Um Caminho Sem Volta

Um Caminho Sem Volta

• 7 de março de 2018

Por Enzo Kfouri     

        

Nesta semana o drama do doping na Rússia ganhou um novo capítulo. Após o medalhista de bronze nas duplas mistas do curling e atleta russo, Alexander Krushelnitskiy, ter testado positivo para meldonium durante os Jogos Olímpicos de Inverno há duas semanas, o país volta novamente a ser o centro das atenções dos holofotes internacionais por conta do doping.

No caso, a mais nova bomba vem na forma da notícia de que a RusAf, a Federação Russa de Atletismo, pode ser banida permanentemente do quadro da IAAF, a Federação Internacional de Atletismo. Segundo esta, o Conselho da entidade concordou que, se as promessas feitas pelo país não forem cumpridas até a reunião de julho deste ano, a Rússia poderá ser desligada da organização de uma vez por todas.

Vale lembrar que todo o conflito envolvendo o doping se iniciou em novembro de 2015, quando foram divulgados os resultados de um relatório encomendado pela Wada, a Agência Mundial Antidoping, a respeito de um esquema de cobertura das fraudes amparado pelo próprio governo russo. 

Alexander Krushelnitskiy durante os jogos olímpicos de inverno deste ano. O atleta testou positivo para a mesma substância encontrada nas amostras da tenista Maria Sharapova. Fonte Reuters.

De lá para cá, o país enfrentou o banimento temporário nos mundiais de atletismo Indoor realizados em 2016 e 2018, no mundial a céu aberto de 2017 e nos Jogos Olímpicos de 2016, em que os atletas russos que competiram não puderam defender a bandeira da nação. Houve também restrições em outras modalidades e campeonatos, como a participação dos atletas nos Jogos Olímpicos de Inverno em PyeongChang, Coreia do Sul, que funcionou da mesma maneira que as competições já mencionadas.

É importante ressaltar que a RusAf e a própria Rússia estavam realizando progressos significativos em relação às fraudes e tudo indicava uma futura revogação dessa proibição, porém o problema não depende somente da  federação de atletismo local. Uma das condições para que o banimento permanente não ocorra é o Comitê Olímpico Russo, o Ministro do Esporte e a Rusada (Agência Antidoping Russa) reconhecerem e aceitarem publicamente as descobertas da investigação da Wada, o que pode não acontecer.

                                
Presidente da IAAF Sebastian Coe (esq) e o membro do conselho da entidade, Rune Andersen (dir). Fonte: Getty Images

O presidente do Comitê Olímpico nacional, Alexander Zhukov disse publicamente que não acatará a essa exigência, pois não concorda com algumas das afirmações do relatório, entre elas a de que o próprio estado tenha apoiado todo o sistema de fraude, o que segundo ele não aconteceu.  Isso tudo veio à tona em meio à retirada da suspensão do COI ao país, no dia 28 de fevereiro, que resultou na reinstalação da nação como membra da organização e enfraquece os argumentos e decisões da Wada, complicando ainda mais toda a situação.

Presidente do Comitê Olímpico Russo Alexander Zikhov. Fonte: Sputnik/ Evgeny Biyatov

Em meio a esse embate de reconhecer ou não a veracidade dos documentos entre as autoridades russas e a Wada, não se sabe ao certo o que ocorrerá. A verdade é que só o tempo dirá qual vai ser o futuro da nação no cenário esportivo mundial e qual será a resolução desse conflito que já dura mais de dois anos.

A reunião em julho revelará qual o desfecho desses capítulos tenebrosos da federação de atletismo e da história do esporte olímpico no país. Entretanto, até lá ainda ocorrerão os Jogos Paralímpicos de Inverno de PyeongChang, cujo comitê organizador (IPC) manteve a proibição sobre os atletas russos, e uma Copa do Mundo, realizada pela Rússia. Por ora, só resta aguardar.