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Centro efervescente de questões sociais é tema de exposição.

Por Thays Reis


Letreiro que da nome à exposição. Foto: divulgação.

Um emaranhado de críticas, admirações, beleza, caos, ódio, confusão. Localizada no mais novo Sesc 24 de Maio, a exposição “São Paulo não é uma cidade”, que estará em cartaz até 28 de janeiro de 2018, provoca inúmeros sentimentos em seus visitantes. Paulo Herkenhoff e Leno Veras, os curadores responsáveis, definem a exposição como um almanaque sobre a cidade, pela variedade de temas e formas de arte que compõe a exposição.

Uma leitura do centro de São Paulo a partir de diversas óticas, da arte, da arquitetura, do urbanismo, da indústria, de questões sociais, preconceitos, fatos. Mas, em meio a tantos temas, fica o questionamento: Se São Paulo não é uma cidade, é o que? Vilém Flusser, que viveu nos entornos por 32 anos, afirmou em 1988 que a terra da garoa não se encaixava na categoria “cidade”, porque, baseado em Barbara Freitag-Rouanet, não tinha os três espaços de cidade civilizada, que seriam o privado (a casa), o público (a praça) e o cultural (a igreja). O desenvolvimento econômico e o poder político teriam desenvolvido um estilo de vida “inautêntico”.

Mulher no terreno de café, no interior do estado de São Paulo. Fazenda São Manuel. Propriedade de Geremia Lunardelli. Foto: Jean Manzon

Sendo cidade ou sendo muito mais que isso, São Paulo é representada por meio de quadros que retomam a história da semana de arte de 22, lambe-lambes, cartazes de manifestações, fotografias sobre a expansão cafeeira, esculturas fortes sobre a escravidão, trechos do filme “Era o hotel Cambridge”, que aborda uma ocupação pelo MTST, além de questões ambientais do lixo, das enchentes, dos rios paulistanos que costumavam ser navegáveis, traumas políticos da ditadura com a certidão de óbito de Vladmir Herzog apontando asfixia por enforcamento e muitos outros recortes que deixaram marcas nessa cidade e a moldaram do jeito que ela é atualmente.
O auge da visitação ocorre em uma sala escura com um luminoso na porta escrito “odiolândia”. Lá dentro se encontra apenas um banco e logo começa um áudio com frases projetadas na parede. Ditos racistas, xenofóbicos, de preconceito contra gays, nordestinos, usuários de drogas e outras minorias. São de uma violência sem igual. E, ao contrário do que possa parecer, “odiolândia” é uma reunião de comentários deste ano, publicados em vídeos nas redes sociais sobre as ações da Prefeitura do Estado de São Paulo e do Governo do Estado de São Paulo na Cracolândia. Não só incentivam a violência policial contra os usuários, mas propõe medidas igualmente, ou mais agressivas com outras minorias.
Cada parte da exposição aborda um assunto diferente e possui um áudio com volume baixo ao fundo. Alguns são ruídos, outros são falas distantes que remontam o burburinho da cidade, alguns geram medo, incômodo, mas todos proporcionam uma experiência única de apreciação da arte, não só com os olhos, mas também com os ouvidos.
Serviço:
Exposição: "São Paulo não é uma cidade - invenções do centro", coletiva com curadoria de Paulo Herkenhoff e Leno Veras.
Datas e horários: Em cartaz entre os dias 19 de agosto de 2017 e 28 de janeiro de 2018. De terça a sábado, das 9h às 21h; domingos e feriados, das 9h às 18h. 
Local: Sesc 24 de Maio | Rua 24 de Maio, 109 - Centro, São Paulo.
Entrada livre e gratuita.

3 comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Amei a exposição e realmente causa uma sensação indescritível, de estranhamento, medo... mas principalmente tristeza pela forma como a falta de respeito pelas minorias se tornam tão normais em nosso cotidiano que por vezes dá-me a impressão de que os críticos são mais humanos que os criticados e que isso ocorre por anos, não só na nossa cidade, mas no mundo. Parabéns, Thays, pelo enfoque!

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    1. Realmente, é uma exposição muito forte e de muita crítica social. Isso gera inúmeros sentimentos. Fico feliz que você gostou da exposição e também do texto! Obrigada!

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