de nudez saudável são capazes de encarar performances como essa de forma natural. 

Como cada caso é muito particular, não é possível afirmar como a criança se sentiu sem perguntar a ela, mas a especialista garante que "a performance em si não apresentava conteúdo erotizado nem fazia apologia à violência sexual" e que "o MAM cumpriu a sua obrigação de sinalizar a nudez artística na performance. O caminho a partir dessa situação deve passar longe da censura e da criminalização desse tipo de arte. A performance não pode ser considerada apologia à violência sexual".

Fontes: Carta Capital, G1, MBL

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