SLIDER

Endometriose: Uma realidade silenciosa

30 de setembro de 2017


Por Lara Sylvia      

A endometriose é uma doença insuficientemente conhecida que prejudica muito a vida das mulheres. Foto por: Bruno Marçal

Pouco falada, mas muito recorrente, a endometriose é a doença que mais causa infertilidade nas mulheres do mundo inteiro. São cerca de 200 milhões de casos no mundo todo. É muito incerto afirmar o surgimento dela, mas há estudos que confirmam a primeira descrição da patologia em 1860. O nome "endometriose", porém, só passou a existir a partir de 1920, período em que se iniciaram pesquisas mais aprofundadas. 

É considerada endometriose quando o tecido endometrial, que reveste o útero e é expelido na menstruação quando não há gravidez, se desloca através do sangue e chega a locais fora da cavidade uterina, como ovários e trompas. Em casos mais graves, o endométrio pode sair do sistema reprodutor e chegar a órgãos como bexiga, intestino, apêndice e até pulmões.

Apesar de existirem várias pesquisas nos últimos 15 anos sobre o assunto, ainda não foi descoberta a causa exata dessa enfermidade. Entretanto, segundo a Associação Brasileira de Endometriose (SBE), as teorias mais plausíveis são as da menstruação retrógrada, quando o fluxo sanguíneo retornam pelas tubas uterinas, do sistema imunológico fraco ou das células, fora do útero, que se transformam em uma espécie de "outro" endométrio.

Os tratamentos da endometriose incluem o uso de métodos hormonais como os análogos de GnRH + inibidores da aromatase, que diminuem a produção de estrógenos ovarianos, pílulas anticoncepcionais orais, que podem inibir a menstruação, DIU hormonal, que diminui as lesões causadas pela presença de endométrio fora de lugar ou até cirurgias de retirada dos focos de inflamação. Não há cura para essa doença, mas os tratamentos podem dar bons resultados. Em casos mais graves, como pode ocorrer com o endometrioma de ovário e a endometriose profunda intestinal, é necessária a retirada do ovário ou de segmento do intestino com intervenção cirúrgica.

Levando a sério

Mesmo com todos os estudos que comprovam a gravidade da endometriose e o sofrimento impeditivo causado às mulheres, muita gente ainda acredita que as dores causadas por essa disfunção são "frescura". Isso acontece porque a cólica menstrual e a TPM são historicamente consideradas um "drama" feminino. 

Em entrevista à revista online Capitolina, o criador do primeiro ambulatório especializado no diagnóstico e tratamento da endometriose no Rio de Janeiro e escritor do livro "Endometriose profunda - o que você precisa saber", Marco Aurelio Pinho Oliveira, afirma: "A doença ainda é muito mal compreendida. (...) Na medida em que a dor é subjetiva, fica mais difícil para que as outras pessoas entendam a real magnitude do sofrimento da mulher portadora. Por isso, não são raras as vezes em que a mulher é taxada de fresca ou acusada de fazer 'corpo mole' no trabalho." Ele também diz acreditar que uma das causas pelas quais leva tanto tempo para diagnosticar essa doença crônica (de 7 a 10 anos) é que, além da sociedade, os profissionais de saúde também negligenciam os sintomas de dor, achando que todo tipo de cólica menstrual faz parte da vida da mulher e acabam não diferenciando da cólica específica do problema que envolve o endométrio.


Uma esperança para o futuro

Georgia Gabriela, no centro, e os outros quatro vencedores do programa Village To Raise Children. Foto por: Projeto Draft

Em 2015, a endometriose e as dificuldades que a cercam ganharam muito mais visibilidade quando uma jovem baiana de 19 anos, Georgia Gabriela da Silva Sampaio, escolheu esse tema para seu projeto, que foi premiado em um programa, da universidade Harvard, de incentivo à iniciativas na área de empreendedorismo social voltados à comunidade. 


A estudante, atual aluna de Stanford, iniciou suas pesquisas sobre a endometriose após assistir ao sofrimento de sua tia que, ao ter complicações por causa de um diagnóstico tardio, necessitou ter o útero removido. Ela conta, em sua apresentação no TEDxLaçador, que percebeu que "a endometriose não é apenas uma doença, é um problema social, já que o diagnóstico pelo SUS leva em média sete anos para ser realizado, podendo chegar até doze anos. E o diagnóstico pago pode custar até vinte mil reais, o que é claramente inviável para a maioria da população." E ainda acrescenta que os atuais métodos de diagnóstico, laparoscopia, videolaparoscopia, ressonância magnética e  ultrassonografia, além de inacessíveis, podem não funcionar. Pensando nas 10 milhões de mulheres que sofrem com o distúrbio no Brasil, Georgia teve sua proposta voltada para o desenvolvimento de um método de diagnóstico da endometriose por exames laboratoriais mais rápidos, baratos e não invasivos. Atualmente continua trabalhando nisso.

A representação feminina por Sofia Coppola

29 de setembro de 2017


Por Aline Reis

Anteriormente sempre relacionada ao pai, Francis Coppola, ou aos pequenos papéis como atriz, Sofia Coppola tem construído um legado por meio da maneira memorável com a qual tem dirigido seus filmes. De forma muito competente, Coppola tem mostrado sua arte àqueles que duvidavam da capacidade de uma diretora em mostrar mulheres humanas, que sentem, falam, amam e erram.

A diretora estadunidense é a cabeça e a alma de belas produções, como As Virgens Suicidas, Encontros e Desencontros,  Maria Antonieta e  O Estranho que Nós Amamos, seu mais novo trabalho. Coppola tem um jeito único de guiar o telespectador pela historia. Seus filmes são marcados por longas tomadas, com paletas de cores que transmitem emoções e trilha sonora pontual, essenciais na construção do clima individual se cada filme.

Mas nem só de aspectos técnicos os filmes de Coppola são feitos. Longe disso. Os elementos mais interessantes que compõem os filmes da diretora são as personagens, principalmente as femininas, que são representadas de maneira pouco vista no cinema. As mulheres de suas produções são vivas, sentindo tristeza, alegria, amor e arrependimento sem que isso as diminua ou as torne "mais fracas". Elas são amigas, mães e irmãs que interagem com outras mulheres, assim como acontece na vida real, e não são reduzidas às suas relações com homens, não que isso as impeça de se apaixonarem ou terem relacionamentos; as mulheres construídas por Sofia desenvolvem relações e tem seus corações partidos, sendo humanas acima de tudo.



As personagens de Sofia Coppola. Fotos: Reprodução

Sofia consegue retratar o universo feminino sem apelar para os viários clichês - como o da femme fatale ou o da dama em perigo -, permitindo que as mulheres que assistam aos seus filmes possam identificar-se com as personagens, uma vez que tudo aquilo poderia estar acontecendo na vida de qualquer um fora das telas.

Uma pesquisa realizada pela Universidade do Sul da Califórnia analisou os 100 longas-metragens mais lucrativos lançados entre 2007 e 2016, constatando que dos 1114 cineastas responsáveis pelos filmes, 96% eram homens e 4% eram mulheres, o que significa uma proporção de quase 24 diretores para cada diretora. Com dados tão alarmantes, precisamos dar atenção para as poucas mulheres que fazem parte do universo cinematográfico, ainda mais quando elas falam sobre outras mulheres com tamanho cuidado e habilidade.

As crianças que nasceram e viveram nos porões da ditadura

28 de setembro de 2017

Por Amanda Leite
 
Crianças fichadas pelo DOPS durante a ditadura. Zuleide, Luis Carlos e Ernesto, respectivamente, foram presos e levados para fora do Brasil como terroristas. Fonte: O Globo
 
Durante os 21 anos que vivemos sob o sanguinário governo militar, as atrocidades cometidas contra a população alcançaram os mais violentos patamares. Embora ainda pouco divulgados, os depoimentos das vítimas que foram torturadas entre os anos 1964 e 1985 percorrem o país afim de escancarar a verdade da época e buscar por justiça. 

É nesse contexto que conhecemos testemunhos de crianças, como Zuleide Aparecida do Nascimento, que foi presa e fichada pelo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), em 1970.  A garota, que na época tinha apenas 4 anos, foi levada pelos militares junto com seu irmão, Ernesto, de 2 anos, e seus primos Luis Carlos e Samuel, que tinham 6 e 8 anos respectivamente. Depois de serem separados de seus pais, que já haviam sido presos e eram torturados, as quatro crianças, graças ao Ato Institucional nº 13, foram enviadas à Argélia, por serem consideradas "inconvenientes, nocivas e perigosas para a segurança nacional", chegando a ser classificadas como terroristas.

"Eu acho um absurdo, desumano com certeza. Criança? Terrorista? A gente nem sabia o que estava acontecendo!", disse Zuleide em entrevista à Record

A menina, antes de ser enviada para fora do Brasil, foi instalada no Juizado de Menores, junto dos outros meninos, onde teve seus longos cabelos cacheados cortados à força: "Aquilo foi uma violência muito forte para mim", ela conta ao Jornal O Globo. Os quatro foram então mandados para a Argélia, junto de mais 40 presos políticos, e futuramente enviados para Cuba, graças a uma negociação da esquerda com o governo militar, que envolveu o sequestro do então embaixador alemão Ehrenfried von Holleben. Zuleide só pôde voltar para o Brasil 16 anos depois. "Sou uma pessoa sem identidade. Fui alfabetizada em espanhol. Meus documentos foram cassados, nem sei que dia nasci. Me sinto mais cubana do que brasileira."  

Amelinha, seu marido César e seus filhos Edson e Janaína. Fonte: Rede Record

Foi o caso também da família de Maria Amélia Teles, que relembra, em entrevista para a UOL, o dia que seus filhos, Edson e Janaína Telles, de 5 e 4 anos, respectivamente, foram pegos pelo temido Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. As crianças foram levadas até a sala onde a mãe estava sendo torturada: "Aquilo foi muito difícil para mim, eu estava suja de sangue, urina e vômito. Eles queriam me abraçar, mas não tinha como", conta. O filho, Edson, lembra o momento em que viu a mãe sendo torturada, na cadeira do dragão: "Ela me chamava 'Edson! Edson!'. Era a voz dela, mas quando olhei, não reconheci seu rosto. Ela já estava totalmente desfigurada".

Junto de Edson e Janaína, a polícia levou também a tia das crianças, Criméia Almeida, grávida de 8 meses. Na prisão, ela e seu filho, João Carlos Grabois, ou simplesmente Joca, foram torturados. Criméia conta que, toda vez ouvia as chaves do carcereiro, anunciando sua chegada, o bebê tinha soluços dentro da barriga: "Meu filho tem soluços até hoje, quando fica muito tenso", conta. Joca foi torturado antes mesmo de nascer: sua mãe levou diversos choques elétricos na barriga. Criméia deu a luz no Hospital do Exército de Brasília, mas foi logo separada de seu filho, que ficou preso por dois meses. 

Rose e seu filho Kaká, em 1974. Fonte: Portal Brasil

"Eles são tão covardes! Tão assassinos!", desabafou Rose Nogueira, para a Record. A jornalista descreveu o confronto que teve com o delegado Fleury, que queria prendê-la junto de seu filho recém-nascido: "Eu falei: não vou com meu filho! Vocês não vão por mão no meu filho!", contou em entrevista. "Ele disse que podia usar da violência e respondi que podia, era o máximo que ele podia fazer. Tão forte é a maternidade que uma hora ele simplesmente baixou os olhos."

Seu filho, Kaká, foi enviado para casa de parentes. Embora não tenha vivido nos porões da ditadura, ele não gosta de falar sobre o assunto: "É muito complicado para ele. A gente não consegue conversar tanto. Toda vez a gente tenta falar um pouquinho, acrescentando ao longo da vida".

As marcas que a repressão deixou na sociedade são profundas e não devem ser esquecidas. Hoje, os sobreviventes dos anos de chumbo divulgam a violência da época e lutam para que o país nunca mais viva nada tão sombrio como a Ditadura Militar.  


       

Teto de vidro: a luta das mulheres ainda não acabou


Por Marjorie Wartanian


A  ascensão do feminismo transformou a vida de muitas mulheres, dando a elas novas perspectivas e sonhos. O horizonte feminino aumentou e já podemos ouvir a famosa frase “Terra à vista” de dentro do nosso barco – que um dia pareceu estar afundando. O empoderamento realmente está – aos poucos - ganhando dimensões maiores. Contudo as mulheres ainda sofrem com empecilhos que lhes tiram do topo ou que lhes dão a sensação de incapacidade mesmo em cargos altos.

As mulheres sempre foram prestigiadas por serem sombras do marido, quem nunca ouviu a frase “por trás de um grande homem tem sempre uma grande mulher”!? Durante muito tempo divisão de tarefas sempre foi a mesma: o homem trabalha fora de casa e a mulher cuida do lar, ou seja, ele trabalha e é remunerado e ela trabalha gratuitamente. Assim, as mulheres foram ensinadas a estarem sempre atrás e cuidando de seus maridos; todos aprenderam a viver desse modo. Até que elas começaram a viver infelizes – principalmente as que investiram em seus estudos – por serem vistas sempre como sombras do “chefe da casa”, instituído pelo patriarcalismo.

A frustração feminina teve seu ápice nas décadas de 80 e 90, quando as mulheres perceberam que mesmo dentro do mercado do trabalho continuavam como sombras dos homens – agora, não só como do marido, mas também dos homens do meio corporativo. Elas dificilmente chegavam aos mesmos postos que eles e quando chegavam não se sentiam devidamente capazes e valorizadas. Era como se uma barreira invisível lhes parasse. Ela realmente parava – e ainda para –, essa barreira era o chamado Teto de vidro.


O teto de vidro

O teto de vidro é um conceito usado desde a década de 80 e tem esse nome por ser uma barreira sutil – de tão sutil se torna transparente – que dificulta a ascensão de mulheres aos cargos mais altos. Essa nomenclatura foi criada pela pesquisadora Ann Morrison - autora do livro “Quebrar o teto de vidro” - e foi usada pela primeira vez no Wall Street Journal, em 1986.

Apesar  da existência do discurso de que as mulheres ganharam mais espaço no mercado de trabalho, quando isso é analisado dentro das empresas percebe-se que a mudança é mínima. Elas ganharam importância em diversas áreas diferentes mas ainda continuam como sombra dos homens - pois eles estão lá, acima do teto, e elas só enxergam seus pés. Para confirmar isso, o pesquisador Danilo Coelho afirma, em um capítulo de uma pesquisa chamado Ascensão profissional de homens e mulheres nas grandes empresas brasileiras, que “No universo dos trabalhadores com carteira assinada, 39% são do sexo feminino e situam-se em nível educacional médio mais elevado do que a contraparte masculina. Entretanto, nas grandes empresas privadas da indústria de transformação brasileira, onde os salários estão bem acima da média, as mulheres representam apenas 23% do total de empregados”. - dados referentes a 2004. Com números concretos podemos perceber que as mulheres trabalham, mas não chegam lá. O teto de vidro está diariamente parando alguma mulher muito capaz de ocupar um cargo alto. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), em 2009 as mulheres ocupavam apenas 30% dos cargos empresariais altos no Brasil e 5% deles na América Latina.

Essas pesquisas demonstram e ajudam a sociedade e entender que as mulheres são menos escolhidas pelos empregadores. Nessa âmbito, fenômeno do teto de vidro explica que os empregadores supõe que as mulheres são menos capacitadas que os homens. Assim, elas são sempre subestimadas no mercado e tem que sempre ter um diferencial a mais que os homens, as mulheres precisam “se provar” muito mais que os homens. Tal necessidade é histórica, as mulheres sempre sofreram com o machismo e esse é só mais um reflexo dele na sociedade. O problema é histórico e social e, como todos os outros, leva algum tempo para começar a mudar.

Há ainda o fato de que as mulheres têm uma dupla jornada de trabalho. Elas precisam de dedicar não só ao trabalho fora de casa, mas também ao doméstico. Assim, tem menos tempo e menos prestígio. Os homens têm apenas o trabalho fora de casa, não precisam se preocupar com os cuidados da casa e dos filhos - que normalmente estão sendo cuidados por uma mulher - enquanto trabalham. Elas trabalham fora e dentro de casa e, nos dois locais, são inferiorizadas.


Não se desespere

Foto por Marjorie Wartanian 

Um fator que “engrossa” o teto de vidro é a desmotivação. Nós, mulheres, somos diariamente desmotivadas a irmos atrás de nossas grandes pretensões, uma vez que somos educadas a ser sombras masculinas, querem que sejamos sombra de nossos irmãos - e ensinam-lhes a mandar em nós -, pais, maridos - que saem para trabalhar e acham que devemos ficar em casa cuidando do lar em que os dois moram - e companheiros de trabalho. A desmotivação causa a sensação de incapacidade, as mulheres precisam fazer sempre mais para terem os mesmos resultados. Então, o que menos precisamos como mulheres é pensar que somos incapazes, já nos dizem muito isso.

Logo, não se desespere, todas as grandes mudanças sociais levaram muitos anos para serem mudadas. Até o início do século passado as mulheres não podiam votar ou ser votadas… até o início do ano passado a Presidente do Brasil era uma mulher. Em um século as mulheres conquistaram alguns direitos - como o de usar calças!!! - e aos poucos terão mais direitos. Já estamos gritando “Terra à vista”, os movimentos feministas estão crescendo, estamos, pouco a pouco, mais próximas da igualdade. As mudanças demoram, mas acontecem.

Sob os olhos das lentes

27 de setembro de 2017


Por Enzo Kfouri
          
            Domingo, 17/09, dia de Corinthians e Vasco no Itaquerão. 28 minutos do 2º Tempo. 0x0. Cruzamento da esquerda de Marquinhos Gabriel para Jô. O atacante tenta o cabeceio, mas não consegue e acaba empurrando a bola com o antebraço. Juiz valida o lance. Gol da vitória para os comandados de Fabio Carille e mais três pontos na tabela.
     
Por muito tempo, em vários outros domingos e quartas-feiras de futebol brasileiro, irregularidades e erros de arbitragem como esse passaram despercebidos. Entretanto, essa realidade está prestes a acabar. A CBF, após a péssima repercussão que o lance teve, resolveu finalmente adotar o sistema de arbitragem de vídeo, já presente há muito tempo em outros esportes, como o vôlei, o tênis e o atletismo.


Lance polêmico em que o atacante corintiano Jô empurra a bola com a mão e faz o gol da vitória contra o Vasco. Fonte: Globoesporte

        O VAR (em inglês Video Assistant Referee, ou em português, Árbitro Assistente de Vídeo), como é chamado o sistema, entrará em campo para esclarecer dúvidas quanto a jogadas polêmicas e somente poderá ser solicitado pelo árbitro. A princípio poderá anular decisões do juiz de campo e valerá para apenas quatro ocasiões: gol, pênalti, cartões vermelhos e erros na identificação de jogadores na aplicação de cartões.
         A confederação, que havia dito que o recurso seria implantado já na rodada do fim de semana passado (23, 24 e 25/09), adiou, porém, a implantação da tecnologia para a 28ª rodada do campeonato brasileiro, que ocorrerá nos dias 14 e 15/10.
        A justificativa para tal alteração é o fato de que é necessário um curso para os árbitros que utilizarão os equipamentos, que ocorre entre 20/09 e 11/10. As aulas englobam, como define a instituição, “aspectos técnicos e práticos para a habilitação de supervisores de VAR”. O prazo garante um tempo relativamente razoável para o treinamento dos profissionais, a chegada dos aparelhos e a adaptação dos estádios.
        Novidade no futebol, esse recurso já é utilizado no vôlei desde o mundial de clubes de 2012 e se torna a cada dia mais imprescindível, presente pela primeira vez em uma olimpíada nos Jogos Olímpicos do ano passado, no Rio de Janeiro. Seu uso é diferente, podendo ser pedido pelo técnico, que solicita ao juiz a revisão do lance. Ao todo são dois pedidos por set, sendo que se o desafio estiver certo, as solicitações seguem na mesma quantidade, esgotando-se somente caso o recurso do time esteja equivocado.

Atletas do vôlei masculino aguardam resultado do "Video Challenge" durante partida nos Jogos Olímpicos do Rio. Fonte: Pinterest

           Já no tênis a tecnologia tem uma história mais longa. Desenvolvido em 2001, o “Hawk-Eye” (olho de falcão, traduzido do inglês) começou em 2005, após a péssima atuação da juíza portuguesa Mariana Alves, durante a disputa das quartas de final do “US Open” feminino de 2004 entre Serena Williams e Jennifer Capriati, em que a arbitragem acabou prejudicando o bom nível do jogo de Williams. O sistema de vídeo no esporte é utilizado para a marcação de bolas dentro ou fora da quadra e podem ser solicitadas pelo jogador, que tem 3 desafios por set, seguindo o mesmo formato do vôlei.        
Além disso, há também o judô, com a revisão de lances de extrema dúvida, o atletismo, com o recurso de “photo finish” (foto de chegada) para se saber com certeza quem venceu a corrida, a esgrima, com os sensores que permitem identificar se determinado golpe atingiu ou não o competidor, e muitos outros esportes que também fazem o uso de câmeras ou filmagens para contribuir para a maior validade das decisões dos juízes. 

"Hawk-Eye" sendo utilizado em uma partida de tênis. Diz com precisão se certa bola foi dentro ou fora de quadra. Fonte:  GameSetMap
Em plena ascensão da tecnologia e do desenvolvimento de aparelhos eletrônicos cada vez mais novos é natural que os esportes se tornem adeptos ao uso de meios de averiguação de lances polêmicos. Com esses equipamentos, quem acaba decidindo o jogo é o atleta e não o árbitro.
           É óbvio que há um tempo entre a implantação do desafio em vídeo e sua disseminação, como é o caso do tênis que, por mais que tenha sido utilizado pela primeira vez em 2005, o sistema somente se popularizou 2 anos depois, em 2007. Entre as razões para isso acontecer estão os elevados custos de adaptação de arenas, ginásios ou estádios, além do tempo de capacitação dos novos árbitros. 
       Apesar disso, não parece que os custos serão uma barreira muito difícil de ultrapassar para a modalidade com a maior visibilidade no mundo. Assim, com o esporte no geral cada vez mais se modernizando, o futebol se torna forçado a se adaptar e a ceder. 

Feliz aniversário, MASP!

Por Thays Reis

Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand em 2009   Fonte: Divulgação

       São Paulo comemora, no dia 2 de Outubro, o aniversário de 70 anos do museu de arte ocidental mais importante do hemisfério Sul, o Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand. Para comemorar, o museu terá programações gratuitas o mês inteiro – performances, oficinas, cinema, shows, palestras e muito mais. 
       A festa já começa no domingo, dia 1 de outubro, a partir das 10h com shows de Juçara Marçal, Paulinho Tó e o projeto Teto Preto. Nos intervalos dos shows ocorrerão oficinas de jogos para crianças e adultos, com construção de modulares de madeira e tecido, práticas teatrais e customização de artigos em uma estação de serigrafia (técnica de tintura em tecidos). Além disso tudo, ainda vai rolar visitas especiais ao acervo do museu.
       Já no dia oficial do aniversário, 2 de outubro, a visitação terá seu horário estendido das 10h às 22h de graça. As exposições disponíveis na data serão "Miguel Rio Branco: nada levarei quando morrer", que consiste em 61 fotografias da região do Pelourinho (BA) em ambientes estigmatizados pela pobreza, prostituição e crime; "Tracey Moffatt: montagens", com três dos oito vídeos da série e tratam sobre temas como alteridade, raça e gênero; "Guerrilla Girls: gráfica, 1985-2017", que trazem uma retrospectiva de 116 trabalhos das ativistas feministas que criticam preconceito de raça e gênero em várias áreas, da arte  a política; "Pedro Correia de Araújo: erótica" traz a produção do pernambucano, que aborda o erotismo de forma alternativa, deixando claro seus traços geométricos propositais; e, por fim, o "Acervo em transformação" é a exposição semipermanente  da coleção, que está sempre aberta a pequenas transformações e mudanças, que evita a ossificação de coleções tradicionais de museus.
       Às 19h será imperdível ver as persianas das janelas do segundo andar do MASP se abrindo, especialmente para o aniversário. É algo raro e histórico, já que a última vez que aconteceu foi em dezembro 2015, quando se trouxe de volta os cavaletes de cristal de Lina Bo Bardi para o espaço na abertura da exposição "Acervo em transformação". Os cavaletes fazem parte da idealização arquitetônica de Lina Bo Bardi, que questiona o tradicional modelo europeu de museu que formaliza uma trajetória de observação, uma hierarquia e uma organização das obras de arte nas paredes. Os cavaletes de cristal, a galeria aberta e as transparências dão fluidez e tornam a apreciação mais livre, democrática e permeável.  
       Ao longo do mês ainda ocorrerão eventos muito interessantes, como a palestra de Claudia Andujar sobre seu trabalho na exposição fotográfica dos índios Yanomami "Maxita Yano: olhar, escutar, ler Andujar" no dia 7; Diálogos no acervo, que oferece visitas especiais, também terão oficinas voltadas para o público infantil no Dia das Crianças no dia 12; a série OSESP MASP, Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo em parceria com o museu, apresentará concerto com composições de Bach, Astor Piazzola, Roberto Sion, Leonard Bernstein e Charlie Parker em diálogo com a obra "Composição com fundo amarelo e vermelho" (1945), de Alexandre Calder no dia 16; e o Clube de Leitura com debate o livro "O Amigo Americano – Nelson Rockfeller e o Brasil, de Antonio Pedro Tota, no dia 18; o seminário Histórias afro-atlânticas traz curadores, especialistas e artistas nacionais e internacionais para debater tópicos que se relacionam à África, às Américas, ao Caribe e à Europa acontecem no dia 20 e 21.
       Para finalizar essa intensa programação, o MASP recebe no seu Vão Livre a 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo gratuitamente do dia 23 a 28 de outubro, a partir das 19h30. A Mostra, que também comemora 40 anos, foi idealizada no próprio MASP em 1977 por Leon Cakoff, programador de cinema, que exibiu os filmes da Mostra no Auditório do MASP até a sétima edição, em 1983.

Ascensão da extrema-direita: a Alemanha para os alemães

26 de setembro de 2017

Por Carolina Avólio    

"Escolher o AfD é tão 1933!" (Foto: I. Wagner)
       Não é difícil imaginar a razão pela qual desde 1945 a Alemanha não via a presença da extrema-direita no âmbito parlamentar. No entanto, esse panorama mudou. No último domingo (24), o Alternativa para a Alemanha (AfD), partido nacionalista de direita, conquistou 13,2%¹ dos votos, representados por 87 parlamentares – o terceiro maior partido das eleições de 2017. 
       Criado em 2013 em protesto contra a União Europeia e seu plano para salvar a Grécia e valorizar o euro, o AfD foi radicalizando sua proposta para atingir mais eleitores e assim chegar ao Parlamento. A ascensão do partido nacionalista alemão se difere de outros países europeus cujos governos penderam novamente para a direita, porque, ao contrário daqueles, a Alemanha se encontra em estabilidade econômica. De acordo com cientistas políticos, metade dos eleitores do AfD simpatizam com a extrema-direita e a outra parte votou em protesto. 
       A política adotada por Angela Merkel, chanceler alemã, abriu espaço para o partido extremista. O abandono do uso de energia nuclear e a suspensão do serviço militar obrigatório, por exemplo, deixaram os mais conservadores com o sentimento de estarem “órfãos”. 


Política anti-imigração e anti-islamismo 


       A grande força impulsionadora do partido é a sua forte política anti-imigração “à la Donald Trump”. Mais de 1 milhão² de refugiados atravessaram a fronteira alemã em busca de uma nova vida, o que causou a retomada da xenofobia: a identidade nacional foi usada como forma de discriminação e os refugiados rapidamente começaram a ser associados à criminalidade. “Vamos recuperar o nosso país e o nosso povo”, disse Alexander Gauland, um dos líderes do partido. Ele defende o fechamento completo das fronteiras, indo contra o acordo de livre circulação da UE. 
       Os membros do AfD acreditam que o islã é incompatível com o ocidente e, portanto, a presença de imigrantes provenientes de países islâmicos é considerada como um risco à cultura alemã. O manifesto do partido tem uma seção inteiramente dedicada à política anti-islamismo e propõe a proibição do financiamento estrangeiro de mesquitas, da burka e do azan, como é conhecido o chamado muçulmano para as orações diárias. Eles também sugerem submeter todos os imãs (líderes religiosos muçulmanos) a um procedimento de verificação pelo Estado. 

Campanha do AfD: "pare a islamização". (Foto: Getty Images)




Mudanças climáticas 

       O partido, novamente na trilha de Donald Trump, acredita que as declarações sobre as mudanças climáticas não possuem estudos precisos o suficiente para serem levados a sério. Portanto, prometeram resistir às políticas internacionais que protegem o meio ambiente. 

A questão judaica 

       O Holocausto deixou marcas permanentes na sociedade alemã. A comunidade judia de todo mundo observou com perplexidade a extrema-direita reascender num país outrora tido como muito seguro para judeus. Coincidência ou não, dados recentes mostram que crimes antissemitas aumentaram 4% nos primeiros oito meses de 2017, em relação ao mesmo período do ano anterior. 
       “É abominável que o partido AfD, um movimento reacionário vergonhoso que repete o pior do passado da Alemanha e deveria ser proibido, agora tenha a habilidade de promover sua plataforma vil no parlamento alemão”, afirmou Ronald Lauder, presidente do Congresso Judaico Mundial. As comunidades judaicas se preocupam com o alto índice de intolerância espalhado pelo partido durante a campanha eleitoral e ressaltam a importância de haver um isolamento político do AfD, o que já foi comentado por Angela Merkel. 
       Fica claro, mais uma vez, que a extrema-direita se alimenta do medo e do ódio. No caso da Alemanha, os refugiados são o alvo principal e a fonte de tanto poder populista. 



¹ Fonte: G1.

² Fonte: El País.

      

CRÔNICA: O que toca o seu coração?

Por Matheus Lopes 

Arte: Felipe Guga - @ofelipeguga (Divulgação)

       Certo dia estava com um gosto amargo na boca. Um aperto no coração, minha cabeça doía e eu ficava zanzando por essa mesma cabeça à procura de algum sinal que, porventura, a vida me desse sem querer. O gosto de fel não passava. Nisso já era noite, e eu fui atiçar a vitrola do século XXI e dar um Google na minha estante de livros.
       Ao pegar alguns títulos, que já estavam se surrando pela constante consulta, eu começava a sintonizar na estação dos que amaram demais. Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa, pelo heterônimo de Álvaro de Campos – no caso deste autor referenciado-, Rachel de Queiroz, Pablo Neruda, e mais alguns cronistas, poetas, e escritores em geral. Eram tantas coisas bonitas, como:

Não se deve xingar a vida,
A gente vive, depois esquece.
Só o amor volta para brigar,
Para perdoar,
Amor cachorro bandido trem.
Mas, se não fosse ele, também que graça a vida tinha”       
 Carlos Drummond de Andrade

       Nesse momento meu coração sintonizou definitivamente, por um sábio gesto, na estação dos poetas. Quem dera eu um dia ser poeta, contudo, reconheço que é um dom muito “mais grande” do que os meus croniquismos. Reconheço e prefiro ficar aqui no mundo terreno. Vou ouvir, ler, compartilhar, fazer croquis; no mais, arriscar de vez em quando. A angústia de poeta é idem, porém, poeta não serei. Não tardando justificativa para a vocação, não deixarei de apreciar um bom licor poético. Uma garrafa por dia. Em pequenas doses, de cinco em cinco minutos, na veia.
       Todos estes fragmentos de poesia, em diversos momentos, acalentam a mente na hora do gélido sopro que a vida dá, como uma frente fria marítima que nos obriga a tirar do armário um sobretudo. Sobre tudo – da vida –, na hora do frio, precisamos nos agasalhar. Pegamos um velho casaco, vermelho de lã, pela alcunha de um Pablo Neruda, para nos aquecer na sarjeta, no sereno do começo da manhã, quando precisamos de uma calefação para a alma: “[...] Tuas raízes atravessaram o meu peito [...] falaram pela minha boca, floresceram comigo. ”

       Se não fosse o florescer do amor, enraizado pelo peito, desabrochado pela fala; entrelaçado nos ramos de duas mudas serrando, nos segredos proibidos do jardim do Éden, que graça a vida tinha? A máxima desse começo de primavera eu já tive, desde a outra primavera, pela frase: “Cada um viveu tanto, quanto amou”, de Tolstói. É, caro jardineiro Tolstói: cada um viveu tanto quanto sentiu o amor, pelos seus cheiros de flor, pela beleza das sépalas, pelos grossos caules profundos que fincaram no chão dos nossos peitos. Cada um viveu tanto, quanto floresceu. 

A infantilização do Youtube

25 de setembro de 2017

Por Roberta Domingues


O vídeo da banheira de Nutella do youtuber Luccas Neto tem mais de 8 milhões de visualizações. Foto: reprodução


Lançado em 2005, o Youtube tem se tornado um site um tanto controverso. A plataforma possui vídeos dos temas mais variados — desde compilações de pegadinhas do Silvio Santos até tutoriais de marcenaria — , mas de uns anos para cá vem sendo palco de disputas por likes e views.

Vídeos como a da banheira de nutella e notícias chocantes como a garota que acidentalmente matou o namorado enquanto fazia um vídeo são temas que têm gerado discussão acerca do tipo de conteúdo que se vê no Youtube. As novas gerações, ainda crianças, têm acesso à plataforma por meio da sua precoce introdução à tecnologia, e isso tem efeito: a guia no Youtube que mostra os vídeos mais populares do momento tem predominância de temas como “trollagem”, jogos online e desafios que têm como público alvo pessoas mais jovens.

A guia "em alta" no Youtube e a apelação para views e likes. Foto: reprodução.

Esse é o problema para o pessoal mais velho — principalmente aqueles com mais de 25 anos. A infantilização do Youtube tem afastado essa faixa etária do site, que diz que não se identifica com o conteúdo produzido em massa.

Na contramão dessa ideia, pode-se ver recentemente o crescimento de canais que focam mais no conteúdo adulto. Um exemplo é a youtuber e blogueira Juliana Goes, que trata de espiritualidade, auto-estima, problemas amorosos e conselhos para a vida em geral, além de postar vídeos semanais contando sobre sua primeira gravidez. Aos domingos, Juliana faz vídeos com reflexões profundas e palavras de sabedoria, de temas como “como aprender com suas inseguranças” e “como ter mais equilíbrio emocional”. Essa série de vídeos ficou conhecida como Domingo Zen.


"Muitas vezes a gente exige tanto da gente, a gente quer estar pronto para tudo, e não, não vamos estar prontos para tudo", diz Juliana Goes em seu vídeo para o Domingo Zen. Foto: reprodução.


Para quem prefere algo mais político e opinativo, tem-se visto o crescimento de canais como o do PC Siqueira e Rafinha Bastos, que discutem temas atuais de forma dinâmica, além de tratar sobre assuntos como crise dos 30, ser pai, depressão e política.

Outro canal que chegou para promover discussões mais maduras é o Ilha de Barbados. PC Siqueira, Rafinha Bastos e Cauê Moura reúnem-se em dois vídeos por semana para falar sobre os mais variados assuntos, como sexo e conselhos sentimentais, além de paternidade e relacionamentos.


Formado por pessoas mais velhas, o Ilha de Barbados discute temas pertinentes àqueles com 25 anos ou mais. Foto: reprodução.


Outra youtuber que pensa em um conteúdo mais maduro é a JoutJout, que frequentemente fala sobre temas como feminismo, ansiedade e problemas com o corpo.


O Articulista também recomenda os canais TEDTalks e TED-Ed, ambos voltados para discussões sobre os mais variados temas com pessoas que entendem do assunto.

Body Positive: A prova de que todos os corpos podem ser incríveis

24 de setembro de 2017


       Por Lara Sylvia

Projeto Resistir da marca de lingerie The Bralette Boutique que conta as histórias de aceitação do corpo de dez mulheres. Foto: The Brallete Boutique
       Em meio aos padrões de beleza inalcançáveis que vêm tomando conta da mídia e da vida de milhões de mulheres há muitos anos, existe um movimento que veio nos trazer uma pitada de esperança e autoestima. O Body Positive (corpo positivo, em inglês) é um movimento online de mulheres em mídias e redes sociais, como Instagram e Youtube, que visa a auto aceitação e provar que é possível adotar um estilo de vida livre de tanta pressão estética.
       Desde digital influencers a pessoas comuns, esse movimento tem mudado a perspectiva feminina sobre a sua forma física. Ele começou nos Estados Unidos com garotas e mulheres de variadas idades que, após terem passado por problemas relacionados à auto imagem, como baixa auto estima, distúrbios alimentares e depressão, perceberam que não havia problema algum com o próprio corpo e sim com a forma que a mídia capitalista nos faz consumir uma beleza padronizada tida como perfeita ou mais saudável, o que geralmente inclui ser magra, alta, sem celulite, estrias ou quaisquer tipo de "defeitos".
       As mulheres ativistas do Body Positive quase sempre são pessoas fora do padrão que incentivam o debate sobre a aceitação do corpo em suas redes sociais através de vídeos sobre o assunto, textos e fotografias no estilo "antes e depois", só que o inverso das do tipo "fitness", nas quais é mostrada a evolução de um corpo gordo para outro magro. Nessas, elas tentam parecer o mais natural e verdadeiras possível, pois procuram alertar sobre o impacto negativo que imagens de corpos impecáveis de capas de revista, que, na verdade, são predominantemente editadas, modificadas e posadas, podem causar às jovens da geração atual e das que estão por vir.

Foto posada vs. foto natural da feminista e ativista corporal Megan Jayne Crabbe. Foto: @bodyposipanda
      Fotos desse gênero popularizaram no Instagram após a publicação de Taryn Brumfitt, a criadora do documentário Embrace e fundadora do Body Image Movement (BIM), um projeto que promove a autoestima feminina pós-gravidez. Após ter três filhos, ela passou a odiar seu corpo e a tentar mudá-lo radicalmente, mas ainda assim não se sentiu satisfeita. Ao pensar no ensinamento que estaria passando à sua filha, ela começou a se aceitar do jeito que é, e apenas depois disso encontrou a felicidade. Seu filme foi lançado em maio deste ano no Netflix e narra a trajetória de Taryn por diversos países no intuito de conversar com mulheres sobre a imagem que elas têm de si mesmas e analisar a indústria da beleza e da moda, que perpetuam os padrões estéticos.
       Histórias com a de Taryn estão se tornando cada vez comuns. É o caso de algumas brasileiras que ficaram muito conhecidas por promoverem a aceitação corporal, como Miriam Bottan (@mbottan), do Instagram, e Ellora Haonne (@ellorahaonne), do canal de mesmo nome, que venceram a bulimia e apreciam até as dobrinhas de suas barrigas. Assim como Luiza Junqueira (luizajunquerida), Alexandra Gurgel (@alexandrismos) e Ju Romano (@ju_romano) que também são youtubers e falam sobre gordofobia e amor próprio.

Taryn Brumfitt antes e depois de amar o seu corpo com as marcas da gravidez . Foto: Divulgação
       Justamente por tentarem desconstruir os paradigmas, midiáticos, acabam sofrendo com comentários preconceituosos na internet. As mulheres, gordas principalmente, que tentam inspirar outras a amarem seus corpos independente da opinião dos outros, recebem várias mensagens ofensivas, machistas, racistas, no caso das negras, e gordofóbicas sobre sua aparência. Porém, o movimento, que está ligado diretamente ao feminismo, resiste e faz efeito: segundo pesquisas apresentadas na edição 124 da Convenção da Associação Americana de Psicologia, em 2016, foi constatado que o sexo feminino está mais contente com o seu físico do que em 1980 e 1990, e que há uma grande chance dessa mudança ter sido causada também pelas campanhas de aceitação da diversidade corporal.
       Apesar do grande avanço do ativismo em prol da atitude positiva em relação ao corpo, pesquisas divulgadas no documentário Embrace mostram que 91% das mulheres ainda não se sentem satisfeitas com o que vêem no espelho. Por essa razão, é muito importante que existam cada vez mais conteúdos como o Body Positive para serem consumidos, na internet e fora dela, que ajudem as garotas a amar a si mesmas cada vez mais e perceber que existe beleza nos corpos iguais aos delas e nos diferentes também. 


A youtuber Ellora Haonne se sente super confortável com a sua barriguinha. Foto: Kira Lopes
Confira mais alguns perfis para se inspirar:
@iskra
@tessholliday
@nolatrees
@tamanho_p
@curvycampbell
@bodyposipower
@relaxaaifofa
@breekwarren
@carladerossi
@celine_denefleh
@selfloveclubb

Pílula anticoncepcional: da revolução sexual às dúvidas e polêmicas.

Por Larissa Coelho

Foto: Kwangmoozaa/ShutterStock.com

          Aprovada em 1960 pela FDA, órgão norte-americano que controla os medicamentos, a pílula anticoncepcional foi fundamental na emancipação feminina e na revolução sexual, ao mesmo tempo que era duramente criticada quanto aos critérios de segurança para a aprovação da fórmula.
      A pílula anticoncepcional que conhecemos hoje nasceu de um medicamento voltado aos distúrbios da menstruação: o Enovid. A sua bula trazia como uma das advertências a suspensão temporária da fertilidade e, logo, o que era um efeito colateral se tornou o principal motivo para o uso do medicamento. Entre 1957 e 1960 cerca de 500 mil mulheres recorrem ao Enovid. 

O que é a pílula anticoncepcional?

        A pílula anticoncepcional é um comprimido que tem em sua base a utilização de hormônios e inibe a ovulação. Ela também torna a mucosa que cobre o interior do útero menos atraente para os espermatozoides, impedindo a penetração deles na cavidade uterina.
         Há hoje no mercado, dois tipos de pílulas: as combinadas e as minipílulas. As combinadas com os hormônios sintéticos da progesterona e do estrogênio, semelhantes aos produzidos pelo ovário da mulher e as minipílulas que contém apenas um hormônio, a progesterona, e são indicadas para quem apresenta efeitos colaterais com outros tipos de pílula.
        Dentre as combinadas estão as: monofásicas, bifásicas ou trifásicas. O que as diferencia é se a dose hormonal varia ou não ao longo da cartela.


  • Monofásicas: A dose de hormônios é a mesma em todos os comprimidos da cartela.
  • Bifásicas: Contém dois tipos de comprimidos com os mesmos hormônios, mas em proporções diferentes.
  • Trifásicas: Contém três tipos de comprimidos com os mesmos hormônios, mas em proporções diferentes.


Os testes da pílula

        Segundo um artigo publicado no jornal The Washington Post, os testes realizados são "um dos capítulos mais controversos - e raramente discutidos - da história de uma droga que simboliza a libertação das mulheres".
        Para que a eficacia do medicamento fosse comprovada, os médicos precisavam aumentar a escala de testes. Isso não seria possível nos Estados Unidos, devido à barreiras legais. A solução foi voltar o experimento para Porto Rico, ilha caribenha que, desde 1950, é um Estado livre associado dos Estado Unidos. Superpopulosa e ausente de leis que proibissem contraceptivos, Porto Rico era mais do que propícia aos cientistas.
        Em 1956, mais de 200 mulheres porto-riquenhas foram testadas, muitas delas já com uma grande quantidade de filhos, dispunham de poucos ou nenhum método contraceptivo. Elas receberam altas doses hormonais sob quase nenhuma informação sobre o experimento. Muitos dos efeitos colaterais informados por elas foram desconsiderados pelos médicos.
       Os testes duraram de 1956 a 1964. 1500 mulheres participaram do experimento, 3 delas morreram, mas como não feita autópsia não é possível confirmar se a morte delas estava ligada ao uso da pílula.

A pílula masculina

        Desde a década de 1950 pesquisas para o desenvolvimento de um método contraceptivo eficaz e reversível para os homens têm sido feitas. Nos anos de 1970 o médico brasileiro  Elsimar Coutinho, especialista em fertilidade e controle de natalidade, trabalhou em parceria com o governo chinês realizando testes com uma droga não hormonal chamada gossipol. Com doses diárias aplicadas em 8.806 homens chineses, a droga diminuiu a contagem masculina de esperma. Os testes continuaram até 1980 quando a pesquisa foi encerrada devido a efeitos colaterais como queda de potássio no sangue e baixa permanente de fertilidade.
        Em 2016 uma pesquisa com um anticoncepcional injetável masculino foi interrompida e gerou repercussão. Após quase oito anos de pesquisa foi concluído que, apesar da eficiência de 96% compatível com a de métodos femininos, os efeitos colaterais impossibilitavam  a sua liberação, entre eles: variações bruscas na libido, maior tendência a desenvolver depressão, dor excessiva no local da aplicação, acne e alterações de humor.
        As pílulas anticoncepcionais femininas disponíveis no mercado causam em suas usuárias 23% mais chances de desenvolver depressão. No caso das pílulas de progestógeno esse número sobe para 34% e entre mulheres com idade entre 15 e 19 anos a taxa sobe para 70%.
       "Entre 20% e 30% das mulheres que tomam pílulas anticoncepcionais sofrem de depressão e têm que tomar medicação para isso. Esse estudo foi interrompido após apenas 3% dos homens relatarem sintomas do problema. É chocante". É o que afirma a professora da Universidade de Indiana (EUA) Elisabeth Lloyd à rede americana CNN.

Quais são as alternativas à pílula?

1 caso de gravidez a cada 100 usuárias:

  • DIU:  é um pequeno dispositivo inserido no interior da cavidade uterina através de um procedimento relativamente simples. Existem dois tipos de DIU: o de cobre que é livre de hormônios ou o hormonal que libera o hormônio progesterona.
  • Implante subcutâneo: o implante tem formato de um pequeno palito de fosforo e é implantado na parte interna do braço não dominante da mulher, logo embaixo da pele. Ele libera diariamente uma quantidade de hormônio sintético, a fim de inibir a ovulação.
  • Laqueadura: é uma cirurgia para esterilização voluntária definitiva, na qual as trompas da mulher são amarradas ou cortadas, evitando que o óvulo e os espermatozoides se encontrem. Só pode ser feita em mulheres com mais de 25 anos ou com ao menos dois filhos.


De 6 a 9 casos de gravidez a cada 100 usuárias:

  • Injeção hormonal:  é um método contraceptivo que possui em sua fórmula a combinação de hormônios. Pode ser mensal ou trimestral e deve ser aplicada na região glútea. Ela inibe a ovulação.
  • Adesivo: é um material aderente que deve ser colado na pele da mulher e permanecer na mesma posição por uma semana. Esse método contraceptivo possui em sua fórmula a combinação de dois hormônios: progestogênio e o estrogênio.
  • Anel vaginal: é um pequeno anel flexível que deve ser colocado na vagina permanecendo por três semanas. Após a retirada do anel, deve-se fazer uma pausa de sete dias e um novo anel deve ser utilizado. Os hormônios liberam estrogêneo e progestagêneo, que entram na corrente sanguínea e atuam inibindo a ovulação.


De 12 a 24 casos de gravidez a cada 100 usuárias:

  • Camisinha masculina e feminina: o mais popular método contraceptivo, além de prevenir a gravidez também protege contra doenças sexualmente transmissíveis.
  • Diafragma: o diafragma é um anel flexível envolvido por uma borracha fina, que impede a entrada dos espermatozoides no útero. Para haver o funcionamento correto do diafragma, a mulher deve colocá-lo dentro da vagina cerca de 15 a 30 minutos antes da relação, e retirá-lo 12 horas após o ato sexual. É um procedimento que não libera hormônios, funciona como uma barreira.


28 casos de gravidez a cada 100 usuárias:

  • Espermicida: é um produto que pode matar ou imobilizar os espermatozoides.Pode ser em creme, géis, supositórios, sprays e espumas. Esses tipos de espermicidas devem ser introduzidos dentro da vagina antes da relação. No caso do espermicida em comprimido, deve ser ingerido 10 minutos antes do ato sexual.

© O Articulista • Theme by Maira G.