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Mulheres Loucas

26 de março de 2018

POR ALINE REIS

O mito da histeria feminina

Na Grécia Antiga, a histeria era diagnosticada como uma doença que acometia somente mulheres. A causa era atribuída ao deslocamento interno que o útero realizava em busca de umidade. No século XIX já havia uma lista com mais de 75 sintomas atribuídos à doença, que incluem irritabilidade, insônia, ansiedade e outras questões de natureza sexual. Assim, as reações emocionais legítimas das mulheres eram catalogadas como sintomas de uma doença, resultando em um controle constante sobre toda a expressão sentimental num geral - tanto por parte dos homens quanto por parte das próprias mulheres, que podavam a manifestação emocional com medo de serem consideradas doentes.

Assim, as mulheres eram constantemente desacreditadas, já que qualquer reação emocional era considerada um sintoma da histeria. A suscetibilidade à doença tornava o discurso vindo de uma mulher menos plausível do que quando vindo de um homem, atestando, portanto, a inferioridade tanto física quanto psicológica do sexo feminino em relação ao masculino.

TPM: a loucura moderna

Praticamente todas as mulheres - após uma reclamação ou um comentário mais enérgico - ouviram: "mas você tá de TPM?". Novamente, uma reação natural do corpo feminino é utilizada para diminuir e deslegitimar a fala da mulher, que tem suas vontades e ações resumidas a uma função hormonal, deixando de ser tratada como um ser de mesmo valor racional quando comparada com um indivíduo masculino.

Paola Paredes

A Tensão Pré-Menstrual (TPM) é um período de alteração hormonal que ocorre em mulheres, antecedendo o período menstrual. Seus sintomas apresentam variação de acordo com fatores sociais e culturais, causando reações distintas entre cada mulher. Além disso, nem todas as mulheres exibem sinais, tanto emocionais quanto físicos, de TPM durante o ciclo menstrual.

Ainda que de fato resulte em uma mudança no comportamento da mulher, a TPM não é um monstro a ser combatido ou um fator negativo. Quando acontece, é o indicador de reações normais, ajudando no controle da saúde feminina. A TPM não deve ser usada como uma arma para reduzir as expressões femininas, como normalmente acontece. Por exemplo, se no trabalho uma mulher tem pulso firme e exige o máximo de produtividade de seus funcionários, ela é chamada de frígida ou questionada sobre a situação de seu ciclo menstrual a todo o momento. Já quando o mesmo comportamento é advindo de um homem, ele é considerado profissional e preocupado com o bom funcionamento da empresa. Mulheres podem ser firmes e profissionais ao mesmo tempo em podem ou não menstruar. No fim das constas, isso não deveria ser um critério na hora de atestar a qualidade de uma mulher, seja no ambiente de trabalho ou em qualquer outra situação.

Uma mulher com raiva é uma mulher com raiva, uma mulher triste é uma mulher triste, ainda que tenha influência sobre isso, a TPM não é a única causa dos sentimentos nas mulheres. Mulheres sentem coisas todos os dias, independentemente da situação de seu ciclo menstrual.

Está na hora de parar de reproduzir discursos tão arcaicos. As mulheres não são loucas guiadas por seus hormônios. Mulheres, assim como os homens, são seres racionais que passam por situações que despertam diversas emoções ao longo do dia. Diminuir essas emoções diminui a mulher como ser humano, e mulheres não devem ser diminuídas.

Fontes:

A Glória Inesperada

23 de março de 2018


POR ENZO KFOURI

JUCA 2014: Após campanha espetacular no vôlei feminino, o esporte na PUC-SP nunca mais seria o mesmo.



 Times da PUC-SP e do Mackenzie se cumprimentam após o confronto válido pelas semifinais no JUCA de 2014. Fonte: Atlética de Comunicação da PUC-SP

Ideais, modos de pensar e estruturas totalmente diferentes. Localização próxima. Tentar explicar para pessoas de fora a rivalidade entre PUC-SP e Mackenzie pode ser extremamente difícil, mas o fato é que as duas maiores universidades particulares de São Paulo sempre tiveram uma rixa muito grande, dentro e fora das quadras, no vôlei e em outras modalidades. Quando se trata de JUCA, a rivalidade aumenta.

Os quatro melhores dias do ano abrem espaço para disputas que a cada ano se tornam mais e mais acirradas. Em 2014 não foi diferente. Naquele ano, o time feminino de vôlei da PUC contava com um dos times mais fortes de todos os tempos, com veteranas que já jogavam juntas desde 2012 e bixetes com raça e vontade de vencer. “O time já era forte e completo, tínhamos um técnico que nos acompanhava havia um tempo e, bem nesse ano, entraram cinco meninas novas, o que foi muito importante”, conta a então vice-presidente da atlética e veterana do time, Bruna Rebouças.

Com o início do semestre, os treinos foram acontecendo, e, a partir disso, o time foi se entrosando e se desenvolvendo cada vez mais. “Começamos a treinar sem nenhuma expectativa, só queríamos ter o melhor desempenho possível no JUCA. Não havíamos estipulado nenhuma meta”, continua Rebouças.

Time de vôlei feminino da PUC. Fonte: Atlética de Comunicação da PUC-SP


Para Sarah Lucena, bixete daquele ano, a equipe não era a favorita: “Mesmo com um time forte, sabíamos que não seríamos as favoritas, porque a PUC-SP nunca é. Em contrapartida, sabíamos que tínhamos potencial e que iríamos lutar até o fim e tentar vencer de qualquer jeito. Para mim, acho que o importante não é ser favorito, mas surpreender o outro time dentro de quadra. Os melhores jogos são os que resultam em viradas inesperadas”.

Entretanto, com o chaveamento, a falta de expectativa deu voz a metas muito possíveis. “Quando saíram os confrontos nos animamos. Nosso primeiro jogo era contra a PUCCAMP, um time que não tem muita tradição, diferente do Mackenzie, para quem havíamos perdido na estreia nos últimos dois JUCAs, conta a vice presidente da atlética. “A partir desse momento a expectativa não estava mais no primeiro jogo, mas na semifinal. No chaveamento após o primeiro jogo poderíamos pegar o Mackenzie, que provavelmente passaria de fase. Isso significava que as enfrentaríamos de novo, mas dessa vez seria diferente, o time todo estava engasgado com as eliminações nos JUCAs de 2012 e 2013”, completa.

De malas prontas para Registro, cidade no interior de São Paulo com pouco mais de 53 mil habitantes e sede dos jogos daquele ano, o time embarcou em uma jornada que mudaria tudo. Contra a PUCCAMP não houve novidade, o time atropelou as meninas do interior por 2 sets a 0 com parciais elásticas. Para Dora Abrahão, bixete de 2014, foi uma boa estreia em competições: “Foi um jogo muito tranquilo e importante pra gente se adaptar e se conhecer. O legal é que após o primeiro jogo eu comecei a me sentir realmente parte do time e nós crescemos muito.”

Com a semifinal garantida, vinha então o jogo decisivo: Perdizes X Consolação. Seria esse jogo a terceira eliminação seguida para o time da Maria Antônia ou a tão esperada revanche? “A partir daquele momento era uma questão de raça e de honra ganhar a partida, era uma questão de a gente mostrar a nós mesmas que era possível. Nós não tínhamos a metade dos incentivos ou da estrutura delas, mas tínhamos o dobro da vontade”, relata Lucena.

“A gente sabia que elas eram fortes, que como conjunto elas eram muito boas, mas estávamos muito mais pensando na gente e no que tudo significava do que tentar analisar friamente qual time era melhor”, diz Dora. “Eu não conseguia entender o sentimento que as meninas tinham a respeito do que tudo representava até uma hora antes do jogo, quando nosso técnico nos chamou pra conversar e nos mostrou um vídeo de várias pessoas nos encorajando, contando as histórias da rivalidade contra o Mackenzie e de como o que a gente estava prestes a fazer era muito importante”, continua.

Time e técnico reunidos antes da semifinal. O resultado do jogo mudaria a modalidade para sempre. Fonte: Atlética de Comunicação da PUC-SP

Para analisar o que foi o jogo e tudo o que envolvia, talvez seja mais fácil fazer uma analogia com o jogo Brasil x Rússia, válido pelas quartas de final do vôlei feminino nos Jogos Olímpicos de Londres em 2012. Para se entender o contexto, a seleção brasileira havia chegado àquele jogo após uma sufocante primeira fase: um mero 4º lugar, alcançado após uma derrota por 3x0 para a Coréia do Sul e uma vitória magra, por Tie-break contra a Turquia. Enquanto isso, as russas, que já haviam eliminado o Brasil na semifinal das Olimpíadas de Atenas e nas finais dos mundiais de 2006 e 2010, viviam um ótimo momento na competição, passando por uma primeira fase com cinco vitórias em cinco jogos.

Aquele jogo era muito mais do que uma vaga nas semifinais, era uma oportunidade de tirar o grito da garganta e afastar todos os fantasmas, exatamente o que foi a semifinal do JUCA 2014. No jogo contra a Rússia, parciais apertadas, ponto lá, ponto cá. No final, um tie break de tirar o fôlego, com seis match points para as europeias, todos tirados com maestria pelas brasileiras. Após o ataque de Fabiana e o apito final, alívio, (muito) choro e felicidade.

A partida contra o Mackenzie foi tudo isso. Rivalidade histórica, o fantasma das eliminações passadas e qualidade técnica extrema. Cada bola era definitiva e cada ponto aumentava a expectativa da torcida. Um ponto lá, um ponto cá. 1º set nosso, 2º set delas. Tie-break. “Fomos pro 3º set pensando que precisávamos ganhar o jogo, não havia outro jeito de sair da quadra sem ser com a vitória. Acho que tudo funcionou porque todas acreditavam muito nisso”, diz Rebouças.

“Eu defendi muitas bolas e cada defesa que eu fazia eu me sentia mais confiante. Realmente foi o jogo mais disputado da minha vida”, conta Dora, “Eu lembro muito do último ponto, estava 14x13 pra gente e acho que nunca senti algo tão bom quanto ver aquela última bola caindo no chão do Mackenzie, foi uma coisa surreal”, explica.


Torcida cantando e apoiando o time durante o jogo. Fonte: Atlética de Comunicação da PUC-SP

“A torcida estava enlouquecida, nunca vi a bateria tocando daquele jeito. Quando o jogo finalizou, as meninas caíram no chão, todas ficaram muito emotivas e foi uma das experiências mais gratificantes da minha vida”, relata Sarah. “Foi depois daquele jogo que eu e outras meninas do time resolveram entrar para outros esportes e pra Atlética, onde virei Diretora Geral de Esportes e depois Vice-Presidente. ”, completa.


Comemoração entre o time e a torcida após uma vitória que entraria para a história. Fonte: Atlética de Comunicação da PUC-SP

Com a vitória e a vaga inédita na final, o time colocou a PUC no mapa do vôlei feminino. “A Pontifícia passou a ser respeitada e temida na modalidade e o time ganhou muita confiança. Depois de vencer aquela partida conseguimos uma vaga na NDU, onde conseguimos feitos interessantes, como ganhar da Medicina da USP, conta Lucena. “Acho que o maior legado disso tudo foi que nós conseguimos mostrar que não era só o Cachorro (futebol de campo) que merecia atenção. Mostramos que com esforço e vontade os outros esportes também poderiam chegar lá”, completa.  

Menina(s) de Ouro

21 de março de 2018

POR ENZO KFOURI


Fanny Durack. Vencedora da prova dos 100m livres da natação nos Jogos Olímpicos de Estocolomo em 1912. Teve de bancar sua própria ida porque o governo australiano achava uma perda de dinheiro enviar mulheres para competir. Theresa Weld. Medalhista de bronze na patinação artística na Antuérpia em 1920. Foi criticada por um dos jurados, pois suas manobras eram consideradas “impróprias para uma dama”. Joan Benoit.  Campeã olímpica da maratona feminina em Los Angeles 1984 quando acreditava-se que as mulheres não eram capazes de competir em provas longas de corrida.

Três nomes pouco conhecidos, mas que possuem uma grande importância para o esporte mundial pelas barreiras por elas rompidas. Em um ambiente predominantemente ocupado por homens, o que vemos nessas e em outras mulheres são exemplos da luta diária pela equidade de gênero no esporte de alto rendimento e também fora dele.

Andreia Bandeira (Vermelho) em disputa com Atheyna Bylon (Azul) pela categoria de até 75 kg do boxe feminino na Rio 2016. Modalidade feminina entrou para o programa olímpico em 2012.  Fonte: Saulo Cruz/ Exemplus/ COB


Como muitos já sabem, os Jogos Olímpicos no formato que temos hoje é inspirado nos Jogos Panatenaicos, ou Jogos Olímpicos da Antiguidade, que eram realizados na Grécia Antiga no santuário de Olímpia, em homenagem a Zeus. Era um evento religioso, que não podia ser disputado nem assistido por mulheres, sendo a única presença feminina permitida a das Sacerdotisas, as “mensageiras dos deuses” que traziam boa sorte aos competidores e entregavam as coroas de oliveira aos campeões.

Essa visão ultrapassada seguiu viva no renascimento do espírito olímpico nos primeiros jogos da modernidade em 1896, que ocorreu a partir da iniciativa do francês Pierre de Fredy (Barão de Coubertin). Na época acreditava-se que os Jogos eram “coisas de homem” por motivos culturais, antropológicos e, principalmente, físicos. A verdade é que a mulher ainda era vista como sexo frágil, havendo a crença de que o sexo feminino não possuía capacidade física para disputar e aguentar competições que tivessem qualquer contato físico.

Para protestar contra essa ideia, a grega Stamata Revithi acabou realizando o percurso da maratona de 40km um dia após a prova masculina dos jogos desse mesmo ano. No final, conquistou um tempo inferior a alguns homens que competiram oficialmente, o que comprovou que as mulheres tinham capacidade para competir se quisessem.

Tabela 1: Ascendência da participação feminina nas Olimpíadas. Fonte: COI, 2011

Entretanto, a participação das mulheres só foi aceita em termos na edição seguinte, em 1900, quando elas podiam competir em dois esportes: o tênis e o golfe, por serem consideradas modalidades mais leves. Mesmo assim, eram consideradas atletas extra-oficiais que não recebiam medalhas ou coroas de oliveira, somente o certificado de participação.

Aos poucos o COI (Comitê Olímpico Internacional) foi permitindo a participação feminina, porém sempre em modalidades que não exigissem muito do físico. Tudo começou enfim a mudar em 1917, quando uma francesa chamada Alice Milliat cria a Federação Esportiva Feminina Internacional, que reivindica a entrada efetiva das mulheres nas competições de atletismo e de outras modalidades das Olimpíadas.

Para pressionar o COI, a federação acaba criando os Jogos Olímpicos Femininos em 1922, que são realizados novamente em 1926 e 1930. Devido ao sucesso de público, o esporte feminino ganha destaque e é integrado definitivamente ao programa oficial da entidade em 1936.

Maria Lenk em reportagem do jornal Sport Illustrado. A nadadora foi a primeira brasileira a competir pelo Brasil. Fonte: Sport Illustrado

No Brasil o desenvolvimento do esporte feminino também foi lento. A primeira atleta brasileira a competir pelo país foi a nadadora Maria Lenk, nos jogos de 1932 quando tinha apenas 17 anos. A partir disso a participação das brasileiras em olimpíadas continuou a crescer, mas ainda de maneira precária e com pouco incentivo.

As primeiras medalhas femininas saíram em Atlanta 1996, em que o vôlei de quadra, que contava com nomes como Fernanda Venturini, garantiu o bronze, o time de basquete de Hortência e “Magic” Paula, a prata, e o vôlei de praia de Jacqueline e Sandra Pires, o inédito ouro. As primeiras medalhas individuais vieram somente em Pequim 2008, quando Ketleyn Quadros faturou o bronze no judô e Maurren Maggi, o ouro pelo salto em distância.

Jacqueline (esquerda) e Sandra Pires (direita), campeãs do vôlei de praia, comemorando a primeira medalha de ouro feminina brasileira da história em Atlanta 1996. Fonte: Guia da Semana


Quando falamos sobre a participação da mulher no esporte, tem-se a falsa ideia de que o mundo já superou essa visão arcaica e que vivemos um período de plena igualdade. Talvez hoje não haja o impedimento da participação de uma atleta mulher somente por se acreditar que ela não seja capaz pelo esforço físico, entretanto vale ressaltar que foi somente nos jogos de Londres em 2012, com a entrada do boxe feminino, que as mulheres puderam competir em todas as modalidades disponíveis. É somente desde a penúltima edição das Olimpíadas que há uma real equidade de gênero e é por isso que muita coisa ainda tem que mudar. 

Felizmente já passamos da discussão sobre “ser permitido ou não uma mulher competir”, porém,  ainda há muito que contestar, como a falta de incentivo ao esporte feminino e as diferenças de salário entre atletas homens e mulheres. O que também é curioso é que por mais que hoje não se argumente sobre a participação das mulheres, parece que chegamos a outro embate: a participação de transexuais. Mas isso já é assunto para outro texto.

A influência da pornografia nas relações sexuais

20 de março de 2018

POR THAYS REIS


Campanha contra assédio e violência sexual. Foto: Faël Isthar

Com o advento da internet, a indústria pornográfica passou da dificuldade de acesso dos filmes e revistas para um compilado infinito de vídeos que pode ser acessado de qualquer lugar.. A sua grande disseminação entre jovens e adultos revela inúmeras consequências na saúde sexual e mental de muitos jovens, desde atitudes agressivas no sexo até a total ignorância do prazer feminino, que é absolutamente negado nos sites pornôs.

Segundo informações do Daily Mail com jovens britânicos (não há muitas pesquisas sobre o assunto no Brasil), a maioria dos adolescentes assiste “conteúdo adulto” pelo menos de duas a três vezes na semana. Dois terços de jovens entre 11 e 13 anos já viram pornografia online, cuja frequência aumenta junto com a idade: 75% dos jovens de 13 a 17 anos já viu esse tipo de conteúdo. Isso significa que, desde o início da adolescência, os jovens estão expostos a formas de sexo que não são, nem deveriam ser, a realidade. Mas uma forma de se relacionar que decorre de uma sociedade machista e violenta.

Como os filmes são feitos, obviamente, para o público masculino, os garotos são os mais afetados pelas visões de mundo expostas nos filmes. Na grande maioria, não se explora a sedução, as conversas, a conquista, que são partes fundamentais para um sexo saudável e consentido, o que não se trata de romantizar o sexo, mas de tratá-lo com verossimilhança sem objetificar os protagonistas da relação. 

A única coisa realmente valorizada nos vídeos é a penetração. Sem toques, sem beijos, sem olhares, sem nem mesmo mostrar o prazer que poderia advir daquilo. Apenas uma penetração mecânica onde o homem mal toca a mulher e ela. por sua vez, se preocupa apenas em não estragar seu cabelo e maquiagem, além de claro, fingir prazer.

Mais do que a frieza, a violência e a brutalidade no sexo são extremamente normalizadas, explorando a hierarquização dos gêneros, quando o homem está sempre em posição de dominação sobre a mulher submissa. O extremo desse domínio e violência estão presentes em categorias como “hardcore” e “estupro”, que tornam normal e corriqueiro um homem sentir prazer em ver uma mulher sendo abusada, enforcada, chorando ou coisas muito mais violentas que isso.

O quão problemático é sentir prazer com a dor do outro? Esse desejo de dominação e poder sobre mulheres advém, não de um fetiche individual, mas de uma sociedade machista e falocêntrica que prioriza o prazer do homem e sequer coloca em pauta o prazer feminino – exageradamente representado nos filmes com mulheres gritando, quando nem ao menos estão sentindo prazer – mas que idealiza sempre a mulher “boa de cama” que é submissa, não expressa seus desejos e vontades, mas que satisfaz todos os desejos masculinos.

Esse tipo de dominação é explorado não só em filmes pornográficos, mas em sucessos de bilheteria como “50 tons de cinza” que, para além do sadomasoquismo, aborda essa questão do limite entre prazer e dor, entre a vontade de realizar um fetiche pessoal e ao mesmo tempo levar em consideração o que a outra pessoa. E mais que isso, ensinar uma forma violenta de se relacionar com uma pessoa que não necessariamente gosta ou quer se relacionar dessa forma, mas se submete por acreditar em sentimento romântico que pode vir disso.
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Outro filme que aborda essa temática é Operação Red Sparrow, com protagonismo de Jennifer Lawrence na personagem Dominika, que se envolve com a espionagem russa e aprende a decifrar o que as pessoas desejam e conseguir o que quer através disso. Em uma das cenas, após Dominika sofrer uma tentativa de estupro, ela é convidada por sua superior a dar ao homem que tentou estuprá-la, o que ele deseja. Dominika tira suas roupas e se mostra disponível para ter relações sexuais. Quando ele não fica excitado, ela diz algo como “Ele não quer sexo, ele quer poder”. 

Mais assustador é quando a violência sai da tela do cinema para a vida real, em forma de violência no sexo com mulheres e suas representações, como a brutalidade ocorrida no Festival de Arte Eletrônica de Linz, em 2017, contra a boneca Samantha, um robô que imita uma mulher, com sensores em áreas erógenas e inteligência artificial, capaz de aprender frases e coisas que o possível parceiro goste.

Boneca Samantha. Reprodução: O Globo Blogs
Na visão da indústria pornográfica, Samatha é a personificação de “mulher perfeita”: calada, submissa, sem desejos ou vontades e utilizada apenas para realizar os desejos masculinos. E foi exatamente isso que participantes da feira fizeram, realizaram seus desejos: sujaram, humilharam e estupraram um robô que representa uma mulher. Quebraram seus dedos, pernas, arrancaram seus seios e a deixaram tão danificada, que seu corpo não poderia ser mais utilizado, apenas sua tecnologia interna.

Samantha se presta a imitar uma mulher real e a atitude de um grupo de homens que se sentiu à vontade para aplicar à boneca todo tipo de castigo que a lei severamente puniria se fosse aplicado a um ser humano, representa uma ameaça real às mulheres, já que só o que impede alguns homens de cometer esse tipo de violência é o medo e a culpa, mas aprenderam a ser violentos e a sentir prazer com isso. 

O comportamento violento nas relações sexuais não se dá apenas por conta da pornografia, mas por conta de uma sociedade machista e misógina, dentro da qual os conteúdos adultos estão inseridos e se mostram de forma clara e óbvia. Os vídeos e filmes não só incentivam o comportamento agressivo, mas normatizam a falta de respeito com as mulheres, a ignorância de seus desejos e vontades. 

Sem nem entrar no mérito dos perigos e violências sofridas pelos atores e, principalmente atrizes, que são 70% das protagonistas, que geralmente não chegam nem aos 50 anos, por conta de drogas, DST’s ou assassinatos. Nem na problemática de “teen” ser o tema mais pesquisado em sites de conteúdo adulto, em alusão a pedofilia. Nem aos estereótipos de homem branco dominador, adolescente branca ingênua e inexperiente, mulheres não-brancas como exóticas e “aventuras” sexuais e homens negros como “bem-dotados”. Ideias que são consumidas subjetivamente durante o conteúdo dos vídeos.

Esse tipo de conteúdo traz inúmeras violências, explícitas, implícitas e causam consequências tanto em quem está envolvido ativamente nessa indústria, atores e atrizes, como em quem a consome.

CRÔNICA: Sua mãe sabe que você assedia mulheres?

19 de março de 2018

Por Roberta Domingues

"Erosion"  Foto: Imani Diltz

Voltando para casa esse domingo, me deparo na rua com cinco caras parados do lado de um carro estacionado. Já é noite, e não tem muita gente passando. Está calor e por isso uso shorts. Mesmo acostumada com os olhares nojentos que sempre lançam, ainda me sinto exposta e vulnerável, então trato de apertar o passo.

Até que um dos caras grita "Ê lá em casa" e eu, ingenuamente, olho para trás. Minha resposta imediata foi falar "nossa, que desnecessário" bem alto. Mas agora que paro e penso, queria ter falado poucas e boas. Ou não. Sabe por quê? Porque mulheres morrem quando fazem isso.

Michelle levou pauladas na cabeça e ficou internada por quatro meses antes de morrer. Tatiane estava grávida quando levou cinco tiros e morreu na varanda da própria casa. Tiarah levou um tiro no rosto depois de falar para um homem parar de se esfregar nela. Tuğçe apanhou repetidamente na cabeça por um taco de baseball depois de defender duas adolescentes em um McDonald's, e ficou em coma por duas semanas antes de morrer. Esses são somente alguns exemplos de como não estamos seguras nas ruas, em restaurantes, e nem na nossa própria casa.


Foto: Imani Diltz

Quando penso na quantidade de assédio que nós mulheres sofremos todos os dias, não posso deixar de me perguntar: será que a mãe/esposa/irmã/amiga desses caras sabem que eles fazem isso? Imagino o que uma mãe faria se descobrisse o que seu filho faz na rua com outras mulheres. Que chamam de gostosa, não respeitam o espaço pessoal de cada um, que gozam em outras pessoas no transporte público, tiram fotos da calcinha de moças de saia, e ameaçam quem ousa responder. Que, na balada, pegam em meninas com força o suficiente para deixar marcas, forçam beijo, não sabem ouvir "não".

A violência -- tanto física quando psicológica -- contra a mulher é tão intrínseca na sociedade que, por algum motivo, homens se veem intitulados de tratar corpos alheios como bem entendem. Mas sabe o que me deixa mais confusa? É que, ao mesmo tempo que esses homens assediam mulheres nas ruas, fazem o maior escândalo quando alguém assedia a mulher deles.

Tudo bem assediar o outro, contanto que esse outro não seja minha propriedade.

Propriedade. Fala sério.


Foto: Imani Diltz

Também me deixa confusa que esse tipo de comportamento é incentivado nos meninos desde cedo; em contraste, para as meninas ensina-se a discrição. Acho que, em vez de falar para as meninas terem cuidado ao andar pela rua, seria melhor ensinar os meninos a não assediarem em primeiro lugar. Oras, se uma criança tem uma faca, é mais coerente tirar o objeto da mão dela do que ensinar as outras dez crianças como se defenderem.

Pergunte a todas as mulheres que você conhece, e tenho certeza que todas dirão que, em algum momento de suas vidas, foram assediadas -- em menor ou maior grau. Pode ser desde um "Ê lá em casa" até apertões na balada ou olhares desnecessários na rua. Agora, se você perguntar para os homens que conhece, também tenho certeza que dirão que "não, nunca, jamais assediei alguém na rua".

Coerência? Nunca nem vi.

Honestamente, queria dar algum tipo de solução para que isso não voltasse mais a acontecer. Infelizmente acho que no meu tempo de vida não vou ver o corpo da mulher ser respeitado, e não tratado como propriedade pública. Também acho utópico pensar que tal coisa deixaria um dia de existir.

Acho que só nos resta fechar a cara e rezar para que o cara que assovia para nós na rua não queira nos matar.

Ainda me sinto suja e violada.


Projeto "Erosion"

A repercussão de Pantera Negra e a representatividade

18 de março de 2018


Por Lara Sylvia

Pantera Negra: O filme do heroi africano já é a nona maior bilheteria dos EUA. Foto por: Omelete

O universo cinematográfico dos super-heróis sempre deixou a desejar na questão da representatividade de minorias, mas, felizmente, o cinema tem evoluído nesse quesito pouco a pouco. O filme Pantera Negra, lançado em fevereiro deste ano, se destacou pela quantidade de personagens negros e mulheres em papeis de grande importância e traz um ponto de vista diferente do que já foi mostrado pela Marvel até agora.

A história se passa em Wakanda, uma nação africana ficcional, um lugar que combina o passado e o presente com sua ancestralidade e tradições fortíssimas e a tecnologia mais avançada do mundo. Apesar de parecer mais um estereótipo da pobreza africana para quem vê a cidade de fora, Wakanda possui a maior concentração de Vibranium do mundo, o metal fictício já utilizado no escudo do Capitão América e no androide Visão.


Killmonger, o problemático vilão de Pantera Negra. Foto por: Omelete
  
O heroi Pantera Negra é, na verdade, o rei wakandano T'Challa que, após a morte de seu pai, precisa provar sua força como guerreiro e líder da nação. Porém, o filme surpreende e apresenta jornada dupla, já que a capacidade do vilão também precisa ser provada: Killmonger, como é chamado, levanta igualmente a problemática do racismo e do pertencimento cultural, fazendo com que a existência dele seja motivo de reflexão para todos e não uma presença maligna que deve ser combatida a qualquer custo.


A espiã Nakia e a princesa de Wakanda. Foto por: Omelete

A representação das mulheres negras wakandanas também é realmente bem feita no longa. As personagens de destaque, como a princesa e cientista Shuri, a espiã Nakia e a líder das Dora Milaje (a guarda real) Okoye, são independentes do rei T'Challa e tem suas vontades próprias e pequenos universos particulares muito bem construídas dentro da narrativa.

Mesmo tendo tão pouco tempo de estreia, o filme Pantera Negra, com seu humor inteligente (Shuri chamando o homem branco de colonizador, por exemplo, e fazendo ele se sentir desconfortável em sua nação) e sua trilha sonora incrível composta em sua quase totalidade por artistas negros, como  Kendrick Lamar e The Weeknd (que incluíram ritmos que lembra muito a África por si só),  já provocou uma imensa identificação em milhares de pessoas, principalmente crianças negras, que se sentiram representadas não só ao verem  um super-herói negro, forte e íntegro, mas ao verem também uma nação africana poderosa, inspiradora e empoderadora nas telonas. A atriz que interpreta Nakia,  Lupita Nyong'o, postou uma foto em seu instagram com crianças recriando os cartazes do filme: 

O ator negro veterano de Hollywood Will Smith, que costuma falar abertamente sobre questões sociais e políticas, disse em um vídeo postado em suas redes sociais: "Eu assisti o filme há alguns dias e, caraca, quase chorei. Vocês desafiaram e potencialmente destruíram muitas crenças e paradigmas falsos de longa data em Hollywood. Só quero parabenizar vocês. Estou orgulhoso. Estou animado [...]". Ele termina o vídeo fazendo a saudação de Wakanda.

Como (não) criar um menino

16 de março de 2018

POR LARISSA COELHO

Tão banais na infância, frases como "você chora como uma menininha", são reflexos de uma sociedade que impõe aos meninos um modelo de masculinidade baseado na negação do feminino. Ora, um homem não chora. Se chora como uma menina, pior.

Da série "Consolação" do fotógrafo Achim Lippoth, uma examinação da vida em família e dos momentos emocionantes em família. Foto: Achim Lippoth

A feminilidade tida como um sinal de fraqueza e submissão, faz com que qualquer traço dessa qualidade seja prontamente afastado desde muito cedo, seja por pressão dos pais, dos colegas e até mesmo da cultura em que a criança é imersa. Os meninos são, dessa maneira, pressionados a provar e afirmar sua masculinidade a todo tempo, quase sempre por meio dos esteriótipos do modelo "macho" de homem: a violência, a dominação, a coragem e a insensibilidade.

Construindo socialmente a masculinidade

Quando pensamos nos termos "feminino" e "masculino" e em suas definições, caímos na binaridade e nos estereótipos. A feminilidade frequentemente caracterizada pela submissão, sensibilidade e fraqueza. O masculino, por sua vez, é caracterizado como o completo oposto. Dois pólos separados por um abismo, no qual a combinação de tais características é impossível.

Confunde-se o modelo biológico do masculino e do feminino, isto é, se o bebê nasce com os cromossomos XX ou XY, com a identidade sexual adquirida pelo individuo. Desde seu nascimento, a criança é exposta à hiperfeminilização e a hipermasculinização por meio da binaridade, quer dizer, a divisão em dois de tudo aquilo que se deve caracterizar como "coisa de homem" e "coisa de mulher". Desde as cores (azul e rosa) até os brinquedos (utensílios domésticos e bonecas para meninas e carrinhos e arminhas para meninos).

Foto: Achim Lippoth

Tais divisões não são naturais. Não nascem conosco. São criadas, aperfeiçoadas e impostas pela cultura e pela sociedade. O próprio conceito de infância é uma construção social. Obviamente, crianças sempre existiram, mas o que entendemos por infância é algo surgido recentemente na história. Basta lembrar que muitos de nós tiveram avós que trabalharam na roça desde muito cedo e até mesmo se casaram muito cedo, com 14, 15 anos. Idade que poderia ser menor, não estivesse o casamento ligado ao ato de engravidar.

No campo da cultura, nada é dado nem determinado, tudo é construído. E é através dessa construção social que a masculinidade se dá por meios tortos, o machismo é enraizado e o desprezo pelo feminino é ensinado desde cedo, como solução para o que é ser homem.

A rejeição do feminino e o ódio as mulheres

Um menino é ensinado desde cedo, por meio de frases como "você joga como menina", "você chora como menina", que fazer qualquer coisa "como menina" é ruim, já que essas afirmações são constantemente associadas com algo negativo. Na vida adulta esse menino, que vagou em busca de sua masculinidade e encontrou exemplos violentos e insensíveis, adquire a personalidade do "macho alfa" e transforma a rejeição do feminino no ódio.

Esse ódio começa pela pornografia. No momento em que os meninos estão desenvolvendo suas preferências sexuais, eles são bombardeados por inúmeros exemplos de dominação e violência no ato sexual. Faz-se de tudo com o corpo da mulher. A educação sexual por meio da pornografia não só elimina completamente a noção do prazer feminino como normatiza a violência e a torna algo natural e desejável aos homens. Um exemplo disso, é a boneca sexual Samantha, "que foi tão severamente 'molestada' por um grupo de homens, que teve que ser enviada de volta para sua empresa com a necessidade desesperada de reparação e 'muito suja'". Para um menino, o pornô torna-se exemplo do que um homem realmente deve gostar e de como deve ser.

Foto: Achim Lippoth

Devemos repensar em nossas construções sociais e na maneira como elas afetam as relações. As noções de masculinidade e feminilidade precisam ser reconsideradas e reformuladas. O machismo que afeta tão severamente as mulheres tem suas raízes e reflexos nessas construções. Criemos meninos sensíveis, que choram e sentem medo. Mudemos o conceito do "macho alfa" e o tornemos o mais distante possível de nossa realidade. Só assim cortaremos o mal do machismo pela raiz. 

Arte e oficinas culturais na Estação Água Branca

14 de março de 2018

Por Guilherme Queiroz    

Arte na estação. Que tal aproveitar montagens de uma São Paulo antiga, daquela época em que o Rio Tietê era limpo e a cidade começava a receber milhares de imigrantes da Europa?

Nas paredes da Estação Água Branca, da Linha 7 Rubi, alguns lambes estão colados na parede, contando o passado do bairro com o mesmo nome da estação, e também da Freguesia do Ó, que fica  atravessando a ponte mais próxima da Marginal Tietê.

A exposição "Ó: Caminho, Estrada Avenida" contou com o material do Acervo do Santa Marina Atlético Clube. Mas o que torna os lambes colados na parede da estação uma exposição artística, e não fotográfica? Gilberto Tomé, autor da intervenção, remontou as fotos, mesclando elementos gráficos, as fotos antigas e fotos atuais das regiões da Água Branca e da Freguesia.
Fonte

O artista tem um livro que leva o mesmo nome da exposição, e os 30 lambes que estão expostos na estação são algumas das montagens presentes no mesmo.

Mas não acaba por aí, além da exposição, vários eventos culturais estão sendo realizados desde fevereiro ao redor da Água Branca. Oficinas de arte, desenho, caminhadas, rodas de conversa e outros eventos estão incluídos na programação, que você pode conferir no final desse post. 

 Mas o que existe de tão relevante nesses dois bairros que são tema do trabalho de Tomé? A região da Água Branca é importante por estar relacionada ao desenvolvimento industrial paulistano. A Freguesia do Ó foi fundada basicamente pelo bandeirante Manuel Preto, que explorava a região no começo do século XVII. Preto ergueu uma capela que deu origem a atual Paróquia Nossa Senhora do Ó, que hoje é rodeada por vários barzinhos e pelo Frangó, dono de uma das melhores coxinhas de São Paulo. 

Comilanças a parte, com o desenvolvimento da região, foi construída uma estrada de acesso ao outro lado do Rio Anhembi, como era conhecido o trecho do Tietê que passa próximo a Freguesia, conhecido como caminho de Manuel Preto. Mais tarde, passaria a se chamar Avenida Santa Marina, que permanece com o mesmo nome até hoje. Em uma parte dessa avenida cruzaria a Estrada de Ferro Santo-Jundiaí (atual Linha 7 Rubi da CPTM), e uma estação seria erguida, a Estação Água Branca 

Com a chegada da linha de trem, imigrantes foram a traídos para a região, e também investimentos. A Vidraria Santa Marina foi construída no final do século XIX, o que acelerou o crescimento da região. A fábrica existe até hoje. A Água Branca faz parte do antigo círculo industrial paulistano, o bairro é onde surgiu o complexo  de Francisco Matarazzo, que foi o primeiro parque industrial paulistano com uma noção verticalizada de produção. 
Uma ilustração do livro de Tomé que contém uma foto das Indústrias Matarazzo atualmente. Fonte.

Parte dessa história é contada na exposição, que reúne fotos também dos antigos operários dessas indústrias, somente as Indústrias Matarazzo chegaram a empregar 6% da população de São Paulo.
   
Programação que será realizada no galpão da Rua Carijós nº 360, ao lado da estação: 
Oficinas abertas de desenho
1, 8 e 15 de março
• das 15h às 18h:  Oficinas abertas de desenho, com Gilberto Tomé – “Desenhar a rua, desenhar na rua” –, abertas ao público, sem necessidade de prévia inscrição.

Ação “Faço seu retrato (cego) se você fizer o meu”
16 de março
• a partir das 16h: ação de rua proposta por Ana Paula Francotti a qualquer pessoa que aceitar o desafio de desenhar o seu rosto, sem olhar para o papel, ao mesmo tempo em que ela desenha o rosto da pessoa, da mesma forma.

Primeira exposição de um dia
10 de março, sábado
• das 11h às 18h:  ”Cortes, matrizes e estampas”, gravuras de Paula Escobar Gabbai – com trabalhos que se relacionam com o tema da paisagem da cidade de São Paulo.

Expedição 2 X 1/2 LÉGUA
(ou a forma mais difícil de se visitar uma exposição)
17 de março, sábado, a partir das 7hs
15 vagas
• Com orientação de Renato Hofer, a caminhada foi pensada como um processo de apropriação da cidade, visando estimular seus participantes para a visitação da exposição Ó: Caminho, Estrada, Avenida. Através do caminhar pretende-se levantar questões sobre a distância real e distância afetiva nas cidades, as barreiras visíveis e invisíveis que delimitam nossos percursos e o direito ao espaço público. O ponto de encontro, local de fácil acesso por transporte público, será anunciado aos participantes por e-mail no dia anterior à caminhada. Inscrições e informações: travessiaurbana@gmail.com

Segunda exposição de um dia
17 de março, sábado
• das 11h às 18h: Exposição de um dia –  ”Olhares outros” – com fotos, desenhos e imagens de Danilo de Paulo, Rose Steinmetz, James Conway, Paula Janovitch e Renato Hofer realizados a partir das Caminhadas Gráficas nº 1 e 2, que aconteceram durante o período de elaboração do projeto “Ó: Caminho, Estrada, Avenida”;

Roda de conversa sobre projetos urbanísticos na Água Branca 
e a paisagem da Freguesia do Ó
24 de março, sábado
• das 11h às 13h: roda de conversa com o arquiteto Paulo Barbosa, a respeito de projetos urbanísticos relacionados à Operação Urbana Consorciada Água Branca e com Leandro Silva, sobre a paisagem como patrimônio imaterial da Freguesia do Ó.



O Podcast também é das mulheres

13 de março de 2018


POR ALINE REIS

O Podcast é um tipo de produção de conteúdo por áudio, que tem se tornado cada vez mais popular no Brasil. O primeiro podcast brasileiro surgiu em 2004, chamado Digital Minds, criado por Danilo Medeiros. Atualmente, o mais popular no Brasil é o Nerdcast, que fala sobre tecnologia e cultura pop e completou mais de 1 milhão de downloads por episódio em 2016. A duração dos episódios varia, sendo em média de 60 a 90 minutos.

De acordo com uma pesquisa realizada em 2014, aproximadamente só 13% do público ouvinte de podcasts é composta por mulheres. Temas como Humor e entretenimento são considerados os mais populares. É possível notar que tanto a esfera de assuntos abordados quanto o número de ouvintes dentro do universo de podcasts e dominada majoritariamente por homens, tornando difícil com que mulheres recebam algum destaque na produção dos programas ou sejam tratadas como público alvo. Mesmo aquelas que são convidadas para fazer parte de mesas não recebem suficiente espaço de fala, ou tem suas opiniões e vozes restringidas a temas considerados “femininos” ou de pautas feministas.

Pensando na importância de fomentar podcasts criados por mulheres, com convidadas - recorrentes ou não - e que falem sobre outras mulheres, Domenica Mendes, do Perdidos na Estante e Rodrigo Basso, do Covil de Livros, criaram o projeto #OPodcastÉDelas. A iniciativa começou em 2017 e segue em 2018 com sua segunda edição, a ideia é produzir e divulgar conteúdo sob a hashtag do projeto durante todo o mês de março, aumentando a participação feminina na podosfera. Os canais de podcast são incentivados a se inscreverem formalmente para receber o material de divulgação exclusivo aos participantes. Qualquer assunto é permitido, incluindo assim mulheres em temas que normalmente só recebem atenção quando discutidos por homens.

Logo do projeto #OPodcastÉDelas2018
Em conversa com O Articulista, Domenica explica como o projeto tem intenção de normatizar a presença de mulheres em conversas sobre qualquer temática. “Queremos mais mulheres falando sobre tudo. Absolutamente tudo! Sobre todo e qualquer assunto que ela tenha domínio, se sinta à vontade e confortável de falar”, conta.

O projeto gerou resultados e feedback de toda a podosfera. “A receptividade do público foi excelente e a receptividade da comunidade de podcasters também”, afirma. “Alguns programas gostaram tanto da ideia que criaram novos podcasts em seus sites, com novas propostas e já com equipes mistas ou femininas”, comemora a podcaster.

Todo o conteúdo da campanha pode ser encontrado no site oficial. Até o meio do mês de março já são quase 200 programas inscritos na campanha e mais de 50 episódios únicos lançados.

Canais de podcast produzidos por mulheres no Brasil

Felizmente, cada vez mais mulheres têm produzido conteúdo para podcast no Brasil. Os temas vão de cinema a cotidiano, passando por esquetes de humor e leituras de livros. Domenica Mendes e O Articulista destacam alguns programas que merecem ser ouvidos.

Organizado, apresentado e editado pela própria Domenica Mendes, o podcast fala sobre livros e adaptações para o cinema, série ou games. Além disso também são publicados episódios de interesse para novos escritores e escritoras.

Criado, comandado e apresentado por Priscila Armani, o podcast faz indicação de filmes e conteúdo audiovisual em geral. Os episódios são curtos em comparação com outros podcasts, tendo em torno de 15 a 30 minutos, sendo acessíveis para ouvintes em potencial que não estão acostumados com programas de 60 a 90 minutos.

Criado e apresentado por Brena, Cintia, Thais, Taianá e Riviane, o podcast conta sobre dia a dia e as experiências de cinco cearenses morando na Inglaterra.

Criado, comandado e apresentado por Grecia Baffa e Iole Melo, o podcast tem como objetivo apresentar e debater pautas de importância para o audiovisual.

Criado, comandado e apresentado por Juliana Wallauer e Cris Bartis, o Mamilos tem como objetivo tratar pautas de importância para a sociedade sob um olhar de empatia e respeito.

Fora os citados, é possível encontrar muitos outros podcasts, sobre os mais variados assuntos, que incluam mulheres nas mais diversas posições, seja na criação, produção ou como convidada. Escute mulheres, dê espaço de fala pra mulheres, produza para mulheres. Elas tem coisas maravilhosas para nos dizer.
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