Como (não) criar um menino
POR LARISSA COELHO
Tão banais na infância, frases como "você chora como uma menininha", são reflexos de uma sociedade que impõe aos meninos um modelo de masculinidade baseado na negação do feminino. Ora, um homem não chora. Se chora como uma menina, pior.
A feminilidade tida como um sinal de fraqueza e submissão, faz com que qualquer traço dessa qualidade seja prontamente afastado desde muito cedo, seja por pressão dos pais, dos colegas e até mesmo da cultura em que a criança é imersa. Os meninos são, dessa maneira, pressionados a provar e afirmar sua masculinidade a todo tempo, quase sempre por meio dos esteriótipos do modelo "macho" de homem: a violência, a dominação, a coragem e a insensibilidade.
Construindo socialmente a masculinidade
Quando pensamos nos termos "feminino" e "masculino" e em suas definições, caímos na binaridade e nos estereótipos. A feminilidade frequentemente caracterizada pela submissão, sensibilidade e fraqueza. O masculino, por sua vez, é caracterizado como o completo oposto. Dois pólos separados por um abismo, no qual a combinação de tais características é impossível.
Confunde-se o modelo biológico do masculino e do feminino, isto é, se o bebê nasce com os cromossomos XX ou XY, com a identidade sexual adquirida pelo individuo. Desde seu nascimento, a criança é exposta à hiperfeminilização e a hipermasculinização por meio da binaridade, quer dizer, a divisão em dois de tudo aquilo que se deve caracterizar como "coisa de homem" e "coisa de mulher". Desde as cores (azul e rosa) até os brinquedos (utensílios domésticos e bonecas para meninas e carrinhos e arminhas para meninos).
Tais divisões não são naturais. Não nascem conosco. São criadas, aperfeiçoadas e impostas pela cultura e pela sociedade. O próprio conceito de infância é uma construção social. Obviamente, crianças sempre existiram, mas o que entendemos por infância é algo surgido recentemente na história. Basta lembrar que muitos de nós tiveram avós que trabalharam na roça desde muito cedo e até mesmo se casaram muito cedo, com 14, 15 anos. Idade que poderia ser menor, não estivesse o casamento ligado ao ato de engravidar.
No campo da cultura, nada é dado nem determinado, tudo é construído. E é através dessa construção social que a masculinidade se dá por meios tortos, o machismo é enraizado e o desprezo pelo feminino é ensinado desde cedo, como solução para o que é ser homem.
A rejeição do feminino e o ódio as mulheres
Um menino é ensinado desde cedo, por meio de frases como "você joga como menina", "você chora como menina", que fazer qualquer coisa "como menina" é ruim, já que essas afirmações são constantemente associadas com algo negativo. Na vida adulta esse menino, que vagou em busca de sua masculinidade e encontrou exemplos violentos e insensíveis, adquire a personalidade do "macho alfa" e transforma a rejeição do feminino no ódio.
Esse ódio começa pela pornografia. No momento em que os meninos estão desenvolvendo suas preferências sexuais, eles são bombardeados por inúmeros exemplos de dominação e violência no ato sexual. Faz-se de tudo com o corpo da mulher. A educação sexual por meio da pornografia não só elimina completamente a noção do prazer feminino como normatiza a violência e a torna algo natural e desejável aos homens. Um exemplo disso, é a boneca sexual Samantha, "que foi tão severamente 'molestada' por um grupo de homens, que teve que ser enviada de volta para sua empresa com a necessidade desesperada de reparação e 'muito suja'". Para um menino, o pornô torna-se exemplo do que um homem realmente deve gostar e de como deve ser.
Devemos repensar em nossas construções sociais e na maneira como elas afetam as relações. As noções de masculinidade e feminilidade precisam ser reconsideradas e reformuladas. O machismo que afeta tão severamente as mulheres tem suas raízes e reflexos nessas construções. Criemos meninos sensíveis, que choram e sentem medo. Mudemos o conceito do "macho alfa" e o tornemos o mais distante possível de nossa realidade. Só assim cortaremos o mal do machismo pela raiz.
Tão banais na infância, frases como "você chora como uma menininha", são reflexos de uma sociedade que impõe aos meninos um modelo de masculinidade baseado na negação do feminino. Ora, um homem não chora. Se chora como uma menina, pior.
![]() |
Da série "Consolação" do fotógrafo Achim Lippoth, uma examinação da vida em família e dos momentos emocionantes em família. Foto: Achim Lippoth |
A feminilidade tida como um sinal de fraqueza e submissão, faz com que qualquer traço dessa qualidade seja prontamente afastado desde muito cedo, seja por pressão dos pais, dos colegas e até mesmo da cultura em que a criança é imersa. Os meninos são, dessa maneira, pressionados a provar e afirmar sua masculinidade a todo tempo, quase sempre por meio dos esteriótipos do modelo "macho" de homem: a violência, a dominação, a coragem e a insensibilidade.
Construindo socialmente a masculinidade
Quando pensamos nos termos "feminino" e "masculino" e em suas definições, caímos na binaridade e nos estereótipos. A feminilidade frequentemente caracterizada pela submissão, sensibilidade e fraqueza. O masculino, por sua vez, é caracterizado como o completo oposto. Dois pólos separados por um abismo, no qual a combinação de tais características é impossível.
Confunde-se o modelo biológico do masculino e do feminino, isto é, se o bebê nasce com os cromossomos XX ou XY, com a identidade sexual adquirida pelo individuo. Desde seu nascimento, a criança é exposta à hiperfeminilização e a hipermasculinização por meio da binaridade, quer dizer, a divisão em dois de tudo aquilo que se deve caracterizar como "coisa de homem" e "coisa de mulher". Desde as cores (azul e rosa) até os brinquedos (utensílios domésticos e bonecas para meninas e carrinhos e arminhas para meninos).
![]() |
Foto: Achim Lippoth |
Tais divisões não são naturais. Não nascem conosco. São criadas, aperfeiçoadas e impostas pela cultura e pela sociedade. O próprio conceito de infância é uma construção social. Obviamente, crianças sempre existiram, mas o que entendemos por infância é algo surgido recentemente na história. Basta lembrar que muitos de nós tiveram avós que trabalharam na roça desde muito cedo e até mesmo se casaram muito cedo, com 14, 15 anos. Idade que poderia ser menor, não estivesse o casamento ligado ao ato de engravidar.
No campo da cultura, nada é dado nem determinado, tudo é construído. E é através dessa construção social que a masculinidade se dá por meios tortos, o machismo é enraizado e o desprezo pelo feminino é ensinado desde cedo, como solução para o que é ser homem.
A rejeição do feminino e o ódio as mulheres
Um menino é ensinado desde cedo, por meio de frases como "você joga como menina", "você chora como menina", que fazer qualquer coisa "como menina" é ruim, já que essas afirmações são constantemente associadas com algo negativo. Na vida adulta esse menino, que vagou em busca de sua masculinidade e encontrou exemplos violentos e insensíveis, adquire a personalidade do "macho alfa" e transforma a rejeição do feminino no ódio.
Esse ódio começa pela pornografia. No momento em que os meninos estão desenvolvendo suas preferências sexuais, eles são bombardeados por inúmeros exemplos de dominação e violência no ato sexual. Faz-se de tudo com o corpo da mulher. A educação sexual por meio da pornografia não só elimina completamente a noção do prazer feminino como normatiza a violência e a torna algo natural e desejável aos homens. Um exemplo disso, é a boneca sexual Samantha, "que foi tão severamente 'molestada' por um grupo de homens, que teve que ser enviada de volta para sua empresa com a necessidade desesperada de reparação e 'muito suja'". Para um menino, o pornô torna-se exemplo do que um homem realmente deve gostar e de como deve ser.
![]() |
Foto: Achim Lippoth |
Devemos repensar em nossas construções sociais e na maneira como elas afetam as relações. As noções de masculinidade e feminilidade precisam ser reconsideradas e reformuladas. O machismo que afeta tão severamente as mulheres tem suas raízes e reflexos nessas construções. Criemos meninos sensíveis, que choram e sentem medo. Mudemos o conceito do "macho alfa" e o tornemos o mais distante possível de nossa realidade. Só assim cortaremos o mal do machismo pela raiz.
Nenhum comentário
Postar um comentário