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Velozes e Furiosos: Onde a velocidade encontra obstáculos


Por Enzo Kfouri


Anitta cantando o hino nacional brasileiro. Despedida de Felipe Massa. Hamilton em atuação brilhante após largar em último. Vitória de Vettel. Mesmo com eventos que geraram grande repercussão no Grande Prêmio do Brasil de Formula 1 2017, ocorrido nesse último final de semana (10 a 12/11), o que mais chamou a atenção para os holofotes internacionais foi justamente algo que não estava no roteiro: o assalto a funcionários da Mercedes, na saída do autódromo.

 Na noite de sexta (10), vans da equipe de Hamilton e um carro da Federação Internacional de Automobilismo (FIA) foram abordados por assaltantes armados nos arredores do Circuito de Interlagos, quando os funcionários deixavam o autódromo, após os treinos livres. Os bandidos pararam o carro que levava os mecânicos da Mercedes, enquanto uma van da Williams, logo atrás, testemunhou o fato. Os assaltantes também tentaram abordar um veículo blindado com funcionários da FIA, mas não obtiveram sucesso.

Hamilton chega na quarta posição após largar em último e tem uma grande atuação no GP do Brasil. Fonte: Sebastião Moreira/EFE

Apesar de ter chocado a imprensa internacional, esse está longe de ser um caso isolado. A região de Interlagos, na zona sul de São Paulo, é conhecida pela violência e dados do G1 mostram que, segundo a delegacia de Cidade Dutra, 48º DP, o bairro conta com 764 casos de roubo somente neste ano, entre janeiro e setembro, o equivalente a quase três incidentes por dia.

“Alguns integrantes da minha equipe foram abordados por homens armados ontem à noite quando deixavam o circuito aqui no Brasil. Tiros foram disparados, a armas foram apontadas para a cabeça de alguns. Isso é tão perturbador para se ouvir. Por favor, rezem pelos meus companheiros que são profissionais e estão abalados”, contou Lewis Hamilton, campeão da temporada 2017 com duas rodadas de antecedência, em seu Twitter, para mais de cinco milhões de seguidores. "Isso acontece todos os anos. A Fórmula 1 e as equipes precisam fazer mais, não tem desculpas!”, afirmou o piloto.

Mesmo com o reforço policial da Secretaria de Segurança Pública depois desse episódio lamentável, mais três tentativas de assalto foram registradas nesse fim de semana, sendo uma delas a uma van da Pirelli nesse domingo (12). Com isso, a empresa italiana em decisão com a FIA, informou, também via Twitter, o cancelamento de testes que faria na pista após a corrida. 

Por mais que a segurança local tenha evitado que outros casos ocorressem durante o final de semana, o perigo na região ainda é eminente e o drama da falta de segurança continua sendo vivido diariamente pelos moradores, que se tornam reféns no próprio bairro. Não são raros os assaltos a estabelecimentos comerciais e quem vive pela área acaba recorrendo a métodos que vão além do escasso policiamento, como a contratação de empresas de segurança motorizada. 

Palco do GP do Brasil de Fórmula 1, autódromo de Interlagos em imagem aérea. Fonte: Divulgação

Os assaltos, entretanto, não são os únicos problemas que assombram o GP de Interlagos. Sem patrocínio pelo segundo ano seguido e dependente exclusivamente da venda de ingressos para a obtenção de lucro, a etapa da Fórmula 1 no Brasil acumula um déficit de R$100 milhões. Neste ano, a Petrobras, que foi a apoiadora entre 2009 e 2015, voltou a dar dinheiro para a corrida, mas dessa vez para a empresa que gere o campeonato, a FOM (Formula One Management), e não a promotora da prova em São Paulo.

A Heineken é dona dos “naming rights” da corrida, mas o acordo também não dá dinheiro aos organizadores, pois a companhia é parceira global da F-1 e empresta seu nome a competições que não possuem um patrocinador. Já a Globo tem direito a algumas placas de publicidade ao redor da pista, mas negocia os espaços com os cotistas.

Outros parceiros da FOM, como a Emirates, Rolex e DHL também tem áreas destinadas a publicidade, em que podem deixar expostas duas marcas, porém os valores são repassados a televisão. A única receita, portanto, se mostra a venda de ingressos, que atraem menos público a cada ano por seus preços estupidamente caros, uma vez que nem mesmo os produtos licenciados vendidos ao redor do autódromo entram na conta dos organizadores.

Lewis Hamilton em comemoração pelo tetracampeonato da Formula 1. Piloto ocnquistou o título com duas corridas de antecedência. Fonte: Sky Sports  

A cidade de São Paulo tem contrato com o GP do Brasil até 2020, mas a renovação do contrato já deve ter inicio no ano que vem. Os promotores do GP, contudo, ainda não sabem com quem vão negociar porque o prefeito João Doria planeja privatizar o autódromo em 2018. Por conta disso, a mudança de cidade após 2020 não se encontra totalmente descartada por quem promove o evento.

Para Hamilton, em entrevistas ao sair da prova, providências devem ser tomadas acerca da segurança no local: “Espero que o governo também veja isso como uma oportunidade. Não podemos olhar para isso apenas pelo lado negativo, mas procurar por uma solução. Espero que a segurança esteja melhor no próximo ano”. “Eu, definitivamente, acho que temos que correr aqui. Amo correr aqui, os fãs, a atmosfera, os aplausos, a energia que vem das arquibancadas”, completou o tetracampeão mundial. 

4 comentários

  1. Bela explanação, parabéns, sabe que tens um fã e amigo. Abraço

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  2. Não é de se espantar que os assaltos repercutiram mais do que os eventos programados. São Paulo, por conta da ineficiência do Governo Estadual (atualmente sob o comando do insípido Sr. Geraldo Alckmin), responsável pela segurança pública da metrópole, vem sofrendo sistematicamente não só com a falta de segurança, como também, com os incontáveis atrasos no cronograma das obras públicas. Em se tratando de um governador eleito em primeiro turno com 60% dos votos válidos, a cidade vem se ressentindo de atenção proporcionalmente merecida.

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  3. Olá Mauricio! Realmente a situação está muito difícil na cidade e no país... vivemos um momento muito delicado de carência em todos os aspectos: educação, saúde, segurança e por aí vai. São Paulo tem um grande potencial e poderia estar fazendo frente com as grandes metrópoles do mundo, infelizmente insistimos no atraso! Vamos ver as próximas notícias para ver se algo muda no GP Brasil. Abraço!

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