A Glória Inesperada
POR ENZO KFOURI
JUCA
2014: Após campanha espetacular no vôlei feminino, o esporte na PUC-SP nunca
mais seria o mesmo.
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Times da PUC-SP e do Mackenzie se cumprimentam após o confronto válido pelas semifinais no JUCA de 2014. Fonte: Atlética de Comunicação da PUC-SP |
Ideais, modos de pensar e
estruturas totalmente diferentes. Localização próxima. Tentar explicar para
pessoas de fora a rivalidade entre PUC-SP e Mackenzie pode ser extremamente
difícil, mas o fato é que as duas maiores universidades particulares de São
Paulo sempre tiveram uma rixa muito grande, dentro e fora das quadras, no vôlei
e em outras modalidades. Quando se trata de JUCA, a rivalidade aumenta.
Os quatro melhores dias do
ano abrem espaço para disputas que a cada ano se tornam mais e mais acirradas.
Em 2014 não foi diferente. Naquele ano, o time feminino de vôlei da PUC contava
com um dos times mais fortes de todos os tempos, com veteranas que já jogavam
juntas desde 2012 e bixetes com raça e vontade de vencer. “O time já era forte
e completo, tínhamos um técnico que nos acompanhava havia um tempo e, bem nesse
ano, entraram cinco meninas novas, o que foi muito importante”, conta a então
vice-presidente da atlética e veterana do time, Bruna Rebouças.
Com o início do semestre, os
treinos foram acontecendo, e, a partir disso, o time foi se entrosando e se
desenvolvendo cada vez mais. “Começamos a treinar sem nenhuma expectativa, só
queríamos ter o melhor desempenho possível no JUCA. Não havíamos estipulado
nenhuma meta”, continua Rebouças.
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Time de vôlei feminino da PUC. Fonte: Atlética de Comunicação da PUC-SP |
Para Sarah Lucena, bixete
daquele ano, a equipe não era a favorita: “Mesmo com um time forte, sabíamos
que não seríamos as favoritas, porque a PUC-SP nunca é. Em contrapartida, sabíamos
que tínhamos potencial e que iríamos lutar até o fim e tentar vencer de
qualquer jeito. Para mim, acho que o importante não é ser favorito, mas
surpreender o outro time dentro de quadra. Os melhores jogos são os que
resultam em viradas inesperadas”.
Entretanto, com o
chaveamento, a falta de expectativa deu voz a metas muito possíveis. “Quando
saíram os confrontos nos animamos. Nosso primeiro jogo era contra a PUCCAMP, um
time que não tem muita tradição, diferente do Mackenzie, para quem havíamos
perdido na estreia nos últimos dois JUCAs, conta a vice presidente da atlética.
“A partir desse momento a expectativa não estava mais no primeiro jogo, mas na
semifinal. No chaveamento após o primeiro jogo poderíamos pegar o Mackenzie,
que provavelmente passaria de fase. Isso significava que as enfrentaríamos de
novo, mas dessa vez seria diferente, o time todo estava engasgado com as
eliminações nos JUCAs de 2012 e 2013”, completa.
De malas prontas para
Registro, cidade no interior de São Paulo com pouco mais de 53 mil habitantes e
sede dos jogos daquele ano, o time embarcou em uma jornada que mudaria tudo.
Contra a PUCCAMP não houve novidade, o time atropelou as meninas do interior
por 2 sets a 0 com parciais elásticas. Para Dora Abrahão, bixete de 2014, foi
uma boa estreia em competições: “Foi um jogo muito tranquilo e importante pra
gente se adaptar e se conhecer. O legal é que após o primeiro jogo eu comecei a
me sentir realmente parte do time e nós crescemos muito.”
Com a semifinal garantida, vinha
então o jogo decisivo: Perdizes X Consolação. Seria esse jogo a terceira
eliminação seguida para o time da Maria Antônia ou a tão esperada revanche? “A
partir daquele momento era uma questão de raça e de honra ganhar a partida, era
uma questão de a gente mostrar a nós mesmas que era possível. Nós não tínhamos a
metade dos incentivos ou da estrutura delas, mas tínhamos o dobro da vontade”,
relata Lucena.
“A gente sabia que elas eram
fortes, que como conjunto elas eram muito boas, mas estávamos muito mais
pensando na gente e no que tudo significava do que tentar analisar friamente
qual time era melhor”, diz Dora. “Eu não conseguia entender o sentimento que as
meninas tinham a respeito do que tudo representava até uma hora antes do jogo,
quando nosso técnico nos chamou pra conversar e nos mostrou um vídeo de várias
pessoas nos encorajando, contando as histórias da rivalidade contra o Mackenzie
e de como o que a gente estava prestes a fazer era muito importante”, continua.
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Time e técnico reunidos antes da semifinal. O resultado do jogo mudaria a modalidade para sempre. Fonte: Atlética de Comunicação da PUC-SP |
Para analisar o que foi o
jogo e tudo o que envolvia, talvez seja mais fácil fazer uma analogia com o
jogo Brasil x Rússia, válido pelas quartas de final do vôlei feminino nos Jogos
Olímpicos de Londres em 2012. Para se entender o contexto, a seleção brasileira
havia chegado àquele jogo após uma sufocante primeira fase: um mero 4º lugar,
alcançado após uma derrota por 3x0 para a Coréia do Sul e uma vitória magra,
por Tie-break contra a Turquia. Enquanto isso, as russas, que já haviam
eliminado o Brasil na semifinal das Olimpíadas de Atenas e nas finais dos
mundiais de 2006 e 2010, viviam um ótimo momento na competição, passando por
uma primeira fase com cinco vitórias em cinco jogos.
Aquele jogo era muito mais
do que uma vaga nas semifinais, era uma oportunidade de tirar o grito da
garganta e afastar todos os fantasmas, exatamente o que foi a semifinal do JUCA
2014. No jogo contra a Rússia, parciais apertadas, ponto lá, ponto cá. No
final, um tie break de tirar o fôlego, com seis match points para as europeias,
todos tirados com maestria pelas brasileiras. Após o ataque de Fabiana e o
apito final, alívio, (muito) choro e felicidade.
A partida contra o Mackenzie
foi tudo isso. Rivalidade histórica, o fantasma das eliminações passadas e
qualidade técnica extrema. Cada bola era definitiva e cada ponto aumentava a
expectativa da torcida. Um ponto lá, um ponto cá. 1º set nosso, 2º set delas.
Tie-break. “Fomos pro 3º set pensando que precisávamos ganhar o jogo, não havia
outro jeito de sair da quadra sem ser com a vitória. Acho que tudo funcionou
porque todas acreditavam muito nisso”, diz Rebouças.
“Eu defendi muitas bolas e cada
defesa que eu fazia eu me sentia mais confiante. Realmente foi o jogo mais
disputado da minha vida”, conta Dora, “Eu lembro muito do último ponto, estava
14x13 pra gente e acho que nunca senti algo tão bom quanto ver aquela última
bola caindo no chão do Mackenzie, foi uma coisa surreal”, explica.
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Torcida cantando e apoiando o time durante o jogo. Fonte: Atlética de Comunicação da PUC-SP |
“A torcida estava
enlouquecida, nunca vi a bateria tocando daquele jeito. Quando o jogo
finalizou, as meninas caíram no chão, todas ficaram muito emotivas e foi uma
das experiências mais gratificantes da minha vida”, relata Sarah. “Foi depois
daquele jogo que eu e outras meninas do time resolveram entrar para outros
esportes e pra Atlética, onde virei Diretora Geral de Esportes e depois
Vice-Presidente. ”, completa.
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Comemoração entre o time e a torcida após uma vitória que entraria para a história. Fonte: Atlética de Comunicação da PUC-SP |
Com a vitória e a vaga
inédita na final, o time colocou a PUC no mapa do vôlei feminino. “A Pontifícia
passou a ser respeitada e temida na modalidade e o time ganhou muita confiança.
Depois de vencer aquela partida conseguimos uma vaga na NDU, onde conseguimos
feitos interessantes, como ganhar da Medicina da USP, conta Lucena. “Acho que o
maior legado disso tudo foi que nós conseguimos mostrar que não era só o Cachorro
(futebol de campo) que merecia atenção. Mostramos que com esforço e vontade os
outros esportes também poderiam chegar lá”, completa.
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